Toda sexta-feira, cerca de mil jovens v?o ao Br?s assistir a missa com luz negra e dan?ar o tecno de Jesus na Cristoteca
Fotos Danilo Verpa/Folha Imagem/![]() | Padre faz missa na abertura da santa balada, com luz negra e tudo |
ADRIANA K?CHLER
DO GUIA DA FOLHA
5/02/2007
Se o electro ? por n?s, quem ser? contra n?s? Substitua o electro acima por rock, reggae, ax? e at? psy-trance, e a frase ainda servir? como slogan para a Cristoteca, balada que re?ne cerca de mil jovens crist?os e simpatizantes toda sexta-feira na comunidade Alian?a da Miseric?rdia (r. Monsenhor Andrade, 746, Br?s, S?o Paulo, SP).
O promoter da festa e futuro padre Vanderson Costa, 23, ? quem explica: “A evangeliza??o noturna usa um elemento do contexto jovem, a m?sica, para alcan?ar o jovem. A diferen?a ? que uma balada secular quer ganhar dinheiro em cima da divers?o. Nossa finalidade ? evangelizar atrav?s dela”.
A divers?o funciona assim: ?s 23h30 come?a a missa, num grande galp?o, com luz negra, e um padre conduzindo. Maria est? de um lado do padre, a banda de outro, dan?arinos em volta. ? 1h30, entra o DJ e depois uma banda. Rola trenzinho, rodinha de break. E a galera dan?a como se estivesse numa rave at? o galo da missa cantar.
Ambiente aparentemente prop?cio para ficadas, certo? Nem tanto assim, afirma, de camisa da M. Officer, o simp?tico Vanderson, que, se n?o fosse um pr?-padre, seria um bom partido em qualquer balada. “Grande parte dos jovens que vem s?o casais de namorados mas tamb?m v?m jovens que procuram namorados, e a gente n?o acha isso errado.”
M?sica perigosa
Errado mesmo ? quando um casalzinho decide “avan?ar o sinal”. A? ? hora de chamar a “equipe de evangeliza??o corpo-a-corpo”. A miss?o: fazer “interven?es” com quem esteja alcoolizado, fumando ou com casaizinhos muito animados. “Propagamos a castidade, o namoro com respeito m?tuo, sem tomar posse do corpo um do outro. Ent?o, com muito jeito, essa equipe tamb?m entra em contato com os casais que ainda n?o estejam inseridos nessa mentalidade.”
A patrulha ? uma boa id?ia, segundo o padre Jo?o Henrique, 51, italiano que segue a linha da renova??o carism?tica (ou linha padre Marcelo), buscador de “ovelhas perdidas” e um dos criadores da balada.
“As casas noturnas t?m aqueles caras de terno preto e tr?s metros de altura, armados, prontos para intervir em casos de pessoas que incomodam os outros. A Cristoteca ? um ambiente saud?vel.”
Interven??o direta rola mesmo ? sobre a m?sica: do reggae ao rock, todas as letras t?m de falar de Cristo. At? (e principalmente) a eletr?nica, comandada pelos DJs da equipe Electrocristo. “? um estilo de m?sica muito perigoso”, esclarece Vanderson.
“Cada som mexe com uma parte do corpo. Assim, te influencia a fazer movimentos que talvez n?o sejam do seu costume. Pode levar a uma agressividade, a uma sensualidade, o que n?o ? o nosso objetivo”, diz.
Padre Henrique explica que realmente determinados tipos de m?sica suscitam instintos negativos de viol?ncia, de descontrole emocional. E que isso “n?o ? uma descoberta da igreja, mas do FBI”, prega.
Na d?vida, nenhuma m?sica eletr?nica fica mais de cinco minutos s? no tunts-tunts. Quando voc? menos espera, a mensagem de Jesus chega via progressive ou psy. “Se algo errado acontece, a gente p?ra o som, e fala: “Galera, vamos rezar'”, diz o DJ L?o Guimar?es.
Cleber Marques Ramos, 21, ? um adepto do estilo clubber crist?o. “O tecno mundano tem muita galinhagem, passa-passa de m?o, beija um, beija outro. Antes eu gostava de samba, de black. Agora s? me dedico ao tecno de Jesus.”
Mas nem s? da palavra de Deus vive o homem, e os jovens da Cristoteca tamb?m ouvem outros sons. As amigas Mayara Milinavicius, 16, que toca teclado na igreja, e Rafaela Maia, 16, citam: Inimigos da HP, Jeito Moleque, Charlie Brown Jr…
Charlie Brown, meninas? Com aquelas letras cheias de “Eu n?o sei fazer poesia, mas que se f…”? “Dessas partes a gente n?o gosta. A gente pula.”
Drinques divinos
As meninas se incomodam com baladas em que todo mundo fuma, bebe, briga. L? n?o rola nada disso. Os pais adoram. ? uma ben??o! Se algu?m quiser encher a cara, a op??o mais louca s?o os “cristodrinques”, batidas doces, esfuma?antes e n?o- alc?olicas. No card?pio, n?o tem capeta, ? claro, mas voc? pode escolher entre o Apocalipse (suco de uva, hall's, energ?tico e leite condensado), o Coquinho de Deus (leite de coco, soda, energ?tico e leite condensado) ou o Madre Teresa (pa?oca, p? de guaran?, a?a?, leite condensado e creme de leite), oferecidos a apenas R$ 2 pelo mission?rio dos drinques Jeferson Santos Barbosa.
Na fila para comprar o seu est? o casal Roberta Ferreira, 18, e Rafael Pessuto, 18, que namora h? um m?s e aprecia o ambiente saud?vel em v?rios aspectos. “Ficar n?o ? saud?vel; ? como se voc? estivesse usando a outra pessoa”, proclama Roberta.
Uma mulher santa
Ali?s, achar um casal ficando ? miss?o ?rdua nas pistas do Senhor. E a?, Augusto C?sar, j? ficou com algu?m aqui? “Gra?as a Deus n?o.” Gra?as a Deus? “Quer dizer, ainda n?o. Ficar por ficar n?o ? legal. A gente conversa, pega o telefone, marca outro dia.”
Nova tentativa. Fernando Henrique Ferreira, 18, j? ficou, mas n?o exatamente l?. “Quando a gente v? que t? pintando clima, vai l? fora pra respeitar.”
As cantadas n?o seguem o padr?o convencional nem na comunidade da Cristoteca no Orkut (que tem 6.400 membros). Em um post, o cristotequeiro Marcos Andr?, 18, anuncia sua pr?xima balada: “Vou estar l? louvando muito e, quem sabe, encontrar uma mulher santa. Porque nem toda garota entende esse papo de retiro, de s?bado ? tarde na igreja, sabe como ?”.
Nem todo mundo entende. “Quando voc? fala que ? da igreja, as pessoas acham que voc? passa tr?s horas com o ros?rio na m?o, de vestido comprid?o e orando. Rola um preconceito”, diz Shirley Lisboa, 22, que adora Black Sabbath. Ela resume a estrat?gia de sucesso da Cristoteca. “Eles misturam letras cat?licas com um som mais puts-puts pra entreter. Porque, se p?em aquelas m?sicas mais “oooo”, ? sono na certa. Todo mundo dorme.”

