Publicado por Sara de Paula em Geral - 16/03/2021

Carta Pastoral do Colégio Episcopal: Cremos no Deus de toda a consolação

post-doc-660-800x568.jpg

Carta Pastoral do Colégio Episcopal: Cremos no Deus de toda a consolação
Clique aqui para baixar em PDF

 

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que também sejamos capazes de consolar os que passam por qualquer tribulação, por intermédio da consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porquanto, da mesma maneira como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, igualmente por meio de Cristo transborda a nossa consolação”. (2 Coríntios 1.3-5)

 

Queridos irmãos e irmãs,

O período entre 597 e 587 a.C. foi um dos mais difíceis da história de Israel: a chegada de Nabucodonosor ao trono babilônico e seus desejos expansionistas afetaram toda a região. Sua primeira intervenção transformou Israel em país vassalo. A segunda foi um cerco a Jerusalém e a destruição da cidade, com consequente destituição de Zedequias, último rei da linhagem davídica no trono de Jerusalém. Segundo os historiadores, entre 587 a.C. e 586 a.C., houve um cerco pesado à toda a cidade de Jerusalém, resultando em mortes e fome, culminando num exílio de cerca de 70 anos. Foram necessários mais ou menos cem anos para que Jerusalém fosse devidamente reconstruída, depois das investidas de Neemias e Esdras.

Os livros de Jeremias, Ezequiel, Lamentações, Neemias e Esdras tratam do tema diretamente e através de sua leitura podemos conhecer o estado de espírito das pessoas naquele período. Jeremias é o mais famoso profeta do exílio. Suas palavras de exortação ao povo foram inicialmente muito duras, mas a partir do capítulo 30 de seu livro também encontramos as palavras mais profundas de esperança e recomeço.

Trazemos à memória o que nos pode dar esperança (Lamentações 3.21). Por isso, ao meditar sobre o que estamos vivendo hoje, talvez os cercos (tanto o babilônico quanto o romano, em 70 d.C.) sejam a narrativa bíblica mais próxima da nossa realidade nesta pandemia, em termos de experiência prática, vital, emocional e espiritual.

Senão, vejamos: Nossos movimentos estão limitados devido a um grande inimigo, que ameaça todas as fronteiras e contra o qual, até agora, as investidas têm dado resultados tímidos diante das perdas. A dificuldade econômica subsequente é grande, atingindo setores de produção e de serviços de maneira diferenciada, mas igualmente grave, em todo o planeta. As perspectivas de futuro ficam turvas para a juventude. Planos são adiados em todas as esferas. Despedidas acontecem em meio a um cenário de adoecimento. Os mais frágeis do povo são perdidos. Os agentes de saúde nos hospitais, clínicas, UPAs etc., estão vigilantes hoje como estavam os soldados sobre os muros naquela guerra. Não se trata apenas de vencer a batalha que pareça ser a final. Também é preciso desenvolver resistência, resiliência e esperança até que.

Palavras de consolo são essenciais, mas não parecem o bastante para nós, como também não pareciam para os habitantes de Jerusalém e dos povoados judeus ao seu redor. Aquele rei parecia tão impossível de vencer como o vírus hoje. E ainda que desenvolvamos as vacinas e outros medicamentos para combater e prevenir estes ataques, teremos de, por muito tempo, conviver com as sequelas – tanto nos corpos que sobrevivem quanto nos corações de quem perdeu pessoas queridas –, bem como haverá necessidade de uma série de recomeços nas diversas áreas da vida.

Naquele cenário, Jeremias declarou uma promessa de Deus: “Porque restaurarei a sua saúde e curarei as suas feridas” (Jeremias 30.17) e “Há esperança para o seu futuro” (Jeremias 31.17). O autor Craig Groeschel afirma que as promessas que fazemos a Deus são de pouca valia, mas as que Ele faz a nós são transformadoras. A promessa de cura não tratava somente do aspecto individual, mas da coletividade, de Israel como povo.

