Islã cresce na periferia _ Imprensa e Religião

Isl? cresce na periferia das cidades do Brasil
Jovens negros tornam-se ativistas isl?micos como resposta ? desigualdade racial. O que pensam e o que querem os mu?ulmanos do gueto


Eliane Brum







  O ISL? NA LAJE
Carlos Soares Correia virou Honer? Al-Amin Oadq. Ele ? um dos principais divulgadores mu?ulmanos do ABC paulista. Na foto, na periferia de S?o Bernardo do Campo, onde vive, reza e faz pol?tica
Cinco vezes ao dia, os olhos ultrapassam o concreto de ruas irregulares, carentes de esgoto e de cidadania, e buscam Meca, no outro lado do mundo. ? longe e, para a maioria dos brasileiros, ex?tico. Para homens como Honer?, Malik e Sharif, ? o mais perto que conseguiram chegar de si mesmos. Eles j? foram Carlos, Paulo e Ridson. Converteram-se ao isl? e forjaram uma nova identidade. S?o pobres, s?o negros e, agora, s?o mu?ulmanos.

 
Quando buscam o cora??o isl?mico do mundo com a mente, acreditam que o Alcor?o ? a resposta para o que definem como um projeto de exterm?nio da juventude afro-brasileira: nas m?os da pol?cia, na guerra do tr?fico, na falta de acesso ? educa??o e ? sa?de. Homens como eles t?m divulgado o isl? nas periferias do pa?s, especialmente em S?o Paulo, como instrumento de transforma??o pol?tica. E preparam-se para levar a mensagem do profeta Maom? aos presos nas cadeias. Ao cravar a bandeira do isl? no alto da laje, vislumbram um estado mu?ulmano no horizonte do Brasil. E, ao explicar sua escolha, repetem uma frase com o queixo contra?do e o orgulho no olhar: “Um mu?ulmano s? baixa a cabe?a para Al? e para mais ningu?m”.


Honer?, da periferia de S?o Bernardo do Campo, converteu Malik, da periferia de Francisco Morato, que converteu Sharif, da periferia de Tabo?o, que vem convertendo outros tantos. ? assim que o isl? cresce no anel perif?rico da Grande S?o Paulo. Os novos mu?ulmanos n?o s?o numerosos, mas sua presen?a ? forte e cada vez mais constante. Nos eventos culturais ou pol?ticos dos guetos, h? sempre algumas takiahs cobrindo a cabe?a de filhos do isl? cheios de atitude. H? brancos, mas a maioria ? negra. “O isl? n?o cresce de baciada, mas com qualidade e com pessoas que sabem o que est?o fazendo”, diz o rapper Honer? Al-Amin Oadq, na carteira de identidade Carlos Soares Correia, de 31 anos. “Em cada quebrada, algu?m me aborda: J? ouvi falar de voc? e quero conhecer o isl?. ? nossa postura que divulga a religi?o. O isl? cresce pela consci?ncia e pelo exemplo.”


Em S?o Paulo, estima-se em centenas o n?mero de brasileiros convertidos nas periferias nos ?ltimos anos. No pa?s, chegariam aos milhares. O n?mero total de mu?ulmanos no Brasil ? confuso. Pelo censo de 2000, haveria pouco mais de 27 mil adeptos. Pelas entidades isl?micas, o n?mero varia entre 700 mil e 3 milh?es. A diferen?a ? um abismo que torna a presen?a do isl? no Brasil uma inc?gnita. A verdade ? que, at? esta d?cada, n?o havia interesse em estender uma lupa sobre uma religi?o que despertava mais aten??o em novelas como O clone que no notici?rio.


O mu?ulmano Feres Fares, divulgador fervoroso do islamismo, tem viajado pelo Brasil para fazer um levantamento das mesquitas e mussalas (esp?cie de capela). Ele apresenta dados impressionantes. Nos ?ltimos oito anos, o n?mero de locais de ora??o teria quase quadruplicado no pa?s: de 32, em 2000, para 127, em 2008. Surgiram mesquitas at? mesmo em Estados do Norte, como Amap?, Amazonas e Roraima.


Autor do livro Os mu?ulmanos no Brasil, o xeque iraquiano Ishan Mohammad Ali Kalandar afirma que, depois do 11 de setembro, aumentou muito o n?mero de convers?es. “Os brasileiros tomaram conhecimento da religi?o”, diz. “E o isl? sempre foi acolhido primeiro pelos mais pobres.”


Na interpreta??o de Ali Hussein El Zoghbi, diretor da Federa??o das Associa?es Mu?ulmanas do Brasil e conselheiro da Uni?o Nacional das Entidades Isl?micas, tr?s fatores s?o fundamentais para entender o fen?meno: o cruzamento de ?cones do islamismo com personalidades importantes da hist?ria do movimento negro, o acesso a informa?es instant?neas garantido pela internet e a melhoria na estrutura das entidades brasileiras. “Os filhos dos ?rabes que chegaram ao Brasil no p?s-guerra reuniram mais condi?es e conhecimento. Isso permitiu nos ?ltimos anos o aumento do proselitismo e uma aproxima??o maior com a cultura brasileira”, afirma.


