Neuroteologia

 







  Neuroteologia. O que ? isso ? ? um ramo recente de pesquisa que investiga se a "religiosidade" possui ou n?o um correlato cerebral. ? procurar "onde" est?o as redes neurais cerebrais que codificam a cren?a ou a f?.


Seria um absurdo muito grande supor a exist?ncia de ?reas no c?rebro cujos circuitos sejam especializados em f? ou apego religioso?


O livro, em portugu?s, "A religi?o do c?rebro" de Raul Marino Jr, Editora Gente, 2005, mostra como ? poss?vel pensar a experi?ncia religiosa a partir da anatomia e do funcionamento do nosso c?rebro. ? cada vez maior o n?mero de pesquisadores que se dedica n?o s? a discutir a religi?o no contexto cient?fico, mas a mostrar que religiosidade e ci?ncia se completam.


Uma pesquisadora chamada Nina Azari realizou um teste com volunt?rios ateus e crentes. Ela pediu que eles lessem o Salmo 23, uma quadrinha infantil e instru?es para a utiliza??o de um cart?o telef?nico. Ao mesmo tempo, a atividade cerebral foi registrada com o aux?lio da tomografia por emiss?o de p?sitrons (PET), em que regi?es isoladas do c?rebro podem ser visualizadas gra?as a marcadores radioativos. Os seis crentes que participaram da experi?ncia informaram ter tido uma experi?ncia, no passado, decisiva de convers?o, algo que mudara sua vida.


O resultado mostrou que os ateus reagiram de forma emocional ? leitura da quadrinha infantil, o que se revelou pela eleva??o de atividade em seu sistema l?mbico (regi?o do c?rebro respons?vel por nosso universo emocional), enquanto aos crist?os recitar o Salmo 23 proporcionou um prazer maior que repetir a quadrinha familiar, elevando-os a um estado que eles denominaram de "estado religioso" Conclus?o: a experi?ncia religiosa ? evidentemente, e antes de mais nada, um processo mental.


Uma outra abordagem foi dada pela leitura de textos antigos. No s?culo V a.C., Hip?crates caracterizava a epilepsia como doen?a sagrada. Quem, sen?o Deus, poderia jogar no ch?o seres humanos, contorc?-los e at? ceg?-los temporariamente, como costuma ocorrer nos ataques epil?pticos?


Hoje em dia pesquisadores aventam a possibilidade de dist?rbios epil?pticos terem sido os deflagladores de certas experi?ncias transmitidas at? n?s. Tamb?m sobre o ap?stolo Paulo pesa a suspeita de epilepsia. "Aproximando-se de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do c?u, e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou. Quem ?s tu, Senhor ? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues, mas levanta-te e entra na cidade e l? te ser? dito o que te cumpre fazer. (Atos 9,3-6) ". O que se descreve ? a conhecida epilepsia. Ter? sido Paulo, portanto, um paciente neurol?gico que, a caminho de Damasco sofreu um ataque de particular intensidade, tornando-se assim um precursor do cristianismo al?m faz fronteiras de Israel?


Observa?es realizadas em epil?pticos parecem sugerir que uma pequena regi?o do nosso c?rebro responde por um papel excepcional no tocante a experi?ncias religiosas: o lobo temporal. Em regi?es mais profundas do lobo cerebral, encontramos o hipocampo, que seria uma esp?cie de censura. ? ele que decide se uma informa??o ser? armazenada ou esquecida.


Caso a autocensura seja desativada (por exemplo, pelo jejum, pela priva??o do sono ou por estados de ?xtase), o c?rebro pode estabelecer rela?es inusitadas. No caso dos portadores de epilepsia, o censor cerebral poder? ter sofrido les?es decorrentes dos ataques, raz?o pela qual os pacientes s?o regularmente atormentados por "ilumina?es".
O neurologista Vilayanur Ramachandran, diretor do Centro do C?rebro e Cogni??o da Universidade da Calif?rnia em San Diego, ? um especialista nessa ?rea de pesquisa. Atrav?s de experi?ncias com volunt?rios epil?pticos e n?o epil?pticos ele tira uma conclus?o: "Evidentemente o c?rebro humano possui circuitos que participam das experi?ncias religiosas e que, em alguns epil?pticos, se tornam hiperativos".


Afirma?es acerca de Deus n?o s?o poss?veis de se extrair com base numa condutibilidade maior da pele ou na altera??o da atividade verificada em determinada regi?o do c?rebro. O Todo-poderoso decerto n?o estar? alojado no lobo temporal. Formula?es sensacionais desse tipo antes prejudicam do que beneficiam a imagem de um ramo nascente de pesquisa.


Para o futuro, cumpre desenvolver um conceito ?nico de religiosidade para todas as linhas de pesquisa que se ocupam das quest?es neuroteol?gicas. Quando os volunt?rios se autoclassificam de religiosos e n?o religiosos querem dizer a mesma coisa? No uso di?rio "religioso" ? empregado como sin?nimo de crist?o. Religioso ? um adjetivo que se pode subordinar a dois substantivos: religi?o e religiosidade. Contudo, religiosidade se aplica a indiv?duos, mas religi?o se aplica aos sistemas religiosos socialmente estabelecidos.


Da mesma forma que o "sentir" foi pouco a pouco se juntando ao "pensar" como objeto da aten??o das ci?ncias naturais, tamb?m o "crer" poder? faz?-lo agora.
Obs.: A inten??o de escrever o artigo ? de fornecer informa?es atualizadas sobre esse assunto para que se possa discutir. N?o representa minha opini?o.


 


Sandra Alves Peixoto Pellegrini


(bi?loga, professora universit?ria e membro da Igreja Metodista de Vila Isabel – RJ)

Picture of Portal Igreja Metodista

Portal Igreja Metodista

Igreja Metodista - Sede Nacional.

Tags

compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossas notícias

Receba regularmente as notícias da Igreja Metodista do Brasil em seu e-mail.
A inscrição é gratuita!