Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

A arte de contar história

A arte de contar história

 

Por que contar histórias?

É um meio muito eficiente de transmitir uma idéia, de levar novos conhecimentos e de guardar tradições e ensinamentos. É um meio de resgatar a memória e as experiências vividas. Vários povos têm sua história transmitida oralmente por meio dos contadores de histórias. É o caso, por exemplo, do povo judeu, cuja história está narrada na Bíblia. Ao contarem as histórias, os contadores legaram às futuras gerações lições imensuráveis e cheias de significado para a vida.

 

Contar uma história não deve ser visto como um momento para se passar o tempo ou apenas para se cumprir a lição do dia, pois ao contar uma história, o/a contador/a possibilita que os/as ouvintes façam ligações com a vida e tirem preciosos ensinamentos. Otilia Chaves (1952, p.33) diz que "A história grava-se indelevelmente em nossa mente e seus ensinos passam ao patrimônio moral de nossa vida. Ao depararmos com situações idênticas, somos levados a agir de acordo com a experiência que inconscientemente, já vivemos na história".

Para quem contar histórias?

As crianças gostam de ouvir histórias, não somente porque é agradável, mas porque através delas fica mais fácil entender uma mensagem e relacioná-la com a vida. Gostam de ouvir seus pais, avós e professores/as contando histórias bíblicas, de fadas, da vida deles mesmos e de quando eram crianças. Os jovens e adultos também gostam de ouvir, pois em todas as pessoas a história faz ressurgir a emoção e a fantasia.
A história ajuda as pessoas a recordarem de momentos vivenciados, ou lembrar-se de fatos acontecidos e, ao fazer isto, reviver os momentos e tirar ensinamentos para a continuidade da vida. Recordar quer dizer recolocar no coração e viver novamente numa nova tonalidade ou sabor. Vânia Dohne (2000, p. 5) diz: "Estas narrações, tão saborosamente recebidas, desencadeiam processos mentais que levarão à formação de conceitos, capazes de nortear o desenvolvimento de valores éticos e voltados para formação da auto-estima e a cooperação social".

Como preparar a história a ser contada?

1. Selecionar - É preciso fazer uma seleção do que contar, levando-se em conta o interesse do/a ouvinte, a sua faixa etária e suas condições sócio-econômicas. Procurar dentro daquilo que se quer ensinar ou de acordo com o contexto da aula que será dada; pesquisar até encontrar algo que toque o/a contador/a de maneira especial. Lembrar que ao contar uma história bíblica ensina-se a Palavra de Deus a ser vivenciada.
2. Recriar - Não se deve pegar uma história e contá-la como vem escrita, é preciso passá-la para a linguagem oral. Neste momento pode-se optar por contá-la a partir de um personagem atuante na história ou de alguém que estava vendo o acontecido, é o momento em que se cria para depois estudar e contar.
3. Estudar - Ler muitas vezes o texto e visualizar as cenas para saber contar a história sem decorá-la. O conto decorado destrói a naturalidade. É visualizar a história lembrando que cada personagem tem a sua própria história, é imaginar as cenas etc. O/a narrador/a tem que se tornar íntimo dos/as personagens e do local onde ocorre a história.
4. Estrutura - Geralmente a estrutura segue 4 fases:
Introdução: deve ser rápida, interessante e apresentar os/as personagens  sem divagação (quando, onde, quem).  Ex: há muito tempo atrás, era uma vez...
Desenvolvimento: são contados os fatos essenciais, há um crescimento gradativo da emoção da história.
Clímax: ponto de maior emoção da história.
Conclusão: deve ser breve e clara. Pode-se encerrar com frases tipo: entrou por uma porta saiu por outra quem quiser que conte outra.
5. Preâmbulo - Pode-se iniciar uma contação fazendo uso do preâmbulo, que tem por objetivo chamar a atenção para o início da história, devendo ser de acordo com os/as ouvintes.
6. Ensaiar - Para não repetir nem exagerar nos gestos e movimentos, evitar os vícios de linguagem e calcular o tempo, tendo em vista os/as ouvintes.

Que tipo de história contar?

• Para Crianças
Até 3 anos - Histórias que tenham bichinhos, objetos, crianças, rimadas, enredos que façam parte da vida da criança, textos curtíssimos (2 a 3 minutos).
3 a 4 anos - Os textos devem ser curtos e atraentes, história com ritmo e repetição. Pode-se usar gravuras de preferência grandes. Histórias que tenham bichos, brinquedos, objetos e usem expressões repetitivas (5 minutos).
5 a 6 anos - Histórias da vida real que fala do lar, etc. Os textos devem ser curtos e ter muita ação. O enredo deve ser simples. Até os 6 anos a criança gosta de ouvir a mesma história várias vezes (5 a 10 minutos).
7 a 9 anos - Histórias de personagens que possuem poder, histórias de aventuras, humorísticas e vinculadas a realidade, da comunidade (10 a 12 minutos).
10 a 12 anos - Narrativas de viagens, explorações, relatos históricos e preocupação com os outros, fábulas (10 a 15 minutos).

Sugestões de histórias para crianças de 0 a 6 anos: Jesus segura a criança, nascimento de Jesus, Zaqueu, Josué e os espias, baratinha, nuvenzinha triste,  etc.
Sugestões de histórias para crianças de pré-adolescentes de 7 a 12 anos: Criação, milagres, Abraão, Moisés, Paulo, José do Egito, João Batista, Amós, Jeremias, missionários, John Wesley, etc.

• Para juvenis, jovens e adultos
Todo texto bíblico, textos humorísticos, históricos, contos da tradição popular e outros (15 a 20 minutos).
As histórias (parábolas, histórias bíblicas, vida de personagens bíblicos, missionários, personagens da história, pessoas anônimas, benfeitores, pessoas altruístas, etc.) podem ser adaptadas para qualquer idade.
Este texto não tem o propósito de esgotar o assunto, pois há muito mais para ser considerado na arte de contar história. Nossa intenção é motivar para que a contação de história seja um método pedagógico utilizado para ajudar no processo de ensino e aprendizagem.

Profa. Joceli de F. Cerqueira Lazier
Membro da Catedral Metodista de Piracicaba, contadora de história,
coordenadora do Centro Cultural Martha Watts e Núcleo Universitário de Cultura da UNIMEP e
Mestre em Educação.

Bibliografia
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione, 2003.
BARBOSA, Reni Tiago Pinheiro. Pontos para tecer um conto. Belo Horizonte: Lê, 1997.
CHAVES, Otília. A Arte de Contar Histórias. São Paulo, SP: Confederação Evangélica do Brasil, 1963.
COELHO, Betty. Contar história: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1997.
DOHNE, Vânia. Técnicas de contar Histórias. São Paulo: Informal, 2000.
GRUEN, W. A Bíblia na escola: Subsidio para pais e educadores. São Paulo: Paulus.


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