Eles trazem ao isl? a atitude hip-hop e a forma??o pol?tica do movimento negro
A presen?a do isl? na m?dia desde a derrubada das torres g?meas, refor?ada pela invas?o americana do Afeganist?o e do Iraque, teria causado um duplo efeito. Por um lado, fortalecer a identidade mu?ulmana de descendentes de ?rabes afastados da religi?o, ao se sentir perseguidos e difamados. Por outro, atrair brasileiros sem liga?es com o islamismo, mas com forte sentimento de marginalidade. Esse ?ltimo fen?meno despertou a aten??o da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, que citou no Relat?rio de Liberdade Religiosa de 2008: “As convers?es ao islamismo aumentaram recentemente entre os cidad?os n?o-?rabes”.


Os jovens convertidos trazem ao isl? a atitude do hip-hop e uma forma??o pol?tica forjada no movimento negro. Ao prostrar-se diante de Al?, acreditam voltar para casa depois de um longo ex?lio, pois as ra?zes do isl? negro est?o fincadas no Brasil escravocrata. E para aflorar no Brasil contempor?neo, percorreram um caminho intrincado. O novo isl? negro foi influenciado pela luta dos direitos civis dos afro-americanos, nos anos 60 e, curiosamente, por Hollywood. Cruzou ent?o com o hip-hop do metr? S?o Bento, em S?o Paulo, nos anos 80 e 90. E ganhou impulso no 11 de setembro de 2001.


Para contar essa hist?ria ? preciso voltar a 1835, em Salvador, na Bahia, onde a revolta dos mal?s, liderada por negros mu?ulmanos, foi a rebeli?o de escravos urbanos mais importante da hist?ria do pa?s. Pouco citada nos livros escolares, depois de um largo hiato ela chegou ?s periferias pela rima do rap. L?, uniu-se ao legado do ativista americano Malcolm X, assimilado pela vers?o do filme de Spike Lee, de 1992. E ao 11 de setembro, que irrompeu na TV, mas foi colado ?s teorias conspirat?rias que se alastram na internet.


? esse o isl? que chega para os mais novos convertidos. E com maior for?a em S?o Paulo, porque a capital paulista foi o ber?o duro do hip-hop no Brasil ” movimento hist?rico de afirma??o de identidade da juventude negra e pobre. A tentacular periferia paulista ?, como dizem os poetas marginais, a senzala moderna. E cada novo convertido acredita ter dentro de si um pouco de mal?. N?o ? ? toa que Mano Brown, o mais importante rapper brasileiro, mesmo n?o sendo mu?ulmano, diz no rap “Mente de vil?o”: No princ?pio eram trevas, Malcolm foi Lampi?o/L?mpada para os p?s/Negros de 2010/F?s de Mumia Abu-Jamal, Osama, Saddam, Al-Qaeda, Talib?, Iraque, Vietn?/Contra os boys, contra o GOE, contra a Ku-Klux-Klan.


“Fico assustado com a linguagem desses rappers, mas n?o tem mais jeito. Alastrou. Depois que o fogo pega no mato, vai embora. O isl? caiu na boca da periferia. E n?o sabemos o que vai acontecer. ? tudo por conta de Al?”, diz Valter Gomes, de 62 anos. Ele parece mais encantado que temeroso. Nos anos 90, “advogou” diante das organiza?es do movimento negro do ABC paulista e dos guetos de S?o Paulo com grande veem?ncia. Defendeu que a salva??o para os afro-brasileiros era a religi?o anunciada por Maom? quase 15 s?culos atr?s: “Irm?os, voc?s est?o querendo lutar, mas n?o t?m objetivo. Trago para voc?s um objetivo e uma bandeira. O objetivo ? o para?so, a bandeira ? o isl?”.


Essas palavras encontraram material inflam?vel no cora??o de alguns rappers, que h? muito procuravam um caminho que unisse Deus e ideologia. Enquanto o islamismo soou como religi?o ?tnica, trazida ao Brasil pelos imigrantes ?rabes a partir da segunda metade do s?culo XIX, n?o houve identifica??o. Mas, quando o movimento negro, e depois o rap, difundiu a revolta dos mal?s como uma inflex?o de altivez numa hist?ria marcada pela submiss?o, a religi?o passou a ser vista como raiz a ser resgatada. Os jovens mu?ulmanos dizem que n?o se convertem, mas se “revertem”  ou “voltam a ser”. Para eles, a palavra tem duplo significado: recuperar uma identidade sequestrada pela escravid?o e pertencer a uma tradi??o da qual ? poss?vel ter orgulho.


