Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

protestantes e as olimpíadas

Creio que todos nós, brasileiros, lamentando a falta de políticas públicas para a área dos esportes, vibramos com a medalha de ouro conseguida pela nossa seleção feminina de voleibol, a de prata pela seleção masculina, e pelas boas apresentações das equipes de basquete. Como a História é escrita pelos vencedores ou pelas maiorias (e que não premia aqueles que não cultivam a própria memória), ninguém teve o interesse de se perguntar quem e como trouxe essas modalidades esportivas para o Brasil.

A verdade histórica é que o Basquetebol e o Voleibol foram introduzidos no Brasil pelos Colégios Protestantes no final do século XIX e início do século XX. O Colégio 15 de Novembro, em Garanhuns, PE, onde estudei, o mais antigo educandário evangélico do Nordeste, construiu a primeira quadra poliesportiva coberta naquela região, e sediou um campeonato nacional juvenil nos idos de 1959.

Os colégios protestantes (presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos e outros) foram pioneiros em muitos aspectos na educação nacional:

a) Primeiras Escolas Mistas (para homens e mulheres);
b) Primeiras Escolas Técnicas Profissionalizantes: Agrícolas, Industriais e Comerciais;
c) Introdução da disciplina Educação Física;
d) Introdução dos esportes Basquetebol e Voleibol.

Ao contrário da cultura ibero-católica aristocrática, valorizava-se as mãos, o corpo e o trabalho.
Essas escolas, que abrigaram, inicialmente, os filhos discriminados da minoria protestante, se abriram para a emergente classe média (de Gilberto Freyre a Ariano Suassuna), e concedeu bolsa a milhares de carentes. O ex-presidente da República Itamar Franco (um órfão), conseguiu terminar os seus estudos secundários graças a uma bolsa concedida pelo Colégio Metodista de Juiz de Fora, MG, por ser um excelente jogador de basquete.

Essas escolas, pertencentes às denominações históricas, estavam imbuídas da ideologia do progresso (religião superior + democracia + progresso), o que levou o ex-presidente da República Café Filho a afirmar, em sua autobiografia: "Aprendi a amar a Democracia na escola missionária de Natal (RN)". O Movimento da Escola Nova buscou nesses colégios muito do que seria introduzido na educação pública no Brasil.

O Protestantismo de Imigração já estava no Brasil desde a Regência: os ingleses, urbanos, com o comércio e a indústria, e os alemães, rurais, com a agricultura; o Protestantismo de Missão, desde 1855, com a chegada do pioneiro pastor e médico escocês Robert R. Kalley. Essa fase (1810-1910) foi marcada por uma visão missionária de participação e influência na cultura e nas instituições brasileiras, o que levou a minoria protestante a se envolver nas causas da Abolição, da República e do Estado Laico. Em geral eles eram pós-milenistas (otimistas) ou a-milenistas (realistas)
em Escatologia.

Essa visão permaneceu nas propostas sociais das pequenas bancadas evangélicas às Constituintes de 1934 e 1946, ao fomento de uma geração de intelectuais nacionalistas e socialmente reformistas, ao trabalho aglutinador, conscientizador e profético da Confederação Evangélica Brasileira (1934-1964), ao engajamento no incipiente sindicalismo rural do pré-64.

Com a importação das controvérsias teológicas norte-americanas (evangelho social vs. evangelho individual; liberalismo vs. fundamentalismo), da escatologia pré-milenista/pré-tribulacionista, com a vinda de um pentecostalismo "branco" (isolacionista) que, ainda por cima, absorve aspectos legalistas, anti-corpo e anti-prazer do catolicismo de romaria no interior do Nordeste (hoje, com uma nova geração lúcida querendo mudar), com a "Guerra Fria", com a Ditadura Militar os protestantes brasileiros entraram em uma amnésia coletiva que afetou a sua identidade.

O divisionismo denominacional, a importação de toda novidade do estrangeiro, e o fenômeno do pseudo-pentecostalismo (que nem é evangélico, nem é protestante), essa crise de identidade se agravou. As atuais gerações não conhecem o seu passado (personagens, fatos, idéias), nem suas bases teológicas, não sabendo quem é, nem para que serve (uma multidão isolada, alienada e sem visão de participação), cujo crescimento numérico não tem alterado as mazelas nacionais, reduzidas às emoções, ao subjetivismo, ao individualismo, aos cultos-espetáculos estrangeirizados.

O nosso passado é onde podemos buscar o nosso futuro. O quadro atual pode e deve mudar.
O Basquetebol e o Voleibol são, em muito, nossos. Os Protestantes, mais do que ninguém, deveriam ter razão para comemorar!

Robinson Cavalcanti, Bispo Diocesano.

Extraído do blog  http://www.pavablog.blogspot.com/

Veja também:

Como nasceu o Basquetebol;

Como nasceu o Vôlei.


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