Jeremias não é imprudente ou negligente com suas palavras. Todas as consolações existentes nos capítulos finais de seu livro estavam recheadas de conselhos e advertências e delineavam que a cura seria um processo, talvez tão longo quanto fora a ferida criada por Nabucodonosor. Isso é tão verdade que, quando o templo novo foi reconstruído, havia quem chorasse de alegria por aquela visão e quem chorasse de tristeza lembrando como tinha sido no passado, conforme narrado no livro de Esdras.

É admirável como a Palavra de Deus não minimiza problemas, pecados nem realidades difíceis, mas, igualmente, proclama em alto e bom som a bênção, a promessa e a realização de Deus! Nosso consolo não está nas palavras – está na observação de realidades. E nós queremos, em nome de Jesus, invocar toda a riqueza da realidade bíblica vivida por Jeremias e seus compatriotas para inspirar vocês na busca por resistência, na atuação por meio da fé, no cuidado amoroso para com todas as pessoas e na firme esperança de que esse tempo difícil também irá passar!

Jeremias insistiu em muitas práticas que seriam importantes para passar por aquele momento difícil. Nós também temos recebido diversas instruções. Precisamos segui-las, para nosso bem e para o bem de todas as pessoas que amamos. Elas incluem o cuidado com a higiene em todas as coisas, o uso das máscaras como forma de bloquear a transmissão oral do vírus, o atendimento aos protocolos de segurança nos locais públicos, a redução tanto quanto possível do número de pessoas nas ruas, o evitar aglomerações, a promoção do distanciamento social e a redução de todas as nossas atividades que possam aguardar um tempo a mais para serem desenvolvidas. É na cooperação de todos e todas que poderemos garantir que o “cerco do coronavírus” reduza seu dano mortal, enquanto nossas intercessões sobem a Deus pelas saídas, tanto do trabalho humano quanto da intervenção sobrenatural de seu amor misericordioso sobre todas as nações da terra.

Escrevemos a fim de alimentar a esperança. Mantenhamos os olhos nas expressões de Jeremias e de Paulo, quando eles nos dizem que Deus é o Deus de toda a consolação; que podemos nos consolar lembrando o que Ele já fez, sendo suporte mútuo nas famílias, nas amizades, na vida da igreja e na manifestação pública de nossa fé. Jesus sofreu por nós e devemos aprender a sofrer pelas outras pessoas – sendo apoio nos lutos, compartindo o pão de cada dia, estimulando o comércio entre amigos etc. Qualquer pequena ação pode ser fonte de cura e consolo. E da mesma forma como o sofrimento de Cristo resultou em salvação para muita gente, também seu consolo alcançará muitos e muitas mais.

Choramos com todos e todas que têm perdido seus entes queridos. Na essencialidade do serviço espiritual, intercedemos, ouvimos, aconselhamos, fazemos campanhas de alimentos, invocamos a cura, jejuamos em favor de todos os países, proclamamos a Palavra vivificadora. Redescobrimos e experimentamos os milagres de Deus nas inúmeras narrativas de pessoas recuperadas. Celebramos o conhecimento que Ele nos deu para criar, à semelhança dele, coisas boas para este mundo em termos de medicamentos e vacinas.

Tudo isso é dom, é presente de Deus, consolo e graça neste mundo sujeito ao mal, ao pecado, à corrupção, sujeito à finitude, pois a plenitude do Reino ainda não veio e por isso estamos, como disse Paulo, ainda sujeitos à servidão e aos limites do humano. Deus, porém, não está. Em Cristo, Ele nos promete vida abundante aqui e vida eterna depois. Consolemo-nos, pois, mutuamente, com estas palavras.

Ele veio, Ele está, Ele virá. Ele fez, Ele faz, Ele fará. Ele salvou, Ele salva, Ele salvará.

 

No amor de Cristo e em oração,

 

Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Março de 2021.

Ouça o documento


Posts relacionados

Geral, por Sara de Paula

Sede Nacional temporariamente sem telefone

Entre em contato por e-mail ou Facebook

Geral, por José Geraldo Magalhães

Igreja Presbiteriana Unida emite pronunciamento sobre decisão da Assembleia Geral Americana

Igreja Presbiteriana do Brasil se pronuncia a respeito da decisão da Igreja Presbiteriana dos USA que permite a realização de casamentos com pessoas de mesmo sexo

Geral, por José Geraldo Magalhães