As igrejas evang?licas neopentecostais, que surgiram e se multiplicaram a partir dos anos 80, com grande penetra??o nas periferias e cadeias, n?o tinham apelo para jovens negros em busca de identidade e sem voca??o para rebanho. “Na igreja evang?lica da minha m?e, me incomodava aquela hist?ria de Cristo perdoar tudo. Eu j? tinha apanhado de pol?cia pra cacete. E sempre pensava em pol?cia, porque o tapa na cara ? literal. Ent?o, o dia em que tiver uma necessidade de conflito, vou ter de virar o outro lado da cara?”, diz Ridson Mariano da Paix?o, de 25 anos. “Eu n?o estava nesse esp?rito passivo. Pelo Malcolm X, descobri que, no isl?, temos o direito de nos defender. Deus repudia a viol?ncia e n?o permite o ataque, mas d? direito de defesa. Foi esse ponto fundamental que me pegou tamb?m quando eu vi pela TV o 11 de setembro e achei que o mundo ia acabar.”


Eles se inspiram em Malcolm X e acreditam que o 11 de setembro divulgou o isl? entre os oprimidos
Ridson tornou-se Dugueto Sharif Al Shabazz em 2005. Seu nome ? uma s?ntese hist?rica da trajet?ria do isl? na periferia brasileira. Ridson, o nome que deixou, foi escolhido pelo pai, um negro que gostava de piadas racistas. Dugueto ? o nome do rap, para marcar a origem do gueto. Sharif ? o nome do personagem de um filme de g?ngsteres. Shabazz foi tirado do nome isl?mico de Malcolm X.


Essa gera??o tamb?m n?o perdoa ao catolicismo sua omiss?o no per?odo da escravid?o africana. “Minha fam?lia ? cat?lica, mas comecei a investigar a hist?ria e descobri que a Igreja deu sustenta??o ? escravid?o. Diziam que os negros n?o tinham alma”, afirma Honer?. “Sem contar que Jesus era branco, os anjos eram brancos. E tudo o que era ruim era negro. A? eu pensava: “Ent?o tudo o que ? ruim vem de mim?”. “Isso parece pequeno, mas na cabe?a de um adolescente maltrata, faz com que a gente se torne ruim, viva uma vida ruim. Ent?o conheci o isl?.”


Honer? tornou-se um dos principais divulgadores da religi?o no ABC paulista. Ele ? dirigente do Movimento Negro Unificado (MNU) e funcion?rio do Centro de Divulga??o do Islam para a Am?rica Latina (CDIAL). Para ele, como para a maioria dos mu?ulmanos negros, n?o faz a menor diferen?a que ra?a n?o exista como conceito biol?gico. Ra?a ? um conceito cultural, que determinou todas as assimetrias socioecon?micas que determinaram sua vida e hoje representa um elemento fundamental na constru??o de sua identidade, inclusive a religiosa. Ele narra com clareza como Carlos Soares Correia transformou-se em Honer? Al Amin Oadq, em meados dos anos 90:


“Minha m?e era dom?stica em casa de branco, muitas vezes foi chamada de 'negra infeliz'. Eu percebia que, no sistema de sa?de e a todo lugar que eu ia, s? gente da minha cor passava por dificuldades. Eu mesmo j? levei coronhada da pol?cia sem justificativa, j? defendi mulher negra no metr?, porque branco b?bado achava que era prostituta. N?o tem um negro neste pa?s que n?o tenha uma hist?ria de discrimina??o para contar. Ent?o fui em busca da minha hist?ria. Era o tempo em que o rap era m?sica de preto para preto. E o rap me apresentou Malcolm X. Aos 14, 15 anos, ele se tornou a minha grande refer?ncia pol?tico-racial. Depois descobri a hist?ria dos mal?s. Eles estavam num n?vel diferente se comparar com os outros negros da senzala. N?o bebiam, n?o fumavam, sabiam escrever, eram instru?dos. Se tivessem conseguido tomar a Bahia naquele 25 de janeiro de 1835, teriam o pa?s em suas m?os, e o Brasil seria um estado isl?mico.


A revolta dos mal?s (mu?ulmanos, na l?ngua iorub?) abalou n?o apenas o Brasil, mas repercutiu na comunidade internacional. Jornais de Londres, Boston e Nova York publicaram not?cias sobre o levante. Aumentou o tom da cr?tica ? escravid?o. Setenta rebelados morreram. Mais de 500 foram punidos com pris?o, pena de morte e deporta??o para a ?frica. Segundo o historiador Jo?o Jos? Reis, em seu livro Rebeli?o escrava no Brasil (Companhia das Letras), numa compara??o com a popula??o atual de Salvador, isso equivaleria hoje a cerca de 24 mil negros castigados.


A for?a do levante dos mal?s inspira os novos mu?ulmanos do gueto. Muitos sonham com um estado isl?mico no Brasil “ainda que seja um estado dentro do Estado”. “Acredito que daqui a dez, 15 anos, isso ser? poss?vel. H? uma gera??o tentando fazer isso de forma organizada. O povo brasileiro ? religioso. Quando percebeu erros na Igreja Cat?lica, tornou-se evang?lico. O isl? hoje ainda ? pequeno, mas isso pode mudar”, afirma o ex-cat?lico Paulo S?rgio dos Santos, de 33 anos, assessor parlamentar da C?mara de Vereadores de Francisco Morato. Desde a virada do mil?nio, ele se tornou Abdullah Malik Shabbazz. “? ?bvio que n?o vamos para um confronto armado. Esse caminho ter? de vir pela consci?ncia.”


