Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Diferentes olhares

 

 Os quatro evangelhos trazem versões distintas do enterro de Jesus. Escritos em épocas diferentes, os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João também eram voltados a públicos distintos. Assim, mudam o enfoque e até mesmo detalhes do relato, como nos mostra a matéria de capa da revista Signos, editada pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas, CLAI, em março de 2007 (nº 43).

 

 Veja o que podemos aprender com cada evangelista, de acordo com o artigo "Como foi o enterro de Jesus?":

Marcos 15.42-47: Segundo Marcos (o evangelho mais antigo), José de Arimatéia era membro do Sinédrio. E, como o evangelista já afirmara que "todo o Sinédrio"havia entregue Jesus à condenação (Mc 15.1), José de Arimatéia não deveria ser um discípulo... Contudo, Marcos afirma também, que José era alguém que "esperava o reino de Deus". Ou seja, era um judeu observador da Lei que buscava com sinceridade o Reino. Assim, ele teria enterrado o cadáver de Jesus justamente para cumprir a Lei de Deus: o Deuteronômio ordenava que nenhum cadáver ficasse exposto durante a noite; ele deveria ser sepultado no mesmo dia de sua morte para não contaminar a terra. O sepultamento de Jesus teria sido bastante humilde, na visão deste evangelista. Ele não menciona que o corpo de Jesus tenha sido lavado ou ungido com azeite ou perfumes, como era o costume da época (talvez por isso ele conta que no domingo de Páscoa as mulheres teriam ido à tumba levando perfumes para embalsamá-lo). Descido do madeiro, Jesus foi sepultado em um "túmulo que havia sido aberto numa rocha". O evangelista Marcos mostra, dessa maneira como o que parece terminar mal e sem esperança esconde, para os que sabem esperar, a boa notícia da ressurreição.

Mateus 27.57-61:Mateus, que escreveu seu Evangelho uns dez anos depois de Marcos, faz algumas mudanças no relato. Ele apresenta José de Arimatéia como discípulo de Jesus. E informa que ele um "homem rico". Provavelmente, Marcos apresenta a Arimatéia como homem rico porque havia em sua comunidade muitas pessoas nessa condição social. Ele teria usado José de Arimatéia como um modelo do discípulo rico capaz de colocar a sua riqueza ao serviço do Mestre. Portanto, segundo Mateus, quem enterrou Jesus foi um discípulo, um homem rico que preparou um enterro digno e até cedeu sua própria tumba. Ele mostra, assim, como até aqueles que parecem estar distantes do Reino de Deus, como os ricos, alvo de duras críticas do Mestre, podem entrar nele se conseguiram se desprender de suas riquezas e usá-las para ajudar os demais.

Lucas 23.50-56: Lucas descreve José de Arimatéia como um homem" bom e justo", membro do Sinédrio. Mas, como alguém justo poderia ter feito parte do tribunal que condenou Jesus? Lucas explica a seguir que José não havia concordado com a decisão e a ação dos demais.Para esse evangelista, Jesus foi enterrado por alguém que percebeu nele algo especial e, por isso, não votou por sua condenação. Ele mostra, assim, que para seguir Jesus é necessário ser fiel aos exemplos e ensinamentos do Mestre, ainda que isso signifique ir contra a opinião dos demais e até cair no ridículo diante dos outros.

João 19.28-30: O evangelho de João relata o enterro de Jesus de modo mais solene e esplêndido que os demais. Como Mateus, diz que José de Arimatéia era discípulo de Jesus, ainda que "em segredo". E conta, também, algo que nenhum outro evangelista havia dito: que Nicodemos o acompanhou, levando uma quantidade de ungüentos aromáticos digna de um rei. Eles prepararam o corpo segundo os costumes judaicos e o sepultaram numa tumba nova, localizada em um jardim. Trata-se de outro detalhe simbólico: os reis de Judá eram sepultados em jardins. O "rei dos judeus", "filho de Davi" não poderia descansar em lugar diferente. Para João, o sepultamento de Jesus foi feito por dois de seus admiradores, pessoas temerosas que o seguiam em segredo e, que afinal, expuseram-se em um momento perigoso, mostrando em público sua devoção por ele. Ele nos ensina, assim, que não é possível seguir a Jesus em segredo. Só quando alguém dá testemunho público de sua fé pode dizer que encontrou a seu Senhor.


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