Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

reflexão HISTÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA

Histórias da nossa história


O autor escreve sobre curiosidades do metodismo. A viagem para apresentar o pedido de autonomia, a carta de John Wesley sobre a autonomia da Igreja Mãe e o bispo brasileiro consagrado com roupa empresta.
Histórias de nossa História

A viagem no Western World

Para apresentar pessoalmente o pedido formal de Autonomia do metodismo brasileiro, a Conferência Geral de 1929 elegeu uma comissão de seis pessoas, três presbíteros e três leigos. Estes eram J. Faria Netto, Osvaldo Lindenberg e W. Otto Reif; os clérigos eram Walter Harvey Moore, George D. Parker e Jorge Luiz Becker.  Sua missão era pleitear junto à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, que se reuniria na cidade de Dallas, nos Estados Unidos, em maio de 1930, a concessão para que nossas três conferências anuais (a Brasileira, a Central Brasileira e a Sul Brasileira) fossem organizadas em igreja autônoma.

Quatro dos nossos enviados, Moore, Faria Netto, J. L. Becker e Oto Reif, dois clérigos e dois leigos, viajaram juntos para os Estados Unidos no navio Western World. Faria Netto, que era da igreja de Piracicaba, foi o repórter da delegação. Ele nos conta, nos artigos que mandou para o Expositor Cristão, todos os detalhes da viagem que durou duas semanas. Fala dos cultos que eles realizavam, das reuniões dirigidas por Walter H. Moore, nas quais só se falava inglês, para que os brasileiros estivessem bem treinados no idioma para as conversas que teriam durante a reunião. A apresentação do pedido à conferência americana foi feita justamente pelo Prof. Faria Netto, um leigo. Em relato feito à revista Homens em Marcha (1º trim. de 1958), ele menciona uma experiência que ficou praticamente esquecida da  Igreja.

Eles levavam muitos documentos, reunidos num folheto, tudo em português, para serem apresentados na Conferência. Na longa viagem de navio, Moore ponderou que, para perfeito entendimento dos delegados que tomariam a decisão, esse material deveria ser apresentado em inglês.  A delegação trabalhou, sob a liderança dele, na versão para o inglês mas, num tempo em que ainda não haviam inventado a copiadora, como chegar lá sem cópias para os delegados, naquele tempo mais de mil  pessoas. Foi também Moore quem resolveu o problema, conseguindo do comandante do navio as facilidades para a impressão de todos os textos na pequena gráfica do navio.  A apresentação dos documentos em inglês certamente facilitou a histórica decisão. Homens em Marcha, ao informar o acontecido, diz que  "este incidente, embora perdido na poeira dos tempos, pela modéstia dos que tinham conhecimento, é revelador do zelo e dedicação dos irmãos que no tempo lideravam a obra missionária no Brasil".

2 de setembro - Autonomia também da Igreja Mãe

Embora o início da Autonomia do Movimento Metodista nos Estados Unidos, que já existia antes do país se tornar independente em 1776, seja oficialmente comemorado a partir da Conferência realizada em Baltimore, na semana do Natal de 1784, a chamada Christmas Conference, o dia 2 de setembro daquele ano é um marco fundamental do movimento de independência. Foi justamente nesse dia que João Wesley concedeu a autonomia ao metodismo americano. Aquele ato de João Wesley foi realmente a consagração de Thomas Coke como superintendente do metodismo na América.

Em tradução do Rev. Dunca A. Reily, eis o texto de João Wesley:

"A todos aos quais vier esse documento, João Wesley, ex-professor do Colégio Lincoln de Oxford, presbítero da Igreja da Inglaterra, manda saudações.

Visto que muito do povo das Províncias Meridionais da América do Norte que deseja continuar sob meus cuidados e ainda aderem às Doutrinas e à Disciplina da Igreja da Inglaterra são grandemente perturbados pela falta de ministros para administrar os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor, conforme o uso da referida Igreja; e visto que não parece haver qualquer outra manifestação de providenciar-lhes ministros;
Saibam todos os homens que eu, João Wesley, me considero providencialmente chamado a este tempo a separar algumas pessoas para o trabalho do ministério  na América. Portanto, sob a proteção do Deus Onipotente, e um olho simples a sua glória, eu hoje separei como superintendente, pela imposição das minhas mãos e oração (sendo assistido por outros ministros ordenados) Thomas Coke, Doutor em Lei Civil, um presbítero da Igreja da Inglaterra, o homem que julgo ser plenamente qualificado para aquela grande obra. E eu assim recomendo-o a todos quantos isso possa interessar, como pessoa apta para presidir o rebanho de Cristo. Em testemunho disto, tenho aqui afixado minha assinatura e selo neste segundo dia de setembro do ano de Nosso Senhor, mil setecentos e oitenta e quatro".

A Christmas Conference elegeu Coke e Asbury como bispos mas isto já é uma outra história...

César, consagrado com roupa emprestada

César Dacorso Filho, que tinha sido pastor de grandes igrejas, estava pastoreando, desde 1933, a pequena igreja de Carangola, em Minas Gerais.  Mesmo assim, foi eleito delegado ao 2º Concílio Geral , que se realizaria em Porto Alegre em janeiro de 1934.  Primeiramente, planejou não fazer a viagem. Guaracy Silveira, depois de sua eleição, mencionou no Expositor Cristão que lhe escrevera carta pedindo para que ele não deixasse de ir. Finalmente, já na última hora, por insistência de muitas pessoas, resolveu pegar o navio e participar do Concílio.

O autor conhece o caso de um pastor que estava indicado como candidato a bispo num Concílio Geral, quando as candidaturas faziam parte da Lei, que ele compareceu já preparado para ser eleito. Levou um bonito terno preto e um colete com o colarinho roxo, estando devidamente pronto para sua consagração em grande estilo.  Perdeu feio...

César Dacorso Filho, porque não se sentia candidato e não pensava ser bispo, viajou para Porto Alegre sem levar na bagagem sequer seu velho terno preto com colete clerical.  Ele estava indo para uma reunião de muito trabalho - foi o Concílio Geral que mais demorou em nossa história, 16 dias - com aprovação dos Cânones, reformulação de nossa Constituição, elaboração de Planos de Trabalho e muita coisa mais. Não achou necessário colocar mais um peso na bagagem, deixando em casa o seu terno.

Acabou sendo eleito bispo.  Pois bem, para participar da cerimônia de sua consagração, teve de conseguir às pressas, emprestado de um colega, um terno preto com colete clerical. 

Esse era um fato conhecido pelas pessoas ligadas a César, especialmente a família e os pastores mais amigos, mas que Derly de Azevedo Chaves, que tinha sido ordenado diácono junto com César, revelou em artigo no Expositor Cristão de 1º de maio de 1966, edição em homenagem à memória do grande bispo falecido meses antes.

João Wesley Dornellas


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