SE O GR?O N?O MORRER Pensando na dimens?o escatol?gica do povo de Deus
A mensagem da P?scoa que celebramos recentemente desperta em n?s o canto da f? e da ressurrei??o e o encanto da vida. ? que a morte, na perspectiva da B?blia, faz nascer o novo. Assim ? com o gr?o de trigo que para gerar vida precisa morrer: "se o gr?o de trigo, caindo na terra, n?o morrer, fica ele s?; mas, se morrer, produz muito fruto" (Jo?o 12.24).
Os evangelistas viram estas duas realidades na paix?o de Cristo: o morrer e o viver. No morrer de Cristo Mateus viu o v?u do Templo se rasgar e percebeu terremotos (Mt 27.45-56); Marcos viu trevas e ouviu os brados de Jesus na cruz (Mc 15.33-41) e Lucas viu as trevas, o v?u se rasgar e ouviu a confiss?o atemorizada do centuri?o romano (Lc 23.44-49). No viver de Cristo Mateus viu rel?mpagos anunciando a ressurrei??o (Mt 28.1-8); Marcos observou o espanto das mulheres ante o t?mulo vazio (Mc 16.1-8) e Lucas lembrou que a ressurrei??o de Cristo n?o deveria causar tanta surpresa, pois fora anunciada aos disc?pulos (Lc 24.1-11). Mas a vida ? assim mesmo: marcada pela tens?o entre a fragilidade e evid?ncia da precariedade da vida humana (morrer) e a for?a gerada pela f? e pela coragem inerente na vida humana (viver). Nas palavras do salmista o choro ? passageiro, pois a alegria vem pela manh? (Sl 30). Para o poeta Thiago de Mello
Faz escuro (j? nem tanto),
Vale a pena trabalhar.
Faz escuro, mas eu canto
Porque a manh? vai chegar.
Esta mensagem nos remete ao sentido escatol?gico do povo de Deus. Escatol?gico porque vivemos a tens?o do morrer e do viver, do agora e do ainda n?o, dos finais dos tempos, mas do ainda h? muito tempo, do cronos (rel?gio) e do kair?s (tempo de Deus). ? a tens?o da vida que marca o povo de Deus.
? certo e reconhecido por muitos que vivemos uma exacerba??o do agora, do presente, do j?, do possuir, do fazer, do conquistar, enfim do cronos, do rel?gio que marca a hora e o dia. Isto ? ineg?vel nos dias em nossos dias, at? como resultado do fen?meno religioso que temos experimentado nos ?ltimos anos. Muitos afirmam que "agora a igreja vai crescer", "agora os problemas est?o resolvidos", "agora estamos unidos", "agora vamos orar juntos", "agora as coisas mudaram", "agora…", "agora…". Mas ? preciso que se diga: "j?, mas ainda n?o", "ainda n?o…", "ainda… n?o", na percep??o de que n?o vivemos o sentido escatol?gico como povo de Deus, ou seja, n?o temos vivido integralmente como povo de Deus dos ?ltimos tempos, como se f?ssemos a ?ltima gera??o a ser sal da terra e luz do mundo, embora n?o posssamos considerar isto como algo absoluto. ? o agora, mas ainda n?o, pois ? o tempo oportuno (kair?s) que Deus nos oferece. ? o tempo de viver a espera, ? o tempo de ter esperan?a.
Viver a dimens?o escatol?gica do povo de Deus ? viver a integralidade de ser povo de Deus, ou seja, viver o Evangelho integral, desenvolver a santidade b?blica na sua amplitude, conformar-se com as exig?ncias da justi?a do Reino de Deus, desenvolver a espiritualidade do amor e da ternura, aceitar as ren?ncias que a nova vida exige. Se o gr?o de trigo n?o morrer n?o haver? p?o e n?o haver? a integralidade da vida.
Assim sendo, a intoler?ncia que marca muitos dos nossos relacionamentos n?o nos confere a integralidade como povo de Deus. Da mesma forma a discrimina??o, seja por quest?es raciais, morais, ?tnicas, ideol?gicas, teol?gicas, doutrin?rias, geogr?ficas, tamb?m ferem a integralidade do povo de Deus. Quest?es que passam pelas disputas de poder, que marcam os di?logos que criam estigmas ou que caracterizam comportamentos e estere?tipos, s?o agress?es cometidas contra a integralidade do povo de Deus. As pr?ticas triunfalistas, messi?nicas, que n?o t?m em si as marcas do gr?o de trigo que deve morrer para viver, negam a integralidade do povo de Deus. A viol?ncia praticada pelo sil?ncio, pelas palavras mal ditas, pela omiss?o, pelo comportamento ofensivo e dissimulado, pelas palavras abusivas, pelas evasivas, pelas atitudes arrog?ncia, pela viol?ncia verbal e f?sica, nos impedem de vivermos a integralidade do ser povo de Deus. Quando pr?ticas anti?ticas, imorais e antievang?licas se alojam em nosso meio, negamos o que professamos e deixamos de ser sal e luz
Talvez seja um sonho desejar viver a integralidade do ser povo de Deus. Talvez eu seja um sonhador ao quere ver o povo de Deus vivendo a dimens?o escatol?gica da f? e da miss?o. Mas eu quero sonhar e enquanto isto ouvir os sussurros de Deus e desejar…
Desejos.
Ricardo Gondim
Desejo conquistar a mim mesmo para
n?o sonhar os sonhos do enlouquecido
Desejo aceitar as feridas de quem ama para
quebrar o feiti?o do adulador.
Desejo a quietude do s?bio para
desprezar a festa do farsesco.
Desejo sentar com o humilde para
desdenhar a sedu??o do rei.
Desejo ser filho amado de Deus para
n?o tentar ser dono do sobrenatural.
Desejo viver contente para
n?o me enamorar da riqueza.
Desejo vestir-me de bondade para
nunca valer-me da vingan?a.
Desejo a sombra dos simples para
n?o me conduzir pelo sol do soberbo.
Desejo esquecer sonhos infantis para
viver com a grandeza da crian?a.
A vida ? bonita e os anos t?o ariscos.
Tenho tantos desejos e t?o pouco tempo para
cumpri-los.
Como nunca deixarei de almejar,
quero s? desejar certo.
Que sejamos despertados para o sonho, para o canto, para o encanto da vida e para o "j?, mas ainda n?o". ? isto o que eu desejo e em cuja perspectiva tenho esperan?a de estar cumprindo com o meu minist?rio.
Bispo Josu? Adam Lazier
Abril/2007