No processo de constru??o da identidade, os novos convertidos trocaram perguntas e lacunas por certezas. A hist?ria ? resgatada naquilo que serve a uma afirma??o positiva — e as contradi?es, quando existem, pertencem ao outro. Esses jovens n?o querem tatarav?s como Pai Tom?s, o escravo humilde do romance de Harriet Beecher Stowe, um marco na aboli??o da escravatura nos Estados Unidos. Preferem um antepassado como Ahuna, homem-chave na rebeli?o dos mal?s. E, sens?veis aos ecos da Am?rica negra, desejam eles mesmos ser n?o o pacifista Martin Luther King, mas o controvertido, belicoso e mu?ulmano Malcolm X, cuja trajet?ria de desamparo, viol?ncia, pris?o e, finalmente, supera??o ? semelhante ? de muitos deles. E cujo X — s?mbolo da identidade arrancada pela escravid?o — foi preenchido com um nome isl?mico. Embora afirmem que a convers?o seja um resgate da tradi??o, n?o deixam de exercer o ideal moderno de criar a pr?pria identidade, at? com a liberdade de inventar um novo nome que d? conta apenas de seus desejos — e n?o mais do de seus pais. Agora, eles s?o filhos do isl?. E n?o mais — ou n?o apenas — de pais humilhados.


Antes de adotar um nome mu?ulmano, Honer? foi um dos fundadores de uma das mais antigas posses de hip-hop em atividade, a Haussa, hoje com 15 anos de exist?ncia. As posses s?o grupos que re?nem pessoas com afinidades culturais e pol?ticas para realizar metas comuns. Na hist?ria, os africanos hauss?s lideraram rebeli?es escravas na Bahia no in?cio do s?culo XIX. Mu?ulmanos, eles vinham do que hoje ? o norte da Nig?ria e de uma guerra santa que forneceu muitos cativos para o tr?fico negreiro. No Brasil, ? prov?vel que hauss?s de ambos os lados do conflito tenham se unido contra os brancos. Dois s?culos depois, Haussa ? uma frente s? de negros, com 40 integrantes, no ABC paulista. O nome foi escolhido “porque os hauss?s n?o se deixavam domar, tinham convic?es e s? eram submissos a Deus”.


Os hauss?s de hoje estavam entre os grupos que escutaram a prele??o de Valter Gomes. Alguns, como Honer?, se converteram ao isl?. “Descobrir minha hist?ria foi como ter passado a vida olhando para baixo, com a sensa??o de que todo mundo est? te julgando e, de repente, passar a andar olhando as pessoas no olho, sem medo”, diz ele.


Os mu?ulmanos compartilham a certeza de que, quanto mais difamam o isl?, mais ele se fortalece. O an?ncio do Vaticano, em 2008, de que o islamismo superou pela primeira vez o catolicismo no mundo em n?mero de adeptos para eles ? uma prova de que, ao forjar a liga??o da religi?o, como um todo, ao terrorismo fundamentalista, as convers?es se multiplicaram, em vez de encolher. Essa face perseguida, vilipendiada e dura tornou-se um ponto de identifica??o.


Nas telas de TV, o 11 de setembro tornou o isl? popular nas periferias do planeta, que v? nos Estados Unidos o s?mbolo de todas as opress?es. No Brasil, o fen?meno se repetiu. “Para n?s, aquilo foi coisa do pr?prio governo americano, para ter desculpa de invadir pa?ses mu?ulmanos. Mas o 11 de setembro ajudou pra caramba na divulga??o”, diz o rapper Leandro Arruda, de 33 anos. “Todo mundo queria saber o que era o isl?. N?o que o Bin Laden seja um her?i , mas a gente que vem do gueto tem certa rebeldia contra o governo opressor.”


Rapper e ex-presidi?rio, Leandro est? entre os que se interessaram pela religi?o ao ver a realidade imitar o cinema-cat?strofe de Hollywood. “Percebi que existe um povo com uma postura diferente na Palestina, no Iraque, no Afeganist?o. Comecei a procurar informa??o, encontrei o Malik e acabei me revertendo”, diz. “Eu e minha esposa queremos estudar para divulgar o isl?. Porque ningu?m melhor do que a gente, que sobe o morro, tem acesso ? periferia e conhece a massa, para falar a eles. Porque, se chegar um cara l? vestido de ?rabe, os 'negos' v?o dar risada.” Leandro desenvolve h? um ano, numa favela da Zona Leste de S?o Paulo, o projeto Istambul Futebol e Educa??o, com 25 garotos em situa??o de risco. Os recursos v?m de um ativista isl?mico da periferia paulista que hoje estuda na S?ria.


