Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 26/03/2013

Bispo metodista escreve mensagem sobre a Páscoa na atualidade

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai, depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo.”

                                                                    João 13.1

Veja materiais de apoio no final da reflexão!

Aprendi nas aulas de Antigo Testamento com o amado Prof. Tércio que “a Páscoa não é uma volta sentimental ao passado, mas uma memória capaz de resistir aos erros do presente e abrir novos caminhos para o futuro. A celebração da Páscoa é um compromisso com o restabelecimento do estado de shalom e da ordem justa no mundo”.

Do hebraico “pessach”, páscoa significa a passagem da escravidão para a libertação; A “passagem de Jesus Cristo” deste mundo para o Pai vem aprofundar seu significado de festa ou celebração da passagem da “morte para a vida”, das “trevas para a luz”.

A “quarta-feira de cinzas” inaugura um período de 40 dias de jejum, reflexão, quebrantamento e arrependimento. É a quaresma que vai culminar no domingo de Páscoa, a grande “festa da libertação” do povo de Deus, na qual, no Antigo Testamento, era sacrificado o cordeiro e, no Novo Testamento, o cordeiro é substituído por “Jesus Cristo”, o verdadeiro “Cordeiro de Deus” que tira os pecados do mundo!

Este é um período histórico muito significativo para o povo de Deus; na Bíblia aparece a palavra “páscoa” 49 vezes no Antigo Testamento e 31 vezes no Novo Testamento. Ela tinha um significado profundo de libertação do povo hebreu dos domínios de Faraó e da opressão do povo egípcio escravizando o povo de Deus.

No Novo Testamento, foi um marco de libertação do povo de Deus das furiosas crueldades e castigos da escravidão política, econômica e religiosa do Império Romano imposta ao povo judeu.

Mas, o que significa a “Páscoa” para o povo metodista hoje?

Entendendo que “a Bíblia é a única regra de fé e prática para os metodistas”, podemos afirmar que a “Páscoa” significa, para o povo metodista, pelo menos três desafios: desafio da memória, desafio do discipulado e o desafio do amor.

1.1 DESAFIO DA MEMÓRIA: “Todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa” – Lucas 2.41

Cada vez que celebramos a Ceia do Senhor avivamos em nós as forças da memória e do entendimento de que servimos a um Deus libertador da vida que, na história da humanidade, sempre se manifestou contra todas as formas de opressão, escravidão e injustiça para trazer e manifestar a todos/as a plena libertação.

Essa foi uma opção clara de John Wesley e do povo chamado metodista quando iniciaram os trabalhos com presos, explorados, marginalizados e empobrecidos de Bristol e Londres. Ofereciam dignidade física, emocional e espiritual, pois sabiam que não há Evangelho se não for social. A verdadeira páscoa não é somente comida ou bebida, mas, sobretudo, se expressa na libertação total da escravidão, das trevas e da morte para um novo estado de liberdade, luz e vida abundante.

Esse é um grande desafio da Páscoa para os metodistas, hoje: realizar uma missão integral na qual levamos aos que estão nas trevas da ignorância o conhecimento do Jesus libertador de todas as formas de escravidão e opressão; uma Igreja do povo e para o povo. Cada vez que elitizamos nossas estruturas e valorizamos o institucionalismo, nos distanciamos das raízes de nossa verdadeira identidade e missão de sermos “uma comunidade missionária a serviço do povo” e para o povo.

1. 2. DESAFIO DO DISCIPULADO: “E disse-lhes: desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça” – Lucas 22.15

Nunca teria chegado até a nossa geração o verdadeiro significado da Páscoa se ele não fosse ensinado, através do discipulado, a cada cristão. Sem a prática do ensino através do discipulado cristão as tradições e os feitos históricos de Deus se perdem, são esquecidos ou desvirtuados.

Um verdadeiro discipulado cristão é um grande instrumento de transmissão de conhecimento e tradições bíblicas que geram, no coração do discípulo/a, uma fé prática com bases teológicas e doutrinárias sólidas; tudo isso somado gera uma vida de carisma e caráter.

Um grande desafio para o povo metodista, hoje, é um discipulado com essas dimensões e ingredientes. Precisamos de uma geração de discípulos/as com carisma e caráter; precisamos de bases teológicas e doutrinárias sólidas que nos tragam o entendimento de que estamos aqui como resultado de uma história e que o futuro e a missão do discipulado dependem de nossas ações e práticas consolidadas a partir da Palavra de Deus; ou seja, uma base teológica e doutrinária sólida. Isto é Páscoa.

1. 3. DESAFIO DO AMOR: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai, depois de ter amado os seus do mundo, amou-os até o extremo” – João 13.1

Não há celebração da Festa da Páscoa sem a morte do cordeiro; a morte do verdadeiro Cordeiro de Deus é um ato de entrega, de doação, de amor.

Uma velha canção de Quaresma afirma que “Se o grão não morrer debaixo da terra, não virá a espiga alegrar a mesa. Se o grão não resistir ao vento e à chuva, não terá o vinho o vigor da uva. Se o grão não morrer na mó do moinho, o corpo estará cada vez mais sozinho. Se o grão se entregar à força do pão, convívio haverá na ressurreição”. Não há vida sem morte; portanto, não haveria Páscoa sem morte do cordeiro. O verdadeiro Cordeiro de Deus entregou, doou por amor sua vida por toda humanidade; não apenas por mim ou por você, mas por toda humanidade.

A morte de Jesus Cristo foi um ato inclusivo do amor de Deus por toda humanidade, portanto, não podemos ser “Corpo de Cristo” isolados/as. O amor de Deus na vida de John Wesley e do povo chamado metodista no século XVIII, fê-los enxergar essa grande multidão de excluídos e marginalizados. A Páscoa foi celebrada e incluiu a todos/as pelas ruas, povoados e cidades; pela nação.

Somos desafiados, como povo metodista, a abrir os nossos olhos e corações para enxergarmos, com ações práticas, uma enorme multidão de excluídos ao nosso redor. Assim, transformaremos o mundo em nossa verdadeira paróquia.

Enfim, não será possível celebrar a verdadeira Páscoa sem entender que o Cordeiro, o Pão e o Vinho, são para todos/as; é uma festa inclusiva a favor da libertação, da luz, da vida e da ressurreição em Jesus Cristo, nosso grande discipulador e mestre por excelência.

 

Bispo Roberto Alves de Souza

    Bibliografia:

     SIQUEIRA, Tércio M.; GORGULHO, Gilberto; LOCKMANN, Paulo; ANDERSON, Ana Flora e ALVES, Luiz Roberto. Estudos Bíblicos 8 – Leitura da Páscoa como Memorial da Libertação.  Petrópolis: Vozes, 1986.
    SCHOKEL, Luís Alonso. A Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002.
    ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia de Estudo Vida. 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, Vida, 1999.
    HOUAISS, Antônio.  Grande Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

 


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