Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

MATERIA EXPOSITOR MAIO

A estudante de teologia Sandra Helena Manduca Monteiro enfrentava um problema toda vez que precisava pregar para a Igreja do Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo (SP), onde faz estágio. Timidez? Inexperiência? Nada disso. Esses desafios ela supera com a graça de Deus. Mas, para vencer apenas dois degraus que a separavam do púlpito, ela precisava de pelo menos quatro irmãos que levantassem sua cadeira de rodas. Até que a igreja resolveu construir uma rampa de acesso ao altar.

 

 

Segundo o pastor Marcos Munhoz, o trabalho não durou mais do que três dias. O custo total da rampa, que mede três metros de comprimento por 1,10 de largura, entre material e mão-de-obra, ficou em setecentos reais. A rampa em nada compromete a estética da igreja: construída segundo normas de inclinação exigidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), é revestida com carpete e tem o corrimão em madeira envernizada. Ficou bonita. Mas o que dá mais gosto de ver é a futura pastora Sandra assumindo seu lugar no púlpito de sua igreja, com total liberdade.A Igreja do Rudge também aproveitou uma reforma que precisava ser feita nos banheiros para adaptá-los ao acesso de usuários de cadeira de rodas, com a construção de corrimões e portas amplas.

 

Assim como a Igreja do Rudge, várias outras igrejas metodistas, em todo o país, estão se adaptando para receber, entre seus membros, pessoas que tenham necessidades especiais. Afinal, o Evangelho de Cristo não faz acepção de pessoas e a Igreja tem, como sua missão, acolher as diferenças. Só que esse acolhimento não pode ser feito apenas no discurso. Ele começa na maneira como a igreja local recebe seus próprios membros. E, muitas vezes, o que se chama de "necessidades especiais" não diz respeito apenas a um grupo restrito de pessoas. A Igreja Metodista em Vila Nova, município de Barra Mansa (RJ) construiu uma rampa externa, de acesso à entrada do templo, quando percebeu que tinha, entre seus membros, várias pessoas idosas que enfrentavam dificuldade em subir as escadas. Rampas de acesso também foram construídas na Igreja Metodista de Cachoeiro do Itapemirim (ES) e Igreja Metodista Bela Aurora, em Juiz de Fora (MG), ambas da 4ª região eclesiástica. A 4ª região tem um trabalho pioneiro no atendimento a deficientes físicos. Em novembro do ano passado, foi criada a Pastoral junto ao Portador de Deficiência Física, sob a coordenação de Eloíza Elena Machado de Oliveira. Leiga, membro da Igreja Metodista Central em Juiz de Fora, Eloíza desenvolve um trabalho de doação de cadeira de rodas para pessoas carentes, em parceria com a Associação Beneficente Roberto de Oliveira, de sua cidade. A Igreja de Juiz de Fora tem o atendimento ao deficiente como uma de suas prioridades. O prédio de educação cristã que será construído nos fundos da igreja foi inteiramente projetado para atender às necessidades dos deficientes físicos. Agora, Eloíza tem o desafio de levar essa preocupação a outras igrejas de sua região: "Nosso objetivo é que cada igreja metodista seja um local de acolhida".

 

Cura da surdez na Igreja de Santo André

 

 

Osmar Roberto Pereira ficou especialmente comovido quando, em uma devocional de sua igreja, a Igreja Metodista Central de Santo André (SP), leu o texto bíblico que descrevia como Jesus curava um homem surdo e gago (Marcos 7.31-37). O pai e a mãe de Osmar são surdos; e eles se comunicavam por intermédio de sinais caseiros. Para aprender a falar, Osmar, que tem a audição normal, contou com a ajuda de outros membros da família. Naquela noite especial, Osmar sentiu que Deus curaria seus pais.

 

Pouco tempo depois, no ano de 2000, o pastor Luís Carlos Lima Araújo chegou à Igreja de Santo André e percebeu a necessidade da igreja ter um intérprete para que o culto fosse entendido pelos pais de Osmar. Assim, em 2001, Osmar começou um curso na Primeira Igreja Batista de Santo André, que tem um ministério com surdos há 15 anos, e terminou em 2003.  Logo que começou a fazer o curso, Osmar teve a oportunidade de levar seus pais ao um culto naquela igreja. "Quando o culto se iniciou e vi meus pais louvando e vendo a Palavra de Deus, o Senhor me disse: ?Estou curando os seus pais?. Entendi que Deus estava abrindo os ouvidos espirituais de meus pais, e também os seus ouvidos, porque agora eles estavam entendendo e louvando a Deus. Acredito que o mais importante é a cura espiritual do que a corporal. Senti que esse era o chamado de Deus para a minha vida, e assim que terminei o curso, iniciamos o trabalho com interpretação nos cultos".