A atua??o social responde ao projeto pol?tico, que v? no isl? uma rea??o ?s estat?sticas da viol?ncia. “N?o temos problemas com outras cores e ra?as. N?o nos organizamos por racismo. S? queremos que os afro-descendentes parem de morrer aos 20 anos. Quem morre jovem no Brasil s?o os que n?o conhecem suas origens nem tiveram acesso ao conhecimento. ? um genoc?dio da popula??o perif?rica que vem desde a senzala”, diz Malik. “Desde que me tornei mu?ulmano, n?o bebo, n?o fumo, meus filhos t?m pai e m?e, educa??o e uma vida regrada. O isl? nos d? instrumentos para combater problemas sociais que fazem com que sejamos a maioria e tenhamos menos que todos os outros.”


Malik ? o presidente do N?cleo de Desenvolvimento Isl?mico Brasileiro (NDIB), a organiza??o mais combativa do novo isl? negro. O vice-presidente faz forma??o no Paquist?o desde o ano passado. Pequeno, o NDIB tem apenas oito integrantes, entre eles Sharif e Leandro. Mas foi capaz de promover, no fim de 2007, um encontro entre o americano Fred Hampton Jr., o rapper Mano Brown e lideran?as do movimento negro e de jovens mu?ulmanos, em S?o Paulo. Fred Hampton Jr. ? o filho do l?der dos Panteras Negras — organiza??o criada nos anos 60, nos Estados Unidos, que defendia teses como o pagamento de compensa??o aos negros pela escravid?o e o armamento daqueles que se sentissem amea?ados pela for?a policial.


Ativista como o pai, Hampton Jr. passou quase nove anos preso e fundou na cadeia o Prisoners of Conscience Committee (POCC), em portugu?s Comit? dos Prisioneiros de Consci?ncia. Nem o POCC nem Hampton Jr. se apresentam como mu?ulmanos. Mas a organiza??o tem isl?micos na coordena??o, com quem o NDIB mant?m boas rela?es. O POCC defende que todos os detentos s?o prisioneiros pol?ticos, porque a desigualdade racial n?o lhes deu escolha. As pris?es seriam, para eles, um dos passos do exterm?nio planejado da popula??o negra.


Numa parceria com o Conselho Nacional de Negros e Negras Crist?os, o NDIB levou Hampton Jr. a um encontro com a comunidade afro-brasileira em Salvador, na Bahia. Suas teses t?m pontos de conex?o com a campanha “Reaja ou ser? morto, reaja ou ser? morta”, concebida por organiza?es sociais baianas, que denuncia aquilo que consideram ser o “genoc?dio da juventude negra brasileira pela viol?ncia do aparato repressivo do Estado” e prega “a defesa por todos os meios necess?rios”.


Hampton Jr., que tamb?m conheceu os morros do Rio de Janeiro, anunciou uma conex?o entre o Brasil e os Estados Unidos. “O manifesto antiterrorista n?o deve observar nenhuma fronteira colonial. Precisamos combater todas as formas de terrorismo que nos s?o impostas: o crack, a falta de pol?ticas p?blicas, a aids e o ataque policial. O povo negro ? a v?tima preferencial”, diz. Em Salvador, ele concluiu com uma analogia: “Para n?s, do POCC, cada dia ? como se fosse 11 de setembro. O que os brancos sofreram com o ataque terrorista, n?s, negros, sofremos todo dia”. Em S?o Paulo, Hampton Jr. e Mano Brown cerraram os punhos. E foram aclamados.


O principal articulador da vinda de Hampton Jr. foi Sharif, que mant?m contatos com mu?ulmanos dos guetos da Fran?a, do Canad? e dos Estados Unidos. Rapper, ele trabalha com a educa??o de crian?as e faz parte do movimento de literatura perif?rica. Aos 25 anos, tem um texto contundente, com forte den?ncia da desigualdade racial. Descendente de africanos e italianos, tem olhos verdes e pele clara, mas n?o tem d?vidas de que ? negro. “Dizem que n?o existe ra?a e somos todos brasileiros, mas qual ? a cor que predomina nas cadeias, na Febem e nas favelas? Negros”, afirma. “N?o queremos vingan?a, s? nosso lugar numa sociedade que ajudamos a construir. O isl? n?o tem cor, ? para todos. Mas somos negros numa sociedade racista. Ent?o temos problemas ? parte para resolver e nos posicionamos.”


Os ativistas do NDIB acreditam que o islamismo pode ser uma alternativa ? convers?o evang?lica, maci?a nas pris?es brasileiras. Para seu projeto pol?tico-religioso, entrar nas cadeias ? estrat?gico, e o POCC, de Hampton Jr., ? um parceiro importante. “Os presos t?m virado crentes por falta de op??o, porque a ?ltima escolha do presidi?rio ? virar evang?lico”, afirma Leandro. “O isl? ? constru??o de conhecimento. Queremos trabalhar levando essa consci?ncia, construindo a hist?ria de cada um e mostrando que, independentemente do crime que cometeram, eles s?o presos pol?ticos”, diz Sharif.


