| Paulo Lockmann, Bispo da 1? Regi?o Eclesi?stica 1. A morte expiat?ria A primeira parte do relato acima apresenta o tema da morte e sofrimento do Messias como expiat?rio; por isso, a express?o: "? necess?rio que o Filho do homem sofra muitas coisas…" (Mc 8.31). Tal id?ia est? presente na figura do servo sofredor de Isa?as 53, e que foi vista pela Igreja Primitiva como an?ncio do sofrimento que Jesus, como Messias, veio a padecer. A rea??o de Pedro, no texto citado, de preservar seu Mestre da morte, mostra a rejei??o judaica ? morte de cruz, e tamb?m o tipo de esperan?a messi?nica existente em Israel nesse tempo, ou seja: |
Que o Messias haveria de ser rei como Davi, restabeleceria o dom?nio de Israel sobre as na?es vizinhas, e a libertaria do jugo do opressor e estrangeiro. Isso prova que a mensagem de Isa?as, do servo sofredor, ou de um Messias crucificado, n?o era bem aceita. E, penso, continua tendo resist?ncia. H? igrejas e movimentos religiosos que negam o sofrimento, tentam construir uma teologia sem expia??o, mas n?o h? expia??o sem sofrimento. E n?o h? miss?o sem sofrimento. (2 Co 11.23).
2. A mensagem da cruz
A cruz ?, sem d?vida, um elemento de perplexidade, de esc?ndalo. Ela assume o centro da proclama??o, e a ceia ? uma forma de explicar o mist?rio da cruz. A mensagem da cruz assume um lugar de sentido vital para a cristologia da Igreja Primitiva, e, por que n?o dizer, contempor?nea. Segundo os Evangelhos, n?o h? Jesus sem cruz, n?o h? Igreja sem cruz. H? um s?rio equ?voco quando nossa prega??o anuncia apenas a ressurrei??o, pois n?o h? ressurrei??o sem morte, e a morte de Jesus, como deixaram bem claro os sin?ticos, foi a mais rejeitada e sofrida. A cruz ? uma forma de den?ncia diante de um estado imperialista como o romano, diante de uma religi?o acomodada e opressora como o farisa?smo e o templo de Jerusal?m, diante de todo e qualquer pecado. A cruz de Cristo, ademais de sentido expiat?rio, foi prof?tica: todos os crist?os t?m uma cruz a enfrentar e tomar. N?o mais expiat?ria, mas prof?tica, ministerial e mission?ria. (cf. Mc 8.34-38).
3. A morte de Jesus na cruz
Desde a antig?idade crist?, era preciso anunciar e explicar o fato da morte de Jesus numa cruz. O que representava um grande esc?ndalo para os judeus, visto que a cruz era um sinal da domina??o romana (cf. Lc 24.20-26). Como um condenado ? morte de cruz poderia ser o Messias? N?o seria ele um sinal de insubmiss?o ao imperialismo romano? N?o seria um "maldito", segundo os crit?rios da Lei mosaica (cf. Gl 3.12-13)? Portanto, como ser seguidor de um crucificado nesse mundo dominado pelo poder imperial romano e pela lei mosaica?
Assim, o an?ncio da morte na cruz ? a c?lula b?sica de toda a narrativa evang?lica, e o ponto de partida para a compreens?o mais profunda do sentido da miss?o redentora e libertadora de Jesus (cf. Mc 10.45). O an?ncio da morte de Jesus na cruz ? o princ?pio da compreens?o do sentido redentor da vida, morte e ressurrei??o de Jesus. (cf. Fp 2.6-11). Al?m de representar uma den?ncia da morte do inocente, h? uma identifica??o permanente na mensagem da cruz com a morte de todos que sofrem o efeito da viol?ncia. N?o para resigna??o, mas para a resist?ncia, a den?ncia e a luta.
4. Ressurrei??o: uma vis?o b?blica.
"E que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze". (1 Co 15.4-5).
Este ? o testemunho escrito mais antigo sobre a ressurrei??o que a Igreja possui, pois sabemos serem os textos paulinos anteriores aos Evangelhos do Novo Testamento. Essa f?rmula encontrada em Paulo era, de certa forma, uma afirma??o de f? da comunidade primitiva, a qual ? tomada do ambiente cultual dessa comunidade e usada por Paulo ao discorrer sobre a ressurrei??o em sua primeira Ep?stola aos Cor?ntios.
Vemos, nos escritos paulinos, assim como em todo o Novo Testamento, a vitalidade da mensagem da ressurrei??o; os acontecimentos pascais moldaram a pr?pria teologia de Paulo.
Numa biografia de Jesus, se poderia considerar sua crucifica??o e morte como uma etapa que tenha sido superada pela ressurrei??o, como vit?ria da Vida sobre a Morte. N?o obstante isso, Paulo n?o pensa assim sobre a pessoa de Cristo, pois, para ele, ? importante ensinar que o Ressuscitado ? o Crucificado, e o Crucificado ? o Ressuscitado.
A ressurrei??o d? significado ? morte de cruz, e em levar a s?rio a crucifica??o de Jesus e sua import?ncia como quem se identifica at? o extremo com os pecadores; enfim, com a gente sofrida de Israel, e, por extens?o, com todos os homens e mulheres.
5. Ganhando Vida diante da Morte
O texto, ao apontar a tomada da cruz como elemento fundamental da mensagem crist? desde a Igreja Primitiva, mostra, tamb?m, uma invers?o da l?gica humana e, principalmente, de nosso mundo materialista; ou seja: quem, no Reino de Deus, d? sua vida, de fato, est? ganhando-a; e quem a ret?m, de fato, est? perdendo-a. Este foi o ensino de Jesus:"Quem quiser, pois, salvar a sua vida perd?-la-?; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salv?-la-?. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mc 8.35-36). Hoje, tamb?m, as pessoas est?o querendo ganhar o mundo todo, mas est?o perdendo a vida, e, com ela, os valores morais e ?ticos. Hoje, para possuir bens neste mundo, a maioria perde a paz, a alegria e o sono tranq?ilo. N?s nos deparamos com uma constante invers?o de valores: os projetos pessoais e materialistas querem se sobrepor ? din?mica do Esp?rito do Ressuscitado, que edifica o Reino de Justi?a em oposi??o ao reino da morte e da viol?ncia.

