II Tm 1.6
Dois conceitos
Esta frase apresenta dois conceitos b?blico-teol?gicos de fundamental import?ncia para a vida de todos n?s: Reavivar o Dom. Estas duas palavras cont?m grandes verdades e transmitem a mensagem de Deus de uma forma muito clara e objetiva.
Reavivar
A palavra grega traduzida para reavivar tem o sentido de "soprar as brasas quase apagadas", numa refer?ncia ao despertamento e ao reavivamento vocacional e ministerial que deve ser uma constante na vida das pessoas vocacionadas por Deus.
Soprar ? uma atitude que parte da pessoa. ? uma a??o no sentido de buscar renova??o e for?a para o cumprimento da voca??o. ? o ato de pegar o fole e soprar as brasas quase apagadas. Paulo indica v?rias destas a?es utilizando a express?o "Tu, por?m…".
O dom
A palavra grega utilizada tem o sentido de "favor imerecido" ou "dom supremo". Trata-se de carismas que Deus concede. S?o carismas pastorais e laicos atrav?s dos quais o Esp?rito Santo age na vida do crist?o e da Igreja na medida em que o crist?o se oferece a Deus em resposta ao Seu amor. O carisma se evidencia de forma comunit?ria e n?o individualizada, pois ele se expressa por meio da dedica??o da pessoa ao servi?o de Deus e por meio da Sua Gra?a.
Dom indica uma fun??o, ordin?ria ou extraordin?ria destinada ? edifica??o do Corpo de Cristo. Esta palavra aparece 17 vezes no Novo Testamento. Em seis delas o sentido ? de dom gratuito. Nas outras vezes o sentido ? de edifica??o da Igreja (Rm 12.6; I Co 1.7; 7.7; 12.4; 12.9; 12.2; 12.30; 12.31; I Tm 4.14 e I Pe 4.10).
Tu, por?m
Com esta express?o o ap?stolo introduz v?rias a?es que o disc?pulo deve exercitar como um fole sendo utilizado para produzir vento e ativar uma combust?o. Por?m ? uma conjun??o que indica uma a??o contr?ria, uma a??o tensional e provocativa de algo novo. Indica tamb?m uma rea??o positiva e crescente em busca de uma viv?ncia renovadora.
1. Tu, por?m, fortifica-te na gra?a de Deus – II Tm 2.1
O que faria de Tim?teo um disc?pulo preparado para enfrentar as situa?es da vida e do minist?rio era o fortalecimento na Gra?a de Deus. O prop?sito do ap?stolo era torn?-lo um adulto na f?, um crist?o maduro e um disc?pulo na medida e estatura de Cristo. Como ? um minist?rio exercido sob a gra?a de Deus?
a) Envolve outras pessoas – II Tm 2.2. O minist?rio n?o ? isolado, centralizado, personalista, autorit?rio ou asc?tico. Ele ? envolvente e integrador.
b) Transmite princ?pios de vida – II Tm 2.2. A transmiss?o das verdades divinas se d? atrav?s do discipulado e da conviv?ncia entre lideran?a e liderados.
c) Desenvolve empatia – II Tm 2.3. O minist?rio sob a gra?a de Deus tem empatia com a dor e sofrimento dos outros.
d) ? perseverante – II Tm 2.6. Assim como o lavrador acredita na semeadura e trabalha arduamente para ver o fruto do seu labor, assim ? o l?der que vive sob a gra?a de Deus, tamb?m acredita na semente do Evangelho e no trabalho da educa??o e forma??o de seus liderados.
e) Pondera na Palavra de Deus – II Tm 2.7. Ponderar n?o ? uma obriga??o, tampouco ordem do ap?stolo. Ponderar significa considerar, avaliar, meditar, levar em conta, pois as implica?es da obedi?ncia a Deus s?o fortalecidas pela Gra?a de Deus.
f) Para Jo?o Wesley, o "homem debaixo da gra?a tem os olhos que se abrem para ver o am?vel e grandioso amor de Deus estampado na face de Jesus Cristo".[2]
2. Tu, por?m, fala o que conv?m ? s? doutrina – Tt 2.1
A carta endere?ada a Tito apresenta um tu, por?m que tamb?m ? dirigido ? lideran?a da igreja. A orienta??o ? para que os l?deres ensinem em todo tempo a s? doutrina aos diversos grupos presentes na igreja. Em destaque, os idosos (Tt 2.2), as idosas (Tt 2.3-5), os jovens (Tt 2.6) e os servos (Tt 2.9-10). A s? doutrina apresenta as caracter?sticas que acompanham a vida de quem foi alcan?ado pela gra?a de Deus. Este ensino tem as seguintes caracter?sticas: integridade, rever?ncia, linguagem sadia, irrepreens?vel e viv?ncia da Palavra de Deus para envergonhar os falsos mestres.
