Entrevista Maísa






  “Sinto-me aquela confian?a que transcende o natural”


   Foto: Jos? Geraldo Magalh?es J?nior


A Revda Ma?sa Gomes de Oliveira foi designada para assumir um trabalho mission?rio em Mo?ambique, por meio de um conv?nio firmado com a Igreja Metodista Unida da Alemanha. Ela vai trabalhar num lugar carente de tudo e assolado pela mal?ria. Enfrentar? solid?o e discrimina??o. Mas est? irradiando felicidade. Sente que est? atendendo a um desejo que Deus colocou em seu cora??o.


 Como voc? iniciou o seu minist?rio pastoral?


Nasci na terceira gera??o de uma fam?lia de metodistas, em Governador Valadares, MG, e senti meu chamado ainda adolescente. Mas n?o pensei em ser pastora. Eu queria apenas estudar para ajudar o pastor da minha igreja. Em 1990, a Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de S?o Paulo come?ou a ter os olhos mission?rios e abriu um campo em Rond?nia. Ao me formar, voltei para a 4? RE para cumprir o meu per?odo probat?rio (o per?odo que antecede o exame da ordem presbiteral), mas j? fui pensando em ir para Rond?nia.


 O que a atra?a na Regi?o Mission?ria do Norte?


O desafio. O novo. A oportunidade de fazer diferen?a, de fazer algo de bom. Eu sabia que podia fazer algo. Fui para o norte com a inten??o de ficar tr?s anos. Aumentei para seis, depois para nove. Fiquei quatro anos em Rond?nia, trabalhando com nossas igrejas na cidade de Ariquemes, Cacoal, Rolim de Moura, Riozinho e tamb?m junto aos povos ind?genas Cinta-larga e Apurin?. Foram dias muito aben?oados.


Com os povos ind?genas foi uma experi?ncia linda!  A conviv?ncia do dia-a-dia, eu pude mostrar que n?o estava interessada em tirar nada deles, mas em ajudar.  Depois fiquei um ano em Bel?m do Par? e nos ?ltimos cinco anos estive na Igreja Metodista Central de Manaus, Amazonas. Durante esse per?odo, pude trabalhar no projeto Barco Metodista Sa?de Integral, projeto desenvolvido pela AMAS – Manaus junto aos povos ribeirinhos, e ajudar o Bispo Adolfo Evaristo de Souza no pastoreio de nosssos/as pastores/as como superintendente Distrital. Nesses ?ltimos cinco anos meu distrito compreendia o Estado do Amazonas e Roraima.


 A bispa Marisa, no culto de comissionamento (leia mat?ria na pg. 10) falou sobre a solid?o que ?s vezes se abate sobre o(a) mission?rio(a). Voc? sentiu isso?


?, ?s vezes, o colega mais pr?ximo est? a mais de 200 km de dist?ncia… E para sobreviver a gente acaba construindo pontes de relacionamento… Mas, de fato, a solid?o ? muito forte.


 E sua fam?lia, como tem reagido ? sua op??o mission?ria?


Meus pais j? est?o com o Senhor, tenho irm?os/as mais velhos, pois sou a ca?ulinha da casa. Minha fam?lia sempre me deu apoio. Eles nunca questionaram minha voca??o. V?em como algo natural. E n?o se surpreenderam nem quando eu disse que ia para Mo?ambique. Simplesmente disseram: "a gente sabia que isso um dia ia acontecer". E sabiam mesmo. Quando algu?m dizia que a Amaz?nia era muito longe, eu respondia: "N?o, a Amaz?nia ? perto. Longe ? para onde um dia eu ainda vou… "


 Voc? pensava em ir ? ?frica um dia?


Sim, sempre tive um desejo muito grande de faz?-lo, e quando senti no meu cora??o que o meu tempo no Norte havia acabado, sabia claramente em meu cora??o que um novo desafio estava a minha espera.  Compartilhei ent?o isso com Bispo Adolfo Evaristo de Souza e foi quando tomei conhecimento que a vaga do trabalho em Mo?ambique n?o havia sido preenchida. N?o tive d?vida, comuniquei com meu outro bispo, Revdo Roberto Alves de Sousa, pois sou da Quarta Regi?o Eclesi?stica. Ele me autorizou a come?ar o processo e tudo transcorreu na dire??o de Deus. Talvez para alguns essa decis?o pare?a ir contra a l?gica, n?o ?? Mas eu sinto no cora??o esse chamado, que transcende a racionalidade. E esse ? o meu tempo.