Em 2009, o n?cleo isl?mico quer iniciar a constru??o de Nova Medina, uma comunidade mu?ulmana capaz de acolher os convertidos de v?rios pontos da periferia paulista. “Hoje estamos espalhados, e isso dificulta a organiza??o”, diz Malik. “Sonhamos com um bairro mu?ulmano onde n?o existam bares com bebidas alco?licas nas esquinas, os a?ougues n?o vendam carne de porco, nossas crian?as possam estudar em escolas isl?micas e nossas mulheres n?o sejam chamadas de mulher-bomba.” Para isso, pensam em adquirir um peda?o de terra e fazer um loteamento. Alguns j? se mudaram para a periferia de Francisco Morato, um dos munic?pios mais pobres da Grande S?o Paulo. Medina, at? agora o nome mais prov?vel, est? na origem do islamismo: ? a cidade da Ar?bia Saudita para onde o profeta Maom? migrou para escapar das persegui?es que sofria em Meca. A migra??o marca o in?cio do calend?rio isl?mico.


Eles planejam converter os presos e construir uma comunidade mu?ulmana na periferia paulista
Diante de express?es de incredulidade, eles d?o um sorriso malicioso: “Se, h? dez anos, eu dissesse a voc? que um negro seria o presidente dos Estados Unidos, voc? acreditaria?”. Ou, como diz Valter Gomes: “Eu vi Martin Luther King morrer. E posso dizer que ? uma revolu??o muito r?pida. Um torneiro mec?nico ? presidente do Brasil, um ?ndio ? presidente da Bol?via e um neg?o com nome mu?ulmano ? presidente do pa?s mais poderoso do mundo. Ou ? o fim do mundo ou ? o come?o de alguma coisa…”.


No isl? dos manos, o rap ? o instrumento e a linguagem de divulga??o da religi?o. “Muita gente ainda vai vir para o isl? pelo rap. N?s ganhamos consci?ncia pelo hip-hop, ent?o n?o podemos negar nossa hist?ria. As pessoas na periferia veem aquela negrada fazendo rima e poesia, percebem sua atitude diferenciada, sua postura na vida, e querem se aproximar. Isso ? o come?o da revers?o”, diz Honer?. “? um passo depois do outro.”


Com uma takiah verde-amarela na cabe?a — s?mbolo de sua condi??o de mu?ulmano brasileiro que n?o aceita mudar de nome –, Valter Gomes entrega tudo nas m?os de Al?. Tem os olhos ?midos quando afirma: “Al? diz no Alcor?o que para cada povo h? um profeta que fala a sua l?ngua. Ent?o, quem sabe n?o aparece um negrinho cheio de ginga e de rima na periferia?”.


A mesquita dos negros


No centro de S?o Paulo, uma ?frica isl?mica


A Mesquita Bilal Al Habashi ? um daqueles lugares que fazem de S?o Paulo uma cidade fascinante, apesar do tr?nsito e da polui??o. No 9? andar do Edif?cio Esther, exemplar modernista do centro, estudado nas escolas de arquitetura, a mesquita acolhe imigrantes da ?frica e brasileiros de origem africana para as cinco ora?es do dia. Instalada no apartamento que foi do pintor Di Cavalcanti, ela evoca uma intrigante algaravia: ingl?s, franc?s, portugu?s e dialetos tribais. As vozes s? silenciam para ouvir o xeque recitar o Alcor?o — em ?rabe. Enquanto os mu?ulmanos rezam, o edif?cio repete uma rotina caleidosc?pica. Na cobertura, vive o padeiro com sotaque franc?s Olivier Anquier. No subsolo, um cabar? exercita outras l?nguas. No hist?rico Edif?cio Esther, a Bilal al Habashi tem essa sina. Cultiva o esp?rito, espremida entre o p?o e a carne.


Inaugurada em 2005, a mesquita tem um nome simb?lico. Bilal foi um escravo abiss?nio torturado pelo dono para renunciar ? religi?o. Resistiu e tornou-se o primeiro muezim do isl?, encarregado de chamar os fi?is para as ora?es. Bilal era tamb?m o nome de um dos l?deres da revolta dos mal?s. Assim, ? um s?mbolo de resist?ncia tanto para africanos no Brasil como para brasileiros com ra?zes na ?frica.


O presidente da mesquita ? tamb?m uma institui??o. Muhammad Ali, como o famoso boxeador, foi um dos primeiros mu?ulmanos sem ascend?ncia ?rabe em S?o Paulo. Aos 17 anos, chamava-se Jair Macei? quando ouviu pela primeira vez o nome do isl? junto ao Viaduto do Ch?, ponto de encontro dos negros paulistanos. Jair vivia a orfandade com os pais vivos. Sem recursos para cri?-lo, eles entregaram-no ao Estado. O sobrenome, Macei?, como ? comum entre descendentes de escravos, indicava a terra onde o av? fora cativo. Desenraizado, a luta pelos direitos civis dos negros americanos, nos anos 60, retumbou dentro dele. Quando o boxeador Muhammad Ali se recusou a lutar no Vietn?, dizendo que aquela n?o era uma guerra dele, Jair acreditou ter agarrado a ponta de uma raiz comum. Parou de dan?ar, seu “?nico v?cio”, e tornou-se Muhammad Ali Numairi. Com esse nome, fundou a Mesquita Mu?ulmana Afro-Brasileira, em 1974, ao lado de Joel Azor da Silva e Abdullah Menelik Omar. O objetivo “era arrumar a sociedade negra e impedir a dissolu??o da fam?lia afro-brasileira pela bebida e pela droga”.