3. Tu, por?m, segue o meu ensino – II Tm 4.5
O conhecimento da Palavra de Deus seria um estimulo para a realiza??o do minist?rio de Tim?teo num contexto de oposi??o e de lutas. Para tanto, o ap?stolo orienta seu disc?pulo a seguir o seu ensino.
a) Exercitar a piedade – I Tm 4.7b-8. Trata-se de uma refer?ncia a espiritualidade. Espiritualidade n?o ? o isolamento do mundo ou fuga dos problemas da vida. N?o se trata de estere?tipos ou modismos que v?o sendo criados e colocados como padr?o. Espiritualidade tem a ver com a vida integral, com o todo da vida humana. Ela acontece em meio ao cotidiano. Ela ? a viv?ncia do conhecimento de Deus e das experi?ncias advindas deste conhecimento. Espiritualidade ? compromisso e viv?ncia dos mais altos valores da Vida e do Evangelho de Jesus Cristo.
b) N?o negligenciar o dom – I Tm 4.14. ? o carisma dado por Deus e reconhecido pela Igreja. No caso, o dom de ensino e o minist?rio ordenado de Tim?teo. "Aprendemos que um carisma n?o ? algo que seja outorgado por Deus de forma permanente e est?tica; seu vaso humano tem de us?-lo e desenvolv?-lo. ? verdade que Tim?teo era jovem e inexperiente. Mas convinha que ele se lembrasse (e tamb?m lembrasse os outros) de que Deus o havia chamado (atrav?s da palavra prof?tica), o havia capacitado (atrav?s do dom espiritual) e o havia comissionado (por meio das m?os dos presb?teros), pois assim ele n?o seria desprezado em face de sua juventude, nem o seu ensino seria rejeitado".[3]
c) Ter cuidado da doutrina – I Tm 4.16. Trata-se de uma orienta??o insistente do ap?stolo para com o seu disc?pulo. Cuidar da doutrina ? um imperativo e zelo pelo fundamento da Igreja.
d) Ter cuidado de si mesmo – I Tm 4.16. Tim?teo j? conhece a fragilidade da vida humana e recebe a orienta??o para desenvolver o cuidado consigo mesmo. Que cuidado ? este? Cuidado com a sa?de (I Tm 5.23); cuidado com o dom (II Tm 1.1); cuidado com a tradi??o do conhecimento obtido (II Tm 3.14, 1.14); cuidado com os relacionamentos (I Tm 5.1-3); cuidado com a fam?lia (Hb 13.1-6).
4. Combate o bom combate da f? – I Tm 6.12
O combate da f? valia a pena ser combatido, pois tinha o apelo de promover as virtudes que devem acompanhar a vida do crist?o e l?der servo. Paulo d? o seu testemunho de ter combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a f? (II Tm 4.7). Em outras palavras, combater o bom combate tem a ver com o carisma recebido de Deus. Desta forma, o minist?rio ? o exerc?cio cabal da vontade do Senhor. De que forma combater o bom combate? O texto de Romanos 12.9-21 nos responde: com amor, com zelo, com alegria e choro e fazendo o bem. Em outras palavras,
"A lideran?a n?o se ganha mediante a promo??o, mas atrav?s de muita ora??o e l?grimas. ? obtida pela confiss?o de pecados, pela sondagem cuidadosa do cora??o, pela humildade diante de Deus, pela auto-entrega, pelo corajoso sacrif?cio de cada ?dolo, pela tomada audaciosa, decidida, incondicional, sem reclama?es, da cruz, e pela contempla??o incessante, eterna, de Jesus crucificado. A lideran?a n?o ? ganha mediante a procura de grandes coisas para n?s mesmos, mas, antes, como Paulo, mediante o considerar daquilo que ? ganho, para n?s, como perda, por causa de Cristo. Eis o grande pre?o a ser pago sem qualquer hesita??o, por todo aquele que n?o deseja ser apenas um l?der, mas um verdadeiro l?der espiritual de homens, l?der cujo poder ? reconhecido e sentido no c?u, na terra, e at? mesmo no inferno".[4]
"Que o Senhor seja com o teu esp?rito" (II Tm 4.22).
Bispo Josu? Adam Lazier
Minist?rio Tu, por?m
[1] Para aprofundar esta reflex?o ver nossa publica??o: Lazier, Josu? Adam. Reaviva o dom – discipulando l?deres. S?o Paulo. Editora Cedro. 2006.
[2] HINSON, William J. A din?mica do pensamento de Wesley. S?o Paulo, Imprensa Metodista, 1997, p.49.
[3] STOTT, John. A Mensagem de I Tim?teo e Tito. S?o Paulo, ABU, 2004, p.123.
[4] Citado em SANDERS, Oswald J. Lideran?a espiritual. S?o Paulo, Editora Mundo Crist?o, 1985, p.13.