Segunda-feira, 29 de janeiro de 2007 |
Recado ?s igrejas: falem mais alto
Por Edelberto Behs
NAIROBI, 29 de janeiro (ALC) – Na abertura do F?rum Social Mundial (FSM) 2007, reunido pela primeira vez na ?frica, de 20 a 25 de janeiro, a co-presidente da organiza??o Paz Mulher ao Redor do Mundo, Kamia Bhasan, carregava cartaz no qual se lia: “O sonho americano criou um pesadelo para muitos”.
De certa forma, o cartaz da ativista indiana traduz o que sete edi?es do FSM v?m enfatizando na sua bandeira de lutas: os recursos naturais s?o limitados, os pa?ses credores n?o podem fazer da d?vida externa dos pa?ses pobres a sua caderneta de poupan?a, sem uma justa distribui??o da riqueza n?o haver? paz.
Essa bandeira de luta desdobra-se em muitas outras, todas relacionadas, de algum modo, ao mote maior: ? imposs?vel a paz sem a justi?a, o que, ali?s, ? um princ?pio j? definido no texto sagrado dos crist?os. A explora??o de recursos naturais da ?frica (por estrangeiros) e a falta de acesso ? ?gua pela popula??o pobre do continente foram temas que apareceram em v?rios momentos do s?timo FSM.
Na pr?pria capital do Qu?nia, 50 mil moradores de Nairobi, que deixaram de pagar suas contas nos ?ltimos meses, correm o risco de ficar sem ?gua, noticiou o jornal The Standard, da capital queniana, no dia 18 de janeiro, relata mat?ria da ag?ncia Carta Maior. O direito ? ?gua e ? moradia justifica o slogan deste FSM reunido em terras africanas: “Lutas populares, alternativas populares”.
O F?rum Urbano Mundial da Organiza??o das Na?es Unidas (ONU), reunido em 2002 tamb?m em Nair?bi, revelou dados alarmantes sobre a faveliza??o na ?frica. Na Eti?pia, 99,4% da popula??o urbana vivem na favela; na Tanz?nia, esse percentual desce um pouco, para 92,1%, e para 85,7% no Sud?o.
Taoufik Ben Abdalla, que integra o comit? organizador africano do FSM 2007, comentou para o jornal ?frica Flame que apenas 50 dos 850 milh?es de habitantes do continente africano s?o “cidad?os verdadeiros” com direitos b?sicos atendidos. Em Nairobi, 57% de sua popula??o vivem com menos de um d?lar por dia!
“Deus chora”, disse o Pr?mio Nobel da Paz, arcebispo anglicano Desmond Tutu, ao falar na Bas?lica Cat?lica Romana da Sagrada Fam?lia de Nairobi aos participantes do F?rum Mundial de Teologia e Liberta??o, no s?bado, 20. O arcebispo sul-africano enfatizou:
– Deus v? o que est? acontecendo no Zimb?bue, na Nig?ria, na Eti?pia, na Palestina, e Ele chora. T?m pessoas jogando comida fora e t?m pessoas passando fome. Deus nos diz: por favor, ajudem-Me para que possamos ter um outro mundo, um mundo onde os ricos possam partilhar com os pobres e ajudar uns aos outros.
Tutu lembrou, ainda, de ditado africano, que diz: “Uma pessoa s? ? pessoa para outra pessoa”. E emendou: “N?s precisamos de outros seres humanos para sermos humanos. Somos feitos para ser fam?lia. Nunca vamos ganhar a guerra contra o terror enquanto existirem pessoas desesperadas, doen?as e pobreza”, admoestou.
No semin?rio sobre a D?vida Ileg?tima, a Pr?mio Nobel da Paz 2004 e fundadora do movimento Cintur?o Verde, a queniana Wangari Maathai, destacou que o pagamento de d?vidas ainda ? o maior obst?culo na ?frica, ?sia e Am?rica Latina no combate ? pobreza de suas popula?es.
“N?s devemos pedir aos governos dos pa?ses e ?s institui?es financeiras internacionais para questionarem seus padr?es de corre??o e justi?a, e ver como ? ileg?timo o encargo da d?vida para os pa?ses pobres”, destacou Maathai. “Eles sabiam que o povo n?o poderia pagar a d?vida, que a paga, agora, com a sua vida”, emendou.
Maathai lembrou, segundo a rep?rter Susanne Buchweitz, que milh?es de pessoas est?o morrendo porque n?o t?m acesso a rem?dios e hospitais, pois os governos gastam os recursos no pagamento da d?vida externa. A ativista queniana deixou um recado muito claro, dirigido ?s igrejas:
– As igrejas t?m a autoridade moral e t?m muitos membros, mas ter?o que falar mais alto.
Na abertura do FSM de 2007, o ex-presidente de Z?mbia, Kenneth Kaunda, destacou que na ?frica, e em especial no Qu?nia, s?o as igrejas que ocupam o poder de mobiliza??o popular, o que antes estava nas m?os dos movimentos de independ?ncia, relata mat?ria da ag?ncia Carta Maior.
Para o franciscano ga?cho Aldri Crocolin, que participou da s?tima edi??o do FSM em Nairobi, se a igreja ficar ao lado dos pobres, ela recupera um papel que perdeu quando foi cooptada pelo Imp?rio Romano. “Nosso papel n?o ? o de ficar fazendo belos cultos, mas, como disse Jesus, o de lutar para que todos tenham vida e a tenham em abund?ncia”.
Agora, ser? preciso escutar com aten??o de quantos decib?is ser? o grito das igrejas nos tantos eventos articulados no s?timo FSM para o decorrer de 2007 em favor da vida, da paz e da justi?a.
Fonte: Ag?ncia Latino-Americana e Caribenha de Comunica??o
Veja tamb?m: A participa??o das igrejas crist?s no evento. Mat?ria divulgada pela Ag?ncia Soma. CLIQUE AQUI