Aos 58 anos, Seu Malma, como ? conhecido, diz que o isl? ? para todos. Sua mesquita virou b?ssola para os perdidos africanos, a maioria clandestinos no Brasil. Eles dividem o espa?o com “o pessoal do rap”, que tem dado dor de cabe?a a Seu Malma. “M?sica ? proibido no isl?. E gueto s? serve ? classe dominante, que quer mant?-los l?”, diz. “Mas eles acham que o rap ? importante para divulgar o isl? na periferia e que eu sou da velha-guarda.” Com a “jovem guarda do isl?”, Seu Malma compartilha a utopia: “Quero fazer do Brasil um pa?s mu?ulmano”.


Muhammad foi ao cinema e se converteu


Hoje, ele prepara “a base de um levante cultural”, com migrantes nordestinos e ga?chos sem-terra, em Passo Fundo


Nivaldo Florentino de Lucena recebeu a dica de um amigo: “Tem um filme com a hist?ria de um neg?o que ? da hora!”. O “neg?o” era Malcolm X. O filme era a biografia do ativista americano, dirigida por Spike Lee. Numa sess?o lotada de rappers, Nivaldo, da Zona Leste de S?o Paulo, concluiu que o neg?o era da hora mesmo. Filho de uma m?e que, no censo do IBGE, se declarava “branca” e de um pai que se anunciava “pardo”, ele pertencia ? gera??o que tinha certeza de que eram todos “negros”. Saiu do cinema decidido a encontrar uma mesquita. Era 1992. Muhammad trocou a bebida, as drogas e os pequenos crimes pelo Alcor?o. Anos mais tarde, se formou em teologia isl?mica na L?bia. Em 2002, desembarcou na ga?cha Passo Fundo, cidade de coloniza??o europeia, onde loiras naturais s?o t?o corriqueiras como o chimarr?o. Tinha duas metas sob a takiah mu?ulmana: assumir um posto numa multinacional de frangos halal (abatidos segundo a prescri??o isl?mica) e divulgar o isl?.


Quando Muhammad Lucena chegou, havia tr?s fam?lias mu?ulmanas de origem ?rabe. Hoje, ele conta mais de 40, a maioria composta de trabalhadores da empresa. Muhammad se tornou o im?, l?der religioso, de uma comunidade com um perfil in?dito: migrantes nordestinos que chegaram ao sul como mascates e ga?chos que trocaram a zona rural pela periferia da cidade. No caso de Passo Fundo, o isl? disputa, no campo religioso, com a Igreja Cat?lica e com as neopentecostais evang?licas. No campo pol?tico, com o MST. “Sempre fui pe?o e, como negro, fui v?tima de muito preconceito aqui no Rio Grande”, diz Valdivino Bueno da Silva. “Tinha inten??o de virar sem-terra, como o meu irm?o, mas acabei ficando por aqui e me convertendo.” Em 2005, aos 24 anos, ele conseguiu vencer o alcoolismo e virou Abdallah.


Tornou-se “irm?o” no isl? de Jo?o Paulo Silva, que deixou o sert?o do Cear? para vender artigos de cama e mesa pelas ruas de Passo Fundo. “Ga?cho chama todos os nordestinos de baiano”, diz. “Era uma vida sofrida.” Aos 20 anos, mudou de sina, adotou o nome de Jaber e virou um obstinado divulgador do isl?. Converteu a mulher, irm? de um pastor da cidade. E tamb?m os sogros, que abandonaram a cren?a evang?lica e vieram do interior do Paran? para ficar perto da comunidade isl?mica de Passo Fundo, em franca expans?o. Ela j? tem um cemit?rio e o terreno da futura mesquita, doado pelo governo do Kuwait.


Muhammad, de 33 anos, casado com uma branca e pai de cinco filhos, defende um isl? para todas as cores e ra?as. Na L?bia, conheceu Louis Farrakhan, mas n?o simpatiza com as “ideias radicais” do l?der da Na??o do Isl?. Ele cr?, por?m, que o Brasil vive “uma nova revolu??o isl?mica”. “H? focos do isl? borbulhando em toda parte. Existem hoje brasileiros estudando na ?frica, na ?sia e no Brasil para fazer a inser??o de mu?ulmanos em ?rg?os-chave”, diz. “J? temos a base pronta, com os mais pobres. S? nos falta um l?der para ter um levante. N?o armado, mas cultural.”


Por tr?s do v?u, um novo perfil de mulher isl?mica


Chamadas de “mulher-bomba” nos ?nibus metropolitanos, elas come?am a alterar o cen?rio urbano


Ela ? “Dona” Ilma. E t?o dona que o dela merece mai?scula e j? se integrou ao nome. N?o por acaso, ? a que lidera a fila na foto. Como ela mesma diz, abriu seu espa?o com “punhos e conhecimento”. Ilma Maria Vieira Kanauna ? uma das pioneiras no movimento isl?mico afro-brasileiro, em S?o Paulo. Aos 53 anos, convertida h? mais de duas d?cadas, ? tratada com um temor respeitoso, porque Dona Ilma ? mulher braba. Nada mais distante dela que o estere?tipo da mulher ?rabe submissa, sempre dentro de casa, que resiste no imagin?rio ocidental como a realidade ?nica da mulher no isl?. Sua cartilha ? a das mal?s, mulheres ativas no levante escravo de 1835. “A Am?rica foi edificada sobre os ombros dos homens negros e o ventre das mulheres negras”, diz com solenidade. “E o isl? ? o espelho em que eu me vi refletida.”


Dona Ilma ? filha de uma “tradicional fam?lia negra”, de origem matriarcal. At? os 6 anos, se criou numa ?rea de quilombo, em Minas Gerais. Lembra a av? e a m?e sempre vestidas de preto, rezando com a janela aberta e mandando nos homens e no curso da vida. Quando a m?e morreu de parto, o pai se mudou, e ela ainda hoje diverte-se com a mem?ria dos primeiros brancos que surgiram no seu campo de vis?o. “Eu e meu irm?o ach?vamos que eram lobisomens”, diz. “Nos chamavam pra brincar, e a gente se escondia achando que iam nos comer.”


Algumas aventuras mais tarde, porque a vida de Dona Ilma d? mesmo um romance, acabou filha adotiva de uma fam?lia de descendentes de alem?es, com quem ainda hoje vive e se entende bem. Primeiro tornou-se comunista, depois mu?ulmana. ? educadora por voca??o e, por convic??o, s? trabalha em escolas de periferia. Compara o 11 de setembro a “uma mulher que passa a vida apanhando e um dia d? 11 tiros no marido”. E acredita que a viol?ncia no Brasil, da qual j? foi v?tima, ? a forma de as minorias sem identidade e futuro pedirem socorro. “Nossas crian?as est?o perdidas, escrevendo Joaquim com n e n?o se reconhecendo em espelho algum”, diz.


A testa lisa de Dona Ilma s? ? contra?da por uma ruga quando fala sobre a nova gera??o de mu?ulmanos. “O isl? sempre trouxe cidadania para as minorias. E as periferias s?o as senzalas de hoje. Mas as novas gera?es t?m muito punho ainda, tenho medo que acabem sendo segregacionistas”, afirma. “N?o precisamos mais de um discurso de ra?a, precisamos de cidadania. Acredito, por?m, que ? um ritual de passagem. Quando me converti, tamb?m era muito radical. Vamos deixar eles gritarem um pouco.”


Na foto, ela ? seguida por Elis?ngela R?sio, de 31 anos, e Luana de Assis, de 28. H? quatro, Luana trocou a vida de “balada de segunda a segunda” e um figurino hip-hop para se tornar mu?ulmana. Elis?ngela se converteu em maio, no dia em que casou com o rapper Leandro Arruda, que conheceu num show dos Racionais MCs. At? pouco tempo, um in?cio de romance inusitado para uma mu?ulmana. ?”O que voc? acha de Jesus?”, ele perguntou. Tudo come?ou a dar certo quando ela disse que Jesus era um profeta — e n?o o filho de Deus.


Como qualquer trabalhadora, elas pegam ?nibus e trens lotados de segunda a sexta- -feira, da Grande S?o Paulo para a capital, e vice-versa. Nas ruas, j? se habituaram a ser chamadas de “mulher-bomba” ou “prima do Bin Laden”. “O povo n?o est? acostumado a ver mu?ulmanas sacolejando em ?nibus e trens como qualquer mulher que precisa trabalhar”, diz Luana. “Confundem religi?o com cultura, acham que todo mu?ulmano ? ?rabe e toda mu?ulmana s? fica em casa.”


Fiel ?s rimas de sua gera??o, Elis?ngela d? um conte?do pol?tico pr?prio ? indument?ria isl?mica. “A m?dia imp?e que brasileira tem de andar de minissaia ou shortinho, meio pelada. ? a imposi??o de um estere?tipo que as mulheres seguem desde crian?a sem nem se dar conta”, diz. “Por que minha roupa de mu?ulmana chama a aten??o dentro do trem e a menina seminua n?o?” A pr?pria Elis?ngela responde: “Porque estou fora dos padr?es que a m?dia imp?e, tenho identidade pr?pria, fiz minha escolha”.


Elis?ngela afirma que conseguiu at? parar de fumar. S? demorou a aceitar que o marido possa ter outras mulheres — “direito” pouco exercido no Brasil, que pune a bigamia no C?digo Penal. Depois de embates internos, ela capitulou. “? um direito dele. Quem sou eu para discordar do Alcor?o? “, diz. “Prefiro que tenha uma segunda mulher do que me traia. O homem tem necessidades.”


Essa mesma mulher traz na cabeceira O capital, de Karl Marx, e diz admirar Che Guevara com fervor revolucion?rio.


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Extra?do do site da Revista ?poca.

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