Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

conseguiu o que queria pastor daniel rocha

CONSEGUIU O QUE QUERIA.... MAS A ALMA DEFINHOU

Concedeu-lhes o que pediram,

mas fez definhar-lhes a alma" (Sl 106.15)

Os hebreus, quando no deserto, reclamavam da falta que sentiam dos peixes, batatas, pepinos e melões dos egípcios.... e recusavam-se a continuar comendo o maná (que em hebraico significa: o que é isto?), algo como semente de coentro que cozinhavam e faziam bolos. Alimentava, mas o que desejavam mesmo era da carne do Egito.

Deus se irou tanto que disse a Moisés: Querem carne? Então comereis não um dia, nem dois, nem cinco.... mas um mês inteiro, até vos sair pelos narizes, até que vos enfastieis dela...." (Nm 11.19-20).

Uma maldição ao contrário: sofreriam não pela ausência, mas pelo exagero. Seriam punidos com o excesso. E o salmista registra que Deus "concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma" (Sl 106.15)

A exemplo dos hebreus ninguém mais se contenta com o básico, com o simples, com o comum.... é preciso cada vez mais. Queixamos quando não temos, mas quando obtemos queremos outras variedades. E quando temos outras variedades, rapidamente perde-se o frisson, e queremos experimentar outra coisa. Uma geração de enfastiados. Uma geração de murmuradores: resmungamos do sol, da chuva, dos filhos, dos preços, das filas, do patrão, resmungamos até de Deus porque Ele não consegue entender o que realmente queremos.

Há uma fome da alma, mas a carnalidade detesta o cardápio divino. Afinal, temos nossas preferências - que é o apetite egípcio que nos acompanha onde quer que estejamos. Tudo que é passional (relativo à paixão) é perturbador e tem um "que" de distorção da visão, daí o exagero, o ser enlaçado, o perder-se... Nossos olhos não param de desejar, é sempre um quero mais. Não é fácil dizer "não" aos atalhos, às pulsões, não é fácil exercer o domínio próprio.

Não é por acaso que na origem do vazio da alma, e do senso de inutilidade que daí decorre, encontram-se as escolhas que fizemos, aquilo que apostamos. Há coisas que forçamos para que seja verdade e acabamos comprando uma ilusão, mas depois tememos nos livrar dela - pois ficará o vazio. Por vezes aquilo que é falso, está tão intrinsecamente ligado à alma, que não sabemos quem somos, o que de fato gostamos, daí chamamos "o que é bom de ruim e o que é ruim de bom" (Is 5.20).

É forçoso admitir que o "espírito do Egito" está em nós. Assim como os hebreus queriam a carne e as batatas, e recusavam-se a receber aquilo que o Eterno oferecia,estamos definhando porque caminhamos na mesma sintonia do mundo. Há muito cristão plenamente satisfeito com este século, e é esta justamente a pregação neopentecostal dos Macedos, Soares e dos Hernandez: preencher a vida com tudo o que o Egito oferece - mesmo que sua alma venha a definhar.

Há uma outra comida que nos é oferecida por Deus, mas para quem está contaminado por este século, poucos aceitam. Há cada dia mais almas definhando - apesar de ter alcançado tudo o que queria. Conseguiu o carro, chegou lá na carreira, conquistou a garota dos sonhos ou o homem tanto esperado, comprou o último objeto de desejo.... mas a alma continuoulentamente secando. Jesus pergunta: "o que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"

Os valores estão invertidos: persegue-se o que dá prazer, busca-se o que dá fama, faz-se aquilo que o lado irracional determina, come-se todo tipo de bobagem nessa DisneyWorld da fé, e depois não sabe porque passa mal, porque sente-se vazio, porque a mente virou uma pasta. A perda de referencial leva-nos à doença. Se não sabemos o que é de fato importante na vida, acabamos caindo nas armadilhas que irão, por fim, levar à morte da alma.

Creio que deveríamos ter a humildade de dizer: - "Senhor não sei o que é bom para mim". Entretanto, nunca ouvi uma oração assim, posto que sempre"sabemos" muito bem o que é bom, o que é certo, o que o nosso coração quer... (e tentamos vender o peixe para Deus).

Só quando somos remetidos ao deserto do nosso coração que temos a chance de ser libertos de nossos falsos desejos. Deus pretende nos ajudar sobre isso: "Eu o atrairei e o levarei para o deserto, e lhe falarei com ternura ao coração" (Os 2.14). O deserto é o lugar que Deus nos fala, é o lugar do esvaziamento, do abandono dos vícios egípcios do passado, sob a graciosa mão de Deus. Só o deserto para limpar e purificar nossas entranhas. É ali que temos os nossos desejos transformados. Mas cuidado - o deserto é ambíguo - nele tanto pode florescer o divino como o demoníaco.

Um dos salmos mais belos - e curtos - da Bíblia é uma declaração de simplicidade: "não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim, pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma" (Sl 131.1-2). Há muita gente deslumbrada buscando coisas maravilhosas, e não enxerga o beija-flor, a abelha no jardim, o botão de flor que desabrochou... Infelizmente, os deslumbrados espirituais só desejam o que o Egito fornece.

Pr. Daniel Rocha, Igreja Metodista em Itaberaba, SP


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