Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Eles baixaram as armas e pediram oração diz pastor do Morro do Alemão

A guerra para a retomada do Complexo do Alemão deixou um rastro de destruição nas ruas da comunidade. Em vielas e becos, há motos queimadas ou batidas jogadas nos chão, carros virados, postes destruídos, fios arrebentados. Parte da comunidade está sem luz e sem água desde domingo.

A Comlurb, que já não recolhia lixo na favela desde sexta-feira, começou nesta segunda-feira a limpar as ruas, que acumulam montanhas de detritos. Era possível ver também operários do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Rua Joaquim de Queiroz, que dá acesso à Favela da Grota. As obras foram interrompidas na quinta-feira, por causa dos tiroteios.
Em toda a comunidade, é grande a quantidade de casas abandonadas e reviradas, assim como também não são poucas as que estão à venda.

A música evangélica se espalha pela rua, enquanto a família do diácono Walcir Gonçalves põe a casa de Deus e a vida em ordem, depois de dias abrigada com parentes em Piabetá. O som desaparece de vez em quando, engolido pelo ruído dos rasantes do helicóptero da Polícia Civil, que continua vasculhando a região. Com 38 anos de vida e de Complexo do Alemão, o religioso viu e viveu muita coisa, desde décadas de abandono e violência, até a sensação de segurança ontem.
Para ele, o mais difícil, em todos esses anos, era ver o risco que o tráfico representava para a infância e a juventude da região:

— São muitos pratos ofertados. A criança vê a droga, a fartura, e muitas vezes acaba envolvida. Perdemos muitos jovens para as drogas. Muitos conseguimos recuperar, mas o risco é sempre muito grande.

Segundo Walcir, cerca de três semanas antes da invasão, ele sonhou com derramamento de sangue. Assustado, pediu ajuda ao pastor Marcelo Reis e foi procurar os traficantes, para tentar salvá-los:

— Eu disse que eles precisavam se arrepender e deveriam se entregar, se não quisessem morrer. Eles baixaram as armas e pediram uma oração. Nós oramos para eles.

A mulher de Walcir, Ruth Cristina, de 18 anos, contou que, aconselhada pelas autoridades, a família foi para a casa de parentes em Piabetá, até que a operação terminasse. Agora, os moradores sonham com dias melhores:

— A gente espera que a vida melhore agora para o povo daqui – disse Ruth.

A irmã dela, Ester Cristina, agora sonha com uma profissão rara naquelas paragens: ela quer ser policial.

Sentada numa escadaria, observando a passagem da equipe da Coordenadoria de Recursos Especiais, Joana de Oliveira, de 79 anos, comentou que há muitos anos não via uma paz como a que a comunidade está vivenciando neste momento:

— Só no tempo em que me mudei para cá, há 40 anos.


Posts relacionados

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães