Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

pastoral uso da internet

PASTORAL SOBRE O USO DA INTERNET (PRA. HIDEÍDE)

Conectados em Cristo, em vista dos novos tempos

 

"Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça e, de coração, fala a verdade; o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo; mas honra aos que temem ao Senhor". (Salmo 15.1-4)

Introdução

Temos vivido um tempo de intensas mudanças tecnológicas e sociais, que se refletem diretamente na maneira como vivemos nossa fé. Nunca os meios de comunicação serviram tanto aos propósitos do Reino de Deus, mas também nunca provocaram tantas polêmicas, divisões e problemas em nossa comunicação da Palavra.

Tem causado preocupação o uso indiscriminado, especialmente da internet, para a proliferação de idéias nem sempre de acordo com a Palavra. E isso requer a necessidade de reflexão, oração, meditação na Palavra e a tomada de algumas posturas visando ao reconhecimento da vontade do Pai em meio aos tempos atuais. Por esta razão, trazemos, particularmente ao público jovem de nossas igrejas, que mais acesso e informações tem junto aos meios eletrônicos de comunicação, a presente pastoral. É claro que ela não vai esgotar o assunto, que é tão vasto, mas a idéia é procurar, juntos, construir um caminho de amor, dignidade e missão no mundo "internético", que tanto nos fascina e tantos perigos pode esconder...

 

Informação versus deformação

Uma das principais ênfases da Igreja Metodista é na vida de santidade. Isso não se faz em termos formalistas ou moralistas, mas na vivência da fé diariamente, em busca da mente de Cristo, purificando os corações de todo o mal. O Salmo 15 nos inspira em direção à santidade, porque ele é bem prático quanto ao que isso significa: "viver com integridade, praticar a justiça e falar a verdade", entre outras posturas requeridas da pessoa que teme a Deus.

De muitas maneiras, temos visto como a tecnologia atual permite rapidamente esquecermos esses princípios. Podemos visitar páginas de qualquer conteúdo, enviar e receber mensagens, divulgar notícias verdadeiras ou falsas, dizer qualquer coisa e escondermo-nos no anonimato da vasta rede de computadores. Por conta disso, proliferam vírus e problemas...

Devemos resgatar o princípio de que a comunicação deve ser feita visando à verdade, à vida e à justiça. Um dos resgates urgentes que temos a fazer, como jovens cristãos, particularmente metodistas, é o de não permitir que a informação se torne deformação. Deformação de nossa conduta, nosso caráter e nossa comunhão em Cristo! Para isso, podemos compartilhar, refletir, adotar novas posturas, visando "à transformação da nossa mente, não nos conformando com este século" e as distorções que nele podemos encontrar. Este é o propósito da presente reflexão pastoral.

 

Quem é quem na rede?

Hoje, um dos meios mais usados na internet para conhecer pessoas, por exemplo, são os sites de relacionamento, tipo "orkut". Quem possui uma página ali e ainda não foi vítima do perfil "clonado" de um amigo, que de repente convida a assistir filmes pornográficos caseiros ou acessar fotos de festas "na piscina"? Ou pior: mensagens desaforadas que nada têm a ver com o gentil amigo que conhecemos? Ainda que imediatamente procuremos saber a verdade, já sentimos a desagradável sensação de invasão de privacidade que essas situações produzem.

Porém, não há diferença alguma nesse fato e no uso indiscriminado que muitos cristãos têm feito na internet, para difamar pastores, pastoras, líderes, irmãos e irmãs, pessoas de destaque na vida da sociedade e das comunidades. Isso tem ocorrido, indiferentemente das denominações. Basta uma navegada pela internet, nas páginas de visitas dos sites das igrejas, para volta e meia descobrir essa prática. A antiga "carta anônima" e as fofocas de corredor agora assumiram um caráter mais abrangente, pois vão para uma grande lista de e-mails. E o que é pior: a gente recebe, nem procura verificar e logo depois repassa à frente, aumentando a rede de destruição. E quando os fatos vêm à tona, o dano estrutural já foi feito!

 

"Intern-ética"

O Salmo 15 afirma que a pessoa que tem acesso ao Monte do Senhor, ao lugar da sua intimidade, é aquela que "o que não difama com sua língua; não faz mal ao próximo nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo". Como essa palavra tão antiga se aplica hoje ao contexto das novas tecnologias? Poderíamos, numa releitura, dizer: "o que não difama com seu teclado, não faz mal ao próximo divulgando mensagens de conteúdo distorcido ou ofensivo, nem envia e-mails anônimos. O que, aos seus olhos, tem por desprezível toda página de internet que traz conteúdos reprováveis".

É preciso propor, ou melhor, adaptar a ética cristã a esse importante, mas perigoso meio de comunicação. A liberdade de expressão, princípio indelegável de nosso tempo, precisa ser usada corretamente. Paulo já dizia: "não useis da liberdade para dar ocasião à carne". Como podemos estabelecer para nós uma forma de conduta que nos permita de modo consciente utilizar esses meios e ser neles promotores e promotoras da vida de Cristo? Chamaremos a isso de "intern-ética"!

Primeiro ponto: Não receber nem transmitir mensagens anônimas que se refiram a acusações contra quaisquer pessoas. Quem realmente tem confiança no que diz não precisa se esconder. A pessoa justa manifesta sua indignação contra algo que a aborrece e assume a responsabilidade pelo que diz. Anonimato é covardia e a Palavra de Deus condena veementemente tal disposição.

