Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 08/05/2012

John Wesley e a experiência do coração aquecido

Imagem: John Wesley pregando no túmulo de seu pai: no pátio da igreja em Epworth, domingo, 6 de junho de 1742 | Currier & Ives

 

Os irmãos João e Carlos Wesley, pastores anglicanos, embora muito bem intencionados, fracassaram em sua viagem missionária aos Estados Unidos que durou apenas 18 meses. Frustrado e deprimido, João Wesley exclamou: “fui à América evangelizar os índios, mas quem me converterá?”.

Durante uma grande tempestade na travessia do Oceano Atlântico, João ficou profundamente impressionado com a confiança e tranquilidade demonstradas por um grupo morávio de cristãos pietistas que alegremente cantavam e louvavam ao nome de Jesus diante da perspectiva da morte. Tal atitude contrastava com os sentimentos de medo da morte e do juízo final. Tais experiências são o início de uma crise que o levará a uma grande descoberta!

O problema é que eles não conheciam a graça de Deus. Quando Carlos Wesley ficou doente a ponto de quase morrer, foi interrogado sobre aquilo em que depositava confiança para a vida eterna. Sua resposta foi: “Tenho empregado meus melhores esforços para servir a Deus.” Como o amigo que fizera a pergunta parecesse não ficar completamente satisfeito com a resposta, pensou Carlos: “Pois quê? Não são meus esforços razão suficiente para a esperança? Despojar-me-ia de meus esforços? Nada mais tenho em que confiar.” (Vida do Rev. Carlos Wesley, de João Whitehead, p. 102).

Embora vivessem uma vida de rigorosa renúncia em busca da santidade que lhes garantisse o favor divino, por esta via, João e Carlos jamais alcançaram a paz e a alegria oriundas da certeza da salvação.

Foi somente no dia 24 de maio de 1738, numa pequena reunião, ouvindo a leitura de um antigo comentário escrito pelo reformador Martinho Lutero sobre a Carta aos Romanos, que João Wesley sentiu seu coração aquecer-se de modo sublime, por haver compreendido perfeitamente a essência do Evangelho de Cristo, renunciando toda confiança em suas próprias obras e passando a confiar inteiramente no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Após esta maravilhosa experiência, Wesley continuou se esforçando para agradar a Deus em tudo, porém não como um meio de se alcançar a salvação, mas como produto da fé e como resultado da graça; não como raiz, mas como fruto da graça santificadora. Nossos frutos são frutos do Espírito que opera graciosamente em nossos corações!

Esta chama acesa no coração de Wesley não foi fogo de palha! Tal experiência produziu uma verdadeira revolução e mudou sua perspectiva do Evangelho e da missão da Igreja. Wesley tornou-se um pregador fervoroso e incansável da justificação pela fé na cruz de Cristo e do poder do Espírito Santo para transformação e santificação de indivíduos e comunidades inteiras.

Nos 50 anos que se seguiram, ele pregou uma média de três sermões por dia; a maior parte deles ao ar livre. Milhares se converteram e passaram a trilhar o caminho da santidade. Um avivamento se deu de modo a afetar positivamente toda a sociedade, produzindo a abolição dos escravos, reformas educacionais, reformas no sistema prisional, reformas nas questões trabalhistas, de modo que historiadores chegam a atribuir ao movimento metodista o mérito da Inglaterra não ter padecido os horrores de uma revolução sangrenta como a que aconteceu na França.

O metodismo também foi um movimento missionário. Missionários foram enviados para diversos países. Depois da experiência do Coração Aquecido, o metodismo conquista o coração do povo americano. Em 1776 os metodistas representavam 2,5% da população religiosa nos Estados Unidos. Em 1850 os metodistas já representavam 34,2%! Em outras palavras, enquanto em 1776, 1 em 40 americanos eram metodistas, já, em 1859, eram 1 em cada 3! E nenhuma outra denominação chegava ao menos perto do número de metodistas naquela ocasião. Em segundo lugar vinham os batistas com 20,5%. (The Churching of America, 1776-2005: Winners and Losers in Our Religious Economy, Revised and Expanded Edition; Autores: Roger Finke e Rodney Stark).

A grande família metodista possui hoje cerca de 80 milhões de membros e está presente em 140 países. Nos últimos 10 anos, igrejas de linha de santidade se tornaram cada vez mais conscientes do seu patrimônio único e de seu potencial para ministrar com relevância as necessidades desta sociedade pós-moderna.

Com ênfase na graça de Deus, transformação, e vida íntegra e autêntica diante de Deus e de outras pessoas, a mensagem de santidade é cada vez mais atraente para uma ampla gama de pessoas de todas as tradições religiosas. Sentem necessidade de rearticular a mensagem de santidade de modo a fazer jus ao seu legado histórico, a medida que também buscam evitar as armadilhas de dois extremos: legalismo, de um lado, e evangélicos genéricos sem transformação de vida, de outro. Portanto, estão se unindo no propósito de reformar a nação, particularmente a Igreja, a fim de espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra.

A mensagem que o mundo mais precisa hoje em dia é exatamente esta mensagem de santidade enfatizada por João Wesley. As igrejas precisam de uma mensagem autêntica e clara que substituirá o “santo graal” de métodos como o foco de sua missão. Nossa mensagem é nossa missão!

Além do mais temos sido inundados por líderes que se tornaram prisioneiros de uma mentalidade de sucesso numérico e influência programática. Eles se tornaram tão preocupados sobre “como” administrar a igreja que negligenciaram o aspecto mais importante que tem a ver com “o que” a igreja declara. Nós inundamos o “mercado” com esforços metodológicos para fazer a igreja crescer. Neste processo, nossos líderes perderam a capacidade de liderar.

Eles não conseguem liderar porque não tem nenhuma mensagem autêntica para transmitir, nem uma visão autêntica de Deus, nem uma compreensão transformadora da alteridade de Deus (Deus: o totalmente Outro). Eles sabem disto e desejam encontrar o poder centralizador de uma mensagem que faça a diferença. Mais que nunca desejam banhar-se em uma profunda compreensão do chamado de Deus pela santidade - vida transformada. Estão cansados de confiarem em métodos. Querem uma missão. Querem uma mensagem!
As pessoas hoje estão buscando um futuro sem terem uma memória espiritual. Elas suplicam aos cristãos por uma palavra generosa e integrante que faça sentido e faça a diferença. Temos a obrigação de deixar claro que Deus é relevante para a vida das pessoas. Nós temos de nos livrar de nossa obsessão por uma linguagem verborrágica, de expectativas embaraçosas e de nossos padrões intransigentes. Qual é o âmago, o centro, a essência do chamado de Deus? Eis aí nossa mensagem, eis aí nossa missão!

Fonte:
Fraternidade Wesleyana de Santidade
http://santidadeeunidade.org
http://santidadeeunidade.blogspot.com


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