 

Hoje, Osmar trabalha como intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Faz a interpretação dos cultos não apenas para seus pais, mas para um grupo de cerca de treze surdos que, graças a este trabalho, começou a freqüentar a Igreja Metodista Central de Santo André. Para que essas pessoas não tenham nenhum problema de visibilidade, a igreja reserva dois bancos da frente com um cartaz indicativo: "reservado para o ministério de surdos". Osmar explica que eles preferem o termo surdo ao "deficiente auditivo", que normalmente se considera politicamente correto: "Os surdos são uma comunidade que possuem língua e culturas próprias. A LIBRAS é uma língua como qualquer outra, com regras, estrutura e gramática. Por isso, eles não se consideram deficientes, pois este termo mostra que a maioria é ´eficiente´ e os deixa inferiorizados. Eles também não gostam de ser chamados de surdos-mudos, pois eles não são mudos, apenas não falam ou não aprenderam a falar como a maioria".

 

Atualmente, Osmar atua como intérprete de surdos também profissionalmente, na Faculdade Radial e na Universidade Metodista (veja quadro). "A Lei de Libras que foi regulamentada em dezembro de 2005 exige a presença de intérpretes em todas as instituições de ensino que possuírem alunos surdos", ele informa.

 

Para as igrejas que quiserem oferecer este atendimento, Osmar recomenda, além de muito amor, paciência e consagração a Deus, buscar capacitação por meio do curso de Libras. Informações sobre o curso podem ser obtidas em associações para surdos e nas igrejas que já desenvolvam este ministério. O telefone da Igreja de Santo André é (11) 4438-3784.

                                                                          

 

 Instituições de ensino inclusivas

 

A Escola Metodista de Educação Especial "O Semeador", localizada no município de São Caetano, SP (11- 4238-3100) é uma boa referência para as igrejas que quiserem se capacitar para o atendimento a pessoas com necessidades especiais. Eles atendem alunos com deficiências mentais, físicas e autismo. A diretora da escola, Célia Regina Monteiro, conta que ainda há muito a ser feito para tornar o prédio da escola totalmente acessível a seus estudantes: "gostaríamos de instalar elevadores para o segundo andar, mas é muito caro", diz. Mas, o que falta em recurso financeiro, sobra em criatividade. Por exemplo: para facilitar o trânsito dos alunos cegos, são coladas nas paredes, na altura das mãos, faixas de 10 centímetros de largura com textura diferenciada. E próximo à porta de cada sala de aula são pendurados objetos que simbolizam a disciplina ministrada: um disquete para a sala de informática; uma bolinha para a sala de educação física; uma bíblia em miniatura para a sala de educação cristã, etc.

Quando um obstáculo está próximo (uma escada ou bebedouro, por exemplo), no lugar da faixa é colada uma flor de tecido: quando o aluno toca a flor, sabe que ali perto tem perigo e ele precisa da ajuda de alguém para continuar. "Ninguém consegue ser totalmente independente do outro, mas pequenas adaptações podem melhorar o acesso e a segurança", diz a professora Célia.

 

 

A Universidade Metodista de São Paulo, Umesp, é outro exemplo a ser seguido. A universidade conta com uma Assessoria Pedagógica para Inclusão da Pessoa com Deficiência desde agosto do ano passado, sob a coordenação da pastora Elizabete Costa (11- 4366-5746). "A assessoria tem a incumbência de tornar a universidade acessível sob todos os aspectos, seja no que diz respeito à arquitetura, seja nas questões que envolvam relações humanas", ela explica. Na inscrição, os novos alunos identificam suas necessidades específicas e já recebem apoio no dia do vestibular. Atualmente, há 25 alunos sendo atendidos. Além da adaptação dos prédios mais antigos (os novos já são construídos com critérios de acessibilidade), a meta atual da Assessoria é a digitalização dos textos acadêmicos, para atender às necessidades dos deficientes visuais, que contam com computadores equipados com sintetizador de voz. A Assessoria Pedagógica trabalha em sintonia com a Pastoral Universitária e, também, como Projeto Vida, desenvolvido pela Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, que oferece prática esportiva para crianças e adolescentes deficientes da comunidade.


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