Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 08/04/2011

A mídia e a nossa cidadania

A mídia e a nossa cidadania: o que fazer diante de tantas violências comopastor/a, bispo/a, evangélicos/as e brasileiros/as?

A vivência em sociedade exige mais do que trabalhar para comer e beber. Inclui a  responsabilidade que cada cidadão/ã tem de cooperar para que essa vivência seja o mais qualitativa possível. Daí a relevância de entendermos muito bem o conceito de cidadania e sociedade democrática. Outro aspecto importante da convivência em sociedade é a comunicação. Ela precisa gerar sentidos. A comunicação torna possível  por exemplo, o relacionamento entre  cidadãos/ãs e  estes e o Estado de forma bilateral. Nesse sentido, é importante definir esse termo e diferenciá-lo das “formas” ou “mídias” utilizadas para tal, já que o termo é bem amplo. Faremos uma provocação para uma reflexão sobre o papel da comunicação midiática, problematizando a questão da violência que muitas vezes tem sido banalizada nos vários tipos de relacionamentos existentes na sociedade e, principalmente através da TV, e por incrível que pareça sob a omissão do Estado e a letargia do cidadão /ã.

Somos uma sociedade capitalista e como tal, o individualismo, a competição, o sucesso a qualquer custo, tende a legitimar o lema de que os “fins justificam os meios”. E isso perpassa todas as instâncias sociais, políticas, econômicas e inclusive a religiosa. Dos Reis(2011:01) chama a atenção para o fato de que o capitalismo necessariamente, não está preocupado com a manutenção da democracia como muitas vezes se pensa. Ou seja, não é parte de sua natureza priorizar  valores como; a solidariedade, defender a educação integral do(a) cidadã(o) ou apoiar os excluídos como   índios, negros, quilombolas, homoafetivos, jovens analfabetos, portadores de necessidades especiais, terceira geração e outros. E quando ele apóia ou promove via mídia e defende, podemos ter certeza, de que está  preocupado mais com a questão econômica.

Nesse sentido, o atual modelo econômico é tão  engenhoso que consegue auferir lucros até de uma “marcha prá Jesus”, de “uma passeata gay”  de uma manifestação de moradores que lutam por melhorias em seu bairro e até mesmo de uma tragédia como a do caso “Isabela”. Já temos até uma “teologia” a serviço dos ideais do capitalismo a saber; “teologia da prosperidade”. Isto posto, não é gratuito que aliado à crise ética de nossas instituições, incluindo a religiosa, a violência também tenha se tornado um produto altamente rentável para a nossa sociedade dita “democrática”.

Dos Reis(2011:03)  conceitua o termo democracia a partir da noção de vivência social nas polis gregas. Ou seja, os cidadãos(somente os homens na época), eram todos homens livres que decidiam os rumos da cidade. Diante dos modelos de estados; monárquico(onde só o rei é cidadão) e o Aristocrático(onde só alguns poucos são cidadãos) e o Estado democrático(onde a totalidade da população exerce a cidadania) o que diríamos da sociedade brasileira? Poderíamos abrir muito essa reflexão, mas o nosso recorte é analisar a questão da violência e a mídia enfatizando a cidadania.

Segundo a autora, Democracia não é algo dado, como um decreto. É antes uma construção na qual todos os cidadãos e cidadãs precisam participar. Nesse sentido, muitas conquistas sociais em nosso país são resultados desse esforço civil, da luta do povo e do pleno exercício da cidadania. Dos Reis(2011:03) assim se expressa; “o exercício da cidadania como liberdade de julgar, de deliberar e agir publicamente, junto com seus concidadãos a quem reconhece como iguais, é o que realiza a destinação humana”.

