A voc? que sofreu o impacto de uma morte
"Jamais pensei que o crist?o estivesse livre do sofrimento porque o nosso Senhor sofreu. Cheguei ? conclus?o de que ele sofreu n?o para nos livrar do sofrimento, mas para nos ensinar a viver com ele, pois sabia que n?o h? vida sem dor" Alan Paton
Aconteceu. E voc? vive toda as emo?es da dor, do sofrimento, da separa??o e da saudade. N?o existem palavras no vocabul?rio humano para descrever a profundidade desta experi?ncia complexa.
H? uma ci?ncia, no entanto, que busca pesquisar e compreender o impacto da morte. ? chamada de Tanatologia (tanato ? a palavra grega para morte), e pode nos ajudar a ampliar a vis?o crist? de como viver nossa vida diante da realidade da morte.
Voc? est? de luto. Antigamente o luto se expressava em janelas cerradas, la?o no umbral da porta, as mulheres vestindo roupas pretas, meses depois o roxo, lil?s ou xadrezinho preto e branco. Mas foram-se mudando os h?bitos e tradi?es. E a expans?o do Evangelho, com a certeza da salva??o eterna em Cristo e a alegria da ressurrei??o, desfez muitos desses costumes que exteriorizavam o luto. H? quem ache que a f? em Cristo e o amor de Deus devem consolar o crist?o de tal maneira que consiga superar a sua tristeza interior em pouco tempo. A verdade ? que cada pessoa enlutada tem uma experi?ncia e rea??o diferente ? sua dor. ? preciso respeitar a realidade de cada um, lembrando que Cristo nos ensinou a n?o julgar para n?o sermos julgados. A perda sempre deixa uma ferida no cora??o.
Afirma um pensador crist?o: "A asser??o que a dor de uma separa??o ? uma experi?ncia humana que se prolonga atrav?s da vida por causa da necessidade do apego e a inevit?vel realidade das perdas ? teol?gica, ao mesmo tempo que psicologicamente verdadeira. Nosso apego a pessoas e coisas neste mundo ? uma continuidade do amor de Deus por tudo que ele criou". Este amor consola, ao mesmo tempo em que aceita e valida o processo pelo qual se passa no luto.
Este processo ? chamado na Tanatologia de “trabalho de luto” e exige a participa??o ativa do enlutado. Precisamos lembrar que a morte encerrou o nosso relacionamento direto com a pessoa querida, mas n?o terminou o nosso relacionamento atrav?s da mem?ria, das lembran?as. Isto pode, inclusive, se expressar em sonhos, em pressentimentos de que a pessoa querida est? junto a n?s. Mas n?o h? nada de sobrenatural nisso. ? a vida reajustando-se ao impacto sofrido. O espiritismo d? a esses fatos interpreta?es que ferem o ensino b?blico e o conceito cient?fico, buscando um falso consolo no contato com o “esp?rito" que partiu.
Portanto, teremos de “trabalhar” em nossa mente e cora??o todas estas mem?rias que produzem sentimentos e emo?es, questionamentos e d?vidas. Experimentamos o p?nico, culpa, raiva, revolta, solid?o, tristeza, ang?stia, dificuldades de concentra??o; e ainda sintomas como cansa?o, exaust?o, dores no corpo, altera?es na respira??o. Neste per?odo a sexualidade ? tamb?m atingida. Nossos corpos, mentes e esp?ritos precisam da compreens?o e aceita??o destes sintomas e de tempo para recuperar forcas e se equilibrar novamente.
Neste per?odo ? recomend?vel continuar as tarefas e responsabilidades normais tanto quanto poss?vel. e ? s?bio n?o tomar qualquer decis?o maior que depois possa levar ao arrependimento. Por exemplo: uma vi?va querer escapar das lembran?as que o ambiente em que vive traz do marido falecido, vendendo, de imediato, a sua casa e mudando-se, com poss?veis perdas financeiras irrecuper?veis. Ou um vi?vo logo contrair outro casamento. As decis?es maduras e eficazes precisam do retorno do equil?brio.
N?s voltamos a este equil?brio ? medida que integramos a realidade da dor da perda ? nossa vida, n?o esquecendo a pessoa amada, mas encontrando o espa?o certo para sua lembran?a e significado em nossa vida. Eventualmente, ao atravessar esta experi?ncia, voc? se descobrir? como uma nova pessoa, mais sens?vel ao sofrimento alheio e com uma nova dimens?o de vida.
Porque este “trabalho de luto" exigir? muito de voc?, seja paciente e carinhoso consigo mesmo, cuidando bem de sua sa?de, alimenta??o e descanso, procurando a comunidade da f? e buscando estar com pessoas que o valorizem e fa?am bem. O di?logo sobre seus sentimentos e experi?ncias com as pessoas mais ?ntimas e compreensivas poder? ser muito terap?utico.
Se voc? que est? de luto tem filhos menores, n?o esconda deles suas emo?es. Eles amadurecem quando inclu?dos em sua tristeza. Nada de lam?rias constantes diante deles, nem a exig?ncia de que tenham um comportamento adulto, pois a crian?a expressa de outra maneira a tristeza que tamb?m est? atravessando. O perigo ? que a crian?a (ou jovem ou adulto), que tem uma vis?o um tanto irreal dos acontecimentos, ache que algum ato ou pensamento seu tenha ocasionado a morte do seu querido. Da? a necessidade do di?logo que possa resolver esse falso sentimento de culpa.
Finalmente, lembre-se de que no in?cio do luto a dor vai parecer controlar e dominar o todo de sua vida. Mas, lembremos de Cristo que nos disse: “Bem-aventurados os que choram (os que "trabalham seu luto”), porque ser?o consolados”. Vir? um momento neste processo em que a dor e a saudade, embora ainda conosco, deixar?o de ser determinantes de tudo. Teremos, ent?o, integrado o impacto da morte ao nosso viver, crescido e amadurecido com ele, e renovado for?as para a nossa nova etapa na vida.
Edith Long Schisler
Equipe Multiprofissional do Centro Vivencial para Pessoas Idosas, AMAS ? Igreja Metodista em Florian?polis, SC.
Edith Long Schisler ? educadora em Tanatologia, com certificado do Instituto Nacional de Educa??o para a Morte, nos EUA.