 Como voc? tem se preparado para este desafio?


A Faculdade de Teologia tem sido uma grande parceira. Estou hospedada no campus, onde ficarei por tr?s meses, fazendo leituras direcionadas para a ?rea teol?gica, conversando e me informando um pouco mais com pessoas que j? tiveram essa experi?ncia e tentando  conhecer um pouco  o universo africano. Vou trabalhar na ?rea teol?gica l? em Mo?ambique, ajudarei na forma??o de pastores e pastoras.


 Em que local voc? ficar??


Ficarei em Cambine, o ber?o do metodismo em Mo?ambique. ? uma "vila metodista" onde se concentram o semin?rio, escola para rapazes e mo?as, orfanato e ambulat?rio. A id?ia ? que esse local transforme-se num centro universit?rio. Est? sendo realizado um conv?nio entre Mo?ambique e a Universidade Metodista, para a implanta??o de cursos ? dist?ncia. Mas o conv?nio ainda n?o se concretizou por causa da precariedade do lugar.  Cambine sequer tem energia el?trica.


 Numa conversa com o pastor Nadir Cristiano, ele contou que o per?odo em que Mo?ambique foi col?nia de Portugal deixou marcas que ainda n?o se apagaram. Uma delas ? a rejei??o ao idioma portugu?s (que embora oficial, n?o ? falado no dia-a-dia) e o preconceito com rela??o a pessoas brancas. Voc? n?o teme ser discriminada pela cor de sua pele?


Acho que vou enfrentar maior discrimina??o n?o por ser branca, mas por ser mulher. A discrimina??o contra a mulher ? violenta. Na cultura tribal, que ainda impera no pa?s, homens e mulheres t?m pap?is muito definidos. Por isso, a minha apar?ncia — branca, parecendo europ?ia ou americana – talvez at? ajude: talvez eu n?o seja vista da maneira como seria uma mulher mo?ambicana, mas como uma pessoa que vem de fora designada para ajudar.


 Como voc? espera vencer essa discrimina??o?


Talvez eu n?o ven?a. Talvez consiga apenas abrir um pequeno espa?o.


 Que outra contribui??o voc? espera levar a Mo?ambique?


Primeiro de tudo, quero aprender com eles. N?o digo que vou l? para ensinar. No aprendizado, a gente vai encontrando elementos em que se pode contribuir. N?o vou l? para transformar o pa?s, nem para propor algo novo. Quero  aprender, interagir, ajudar naquilo que for poss?vel, respondendo a um chamado de Deus ao meu cora??o. Dando aulas no semin?rio, estarei indiretamente trabalhando com v?rias comunidades, pois os pastores(as) s?o multiplicadores da f?.


 Quanto tempo voc? dever? ficar em Cambine?


Tr?s anos, com a gra?a de Deus. N?o posso me esquecer nunca da miseric?rdia dEle.


 Algo a preocupa? (a pergunta parece surpreend?-la e ela demora alguns segundos para responder.)


Preocupo-me apenas em ser aprovada; encontrar-me na condi??o de "obreira aprovada". (2 Tim?teo 2.15).


 E o que mais te d? vontade de louvar? (seu rosto ilumina-se com um sorriso largo)


A oportunidade ?nica na minha vida! A alegria de poder vivenciar essa experi?ncia transcultural. Vivenciar Deus no meio deles. N?o h? palavras para descrever esse sentimento. A gente sente aquela confian?a que transcende o natural. Tem a convic??o de que este ? momento. Estou indo. N?o posso me comparar a Abra?o, mas ? como se ouvisse a voz: "Sai da tua terra e da tua parentela… " As demais coisas ser?o acrescentadas. Como eu j? disse, olhando de uma perspectiva racional, pode parecer loucura a minha decis?o, mas o que seria de n?s se os ap?stolos pensassem assim? Se os primeiros mission?rios americanos que vieram ao Brasil pensassem assim? Algu?m tem que responder ao chamado de Deus. Como metodistas brasileiros, somos  devedores do trabalho mission?rio.


E como a Igreja no Brasil pode ajudar?


Em primeiro lugar, com ora??o. N?o me abandonem, n?o esque?am de mim. Se o esp?rito est? forte, o corpo acompanha. Em segundo lugar, sendo solid?rio e estando em contato. Meu e-mail ? maisaafrica@gmail.com. S? n?o vou poder responder ?s mensagens com muita regularidade. A cidade mais pr?xima com Internet fica a uns 500 km de dist?ncia…


 


Suzel Tunes


 


 

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