Medeiros(2011: 01) faz uma reflexão que nos ajudará agora a relacionar a mídia ao tema da violência. Segundo o autor, quer seja na escola e em casa diante de toda parafernália programática da TV, quer seja no trabalho nas relações com o chefe e colegas e poderíamos acrescentar até mesmo na igreja, no convívio entre os fiéis e destes com seu líder e dos líderes com os seus superiores, a necessidade da comunicação é crucial. Além do que a possibilidade da violência tem sido muito comum. E ao mesmo tempo em que estamos lidando a todo o momento com uma infinidade de mídias ou formas de comunicação (telefone, e-mail, Ipod, Tablets, mensagem de textos, jornais, cartazes, murais, TV, internet, vídeo-conferência,etc). Paradoxalmente, nessa sociedade avançada e tecnologicamente equipada enfrentamos o grande problema da violência instrumentalizada pela mídia.

Como devemos nos posicionar como cidadãos? Como exercer a nossa cidadania numa sociedade midiática? Que critérios e valores deveremos adotar para que o Estado Democrático, possa garantir à população a liberdade de escolha, de livre expressão e de acesso a informação de qualidade através da TV por exemplo? E em que medida é possível tornar o jornal “Expositor Cristão” numa mídia de tal maneira profética que incomode os interesses de quem pretensamente deseja  controlar as mentes dos nossos irmãos e irmãs brasileiros/as? A omissão é uma forma de violência. Muitas vezes esquecemos que a violência vem “apaisana”, com intimidação, silêncio, bem humorada e até na sua forma mais grotesca como a que aconteceu no Rio de Janeiro recentemente. Todavia, a violência pratica pelo indivíduo ou pelo Estado são sempre bem pensadas.

Michaud(1989: 22) Apud Medeiros(2011:03) nos ajuda a compreender a violência em dois sentidos; a) como estado, b) como um sentimento, um extinto. O primeiro tipo pode ser chamado também de violência “branca”, aquela que é praticada pelas instituições e com muita sutileza, como é o caso de situações de violência no contexto de instituições como a escola, igreja, empresa e na própria omissão do estado. O segundo está relacionado aos atos do indivíduo. Como o Estado pode violentar as famílias? Se omitindo de sua responsabilidade de promover o bem estar social não fiscalizando suas concessionárias e coibindo o “lixo” midiático que a todo instante invadem nossas casas, adoecendo nossas crianças e embotando as mentes de nossos jovens. Por outro lado, Como a cidadania pode ser decisiva para esse basta? Resposta: Através do exercício consciente de nossos direitos e deveres como cidadãos e cidadãs.

Michaud alerta para a espetacularização da violência que seduz a criança e o jovem ao apresentar  conteúdos embalados em “celofane” com muito “brilho” e “fantasia”. Um jeito “adocicado” de insulflar o veneno da violência é despertando o lado instintivo de quem se expõe à exibição diária da banalização de cenas de horror, dor, ódio e catástrofes. Lembremos, que a mídia tem sido um poder sem controle e está a serviço mais do consumismo que da educação e conscientização dos cidadãos que é uma das metas da comunicação social, o próprio termo comunicação, pressupõe gerar sentidos. Urge refletir em que medida a violência que se manifesta na escola, na igreja, no trabalho e em nossas casas não está relacionada com a Massa mídia?

Rev José Roberto Alves Loiola
Pastor metodista
Professor de Teologia na Faculdade Evangélica de Brasília
Coordenador do Ministério Regional de Combate ao Preconceito Racial 5ªRE
Mestre em Ciências da Religião


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, Rosana Maria. Comunicação, educação e produção de sentidos. UFG, 2011.
MEDEIROS, Magno. Cidadania, Mídia e Violência: Levando a questão para a escola. In: Educação para a Diversidade e Cidadania. Módulo III. Goiânia – GO:UFG,2011.
REIS, Helena Esser. Educação para a Diversidade e Cidadania: Fundamentos da democracia: Cidadania e  Justiça. Centro Integrado de Aprendizagem em Rede. Universidade Federal de Goiás,2010.


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