Segundo ponto: O respeito às pessoas não perdeu seu lugar quando o confronto passa do pessoal ao escrito. Só porque a gente não está falando "cara a cara" não significa que podemos escrever o que nos der na idéia, sem medir as conseqüências. Muita gente se aproveita do universo online para ser desrespeitosa, usando mesmo palavras torpes, pesadas, que não combinam com o linguajar cristão. Adotam um viés destrutivo para falar de situações muitas vezes justas, que requerem atenção, mas que, tratadas assim, geram apenas confusão e rompimento de relacionamentos. Estamos falando de irmãos e irmãs, comprados com o mesmo sangue de Cristo que sustemos ter sobre nós. Severidade, seriedade e sobriedade não combinam com ofensas, palavrões e desdém.

Terceiro ponto: Cuidado com aquilo que retransmitimos sem verificar a origem dos fatos. João Wesley ensinava a seus pregadores que nada deveria ser passado adiante entre eles sem primeiro verificar, junto às pessoas envolvidas na informação, qual a veracidade dos fatos. Todas as pessoas têm o direito de confrontar quem as questiona, expor seu lado da história, defender-se ou pontuar aspectos relevantes. Isso é muito bom. Quando a coisa é feita da maneira correta, vemos que isso tem acontecido. As versões são postas lado a lado, as dificuldades são superadas.

Quarto ponto: Reconhecer o perigo das tentações em ver e clicar em qualquer banner que aparece. Não minimizar os pecados decorrentes da leitura e observação de páginas que não trazem conteúdos cristãos. Só porque é virtual não quer dizer que os danos à nossa espiritualidade não sejam reais. Esconder-se no anonimato pode funcionar com os seres humanos, mas certamente, não funciona com Deus. E ponto final.

Quinto ponto: Perceber que, embora esteja ali você e o seu computador, os "pecados virtuais" afetam também outras vidas. Páginas de conteúdo impróprio sinalizam a exploração de mulheres, crianças e adolescentes no mercado da ponografia, por exemplo. E-mails anônimos expõem seus amigos e amigas ao perigo de hackers e golpistas. Transmitir mensagens e correntes de origem desconhecida pode levar um vírus a "limpar" a conta bancária de gente que você ama... E, quando se trata da vida da Igreja mais especificamente, mensagens aleatórias podem aumentar a ansiedade, o estresse e a divisão no corpo de Cristo... Enfim, é preciso ter clareza de quem está ali, com você, a cada toque no teclado, a cada clique no mouse... Você não está sozinho/a. Lembre-se sempre disso!

Sexto ponto: Ter a intenção correta ao utilizar os meios de comunicação. Não usar a internet (emails) para fofocar, criar intrigas, portar-se de modo destrutivo. Tampouco de modo a expor dificuldades particulares entre as pessoas como se fosse um problema de âmbito maior, atingindo outras pessoas que nada têm a ver com o fato. A pessoalidade dos relacionamentos ainda é ponto fundante para nós, cristãos. A Palavra nos orienta a procurar as pessoas e tratar com elas as nossas dificuldades, antes de envolver outros no processo.

Sétimo ponto: Respeito à privacidade do outro, da outra é fundamental. Muitas coisas são constituídas como correspondências entre pessoas e, de repente, aquilo aparece divulgado de modo não aceitável ou ético, ferindo e prejudicando. Devemos ser cuidadosos na maneira como também recebemos informações de outras pessoas. E respeitar os seus direitos a todo o tempo.

 

Expressando-se com a liberdade de Cristo

Vivemos hoje uma crise de integridade e ética, em todos os sentidos. As pessoas têm perdido de vista a mística da autoridade espiritual. Líderes se arrogam dela para evitar discutir os reais problemas e os membros a rejeitam por se sentirem tolhidos em seus direitos. Usam-se os meios "do mundo" para se falar das coisas da Igreja. Tudo isso gera um sentimento de desconforto, desânimo e desunião. É por isso que tantos novos modos de pecaminosidade, de distorção de valores e de descaminhos aparecem nos meios de comunicação, em especial, a internet... Esse é um fato a ser reconhecido por todos nós, trabalhado e superado com seriedade. Resgatar a mística do corpo de Cristo, do amor fraternal, do respeito nas relações é fundamental para a Igreja e para sua missão no mundo. Não precisamos que "o mundo julgue os santos", para usar uma expressão paulina. Os critérios devem estar em nós, como representantes e cooperadores com Deus...

Mas, ao mesmo tempo e por isso mesmo, é preciso reconhecer que precisamos falar mais. E escrever mais, uma vez que ordenar os sentimentos no papel pode nos ajudar a organizar o caos interior que não raro nos domina na vida tão intensa e dinâmica da Igreja. Tudo isso pode e deve ser saudável. E nos ajudaria a recuperar nossa saúde relacional.

Muita gente tem sentido a necessidade de expor seus sentimentos e, quando o faz da maneira correta, dá ao outro a oportunidade de corrigir mal-entendidos ou de apresentar seus argumentos. A harmonia é preservada, mesmo quando as posições são discordantes. Ainda mais numa Igreja plural como a nossa é.

Em busca de uma vivência tecnológica que possibilite o diálogo e não a separação, a santidade e não a promiscuidade espiritual, devemos seguir, acima de tudo, o critério da Palavra de Deus: "Em todo o tempo, estejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a vossa cabeça". A pureza das intenções, a transparência das questões e a unção do Espírito não são dispensáveis. Somente isso pode transformar imagens, palavras e e-mails em vida. "A letra (a tecla) mata; mas o Espírito vivifica!".

Pastora Hideíde Torres (Publicado originalmente no site da Federação Metodista de Jovens da 4ª Região: http://www.metodista4re.org.br/jovem/)


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