Olho por olho e acabaremos todos cegos
Welinton Pereira da Silva
A frase acima n?o ? minha, foi inspirada em uma faixa exposta no Maracan? com quase os mesmo dizeres. Est? na ordem do dia a discuss?o sobre a maioridade penal. ? incr?vel ver como um tema toma conta da popula??o: a m?dia bota fogo no circo armado, incentivando o esp?rito de vingan?a e raiva. Vendem-se jornais, revistas e pontos no Ibope na apresenta??o de solu?es simplistas; o clamor popular ou a opini?o p?blica, como um deus desejoso de sacrif?cio exige mudan?as j?. Na sociedade do " fast food" a criminaliza??o dos " menores" surge como a grande salvadora da p?tria e o Congresso Nacional, que recentemente se notabilizou por absolver seus pares mensaleiros e em n?o votar nada a n?o ser as medidas provis?rias do Executivo, votou tr?s altera?es na lei de seguran?a em apenas 24 horas.
O psicanalista e colunista do jornal Folha de SP Contardo Galligaris denuncia a hipocrisia de nossa sociedade, citando Michel Foucault, ao afirmar que "a pris?o ? uma institui??o hip?crita desde sua inven??o moderna, ela protege o cidad?o, evitando que os lobos circulem pelas ruas, pune o criminoso, constrangendo seu corpo, mas nossa alma "generosa" dorme melhor com a id?ia de que a pris?o ? um empreendimento reeducativo, no qual a sociedade emenda suas ovelhas desgarradas". Quem conhece nossas pris?es superlotadas e imundas sabe que as mesmas funcionam como verdadeiros dep?sitos de seres humanos, para n?o dizer uma universidade do crime.
Estamos todos angustiados e revoltados com a morte de Jo?o H?lio, que teve sua vida ceifada de maneira t?o tr?gica e violenta com apenas 6 anos de idade. Mas, ser? que os que defendem a redu??o da maioridade penal realmente acreditam que isto vai resolver nossos problemas de viol?ncia e inseguran?a? Ser? que a ida de nossos adolescentes para as cadeias mais cedo vai ajudar na reeduca??o deles?
Se analisarmos os dados das Secret?rias de Seguran?as P?blicas de nossos estados vamos constatar que o ?ndice de crimes cometidos por adolescentes ? infinitamente menor dos que os praticados por adultos. Os crimes cometidos por adolescentes s?o, portanto, uma pequena ponta do iceberg da viol?ncia, inseguran?a e corrup??o presentes em nossa sociedade e, certamente, se desejarmos resolver, de fato, a quest?o da criminalidade nas grandes cidades, nossa reflex?o e atua??o precisa ser bem mais s?ria e respons?vel e n?o a hipocrisia que estamos presenciando, principalmente por nossos dirigentes que v?m a p?blico fazer propostas que eles mesmos sabem que n?o s?o vi?veis.
Revi recentemente o filme 174, que retrata o epis?dio vivido pelos passageiros do ?nibus no Rio de Janeiro no Jardim Bot?nico, em que Sandro, ex- menino de rua e sobrevivente da Chacina da Candel?ria faz ref?m v?rios passageiros/as. ? impressionante a sucess?o de erros e a falta de equipamentos da Pol?cia Militar que estava atuando no caso. O desfecho foi o assassinato de Sandro e de uma ref?m quando o caso estava praticamente resolvido. Certamente aquela jovem estudante n?o estaria morta n?o fosse a a??o atabalhoada dos policiais presentes no caso.
Com toda indigna??o que o caso do Jo?o H?lio deve nos provocar, e com solidariedade ? sua fam?lia, gostaria muito que houvesse a mesma indigna??o e revolta contra todas as injusti?as e corrup??o que t?m assolado o nosso pa?s, que t?m jogado e mantido na cadeia pessoas sem a menor chance de recupera??o. Precisamos dar um basta na hipocrisia se desejamos resolver os problemas da viol?ncia e seguran?a. ? consenso entre os que conhecem minimamente nossas institui?es que o problema n?o est? na lei e, sim, nas institui?es p?blicas que n?o funcionam. ? grande a sensa??o de impunidade; a mudan?a na lei pode at? dar a sociedade a sensa??o de ter resolvido a quest?o, mas certamente o problema persistir?.
Numa sociedade em que poucos s?o muito ricos e muitos s?o muito pobres, em que a sensa??o de impunidade tornou lugar comum, n?o basta mudar as leis de seguran?a; nossa mudan?a precisa ser bem mais profunda, uma verdadeira convers?o como prop?em os Evangelhos:
Certa vez, respondendo ? pergunta dos disc?pulos sobre "quem era o maior no Reino de Deus" ? Jesus chamou uma crian?a, colocou-a no meio deles e disse: eu lhes garanto: se voc?s n?o se converterem e n?o se tornarem como crian?as, voc?s nunca entrar?o no Reino dos C?us. Mat. 18.2.
Espero que estes acontecimentos recentes, como a morte de Jo?o H?lio e o assassinato da av? por um menino de 12 anos a facadas depois de ter cheirado solvente (pr?tica comum entre meninos que vivem nas ruas), despertem nossa sociedade desse sono profundo da indiferen?a.
 
								 
				


 
								 
								 
								