discurso professor Rui

10 de dezembro de 2009


 


Meu car?ssimo Vereador Zel?o, quero, de modo especial, cumpriment?-Io, n?o s? por propor essa celebra??o dos 100 anos do CredoMetodista, mas mais marcadamente por sua sensibilidade em perceber que uma igreja que prop?e e confessa um credo social que completa 100 anos constitui-se numa igreja que precisa assinalar esse evento para ela mesma e para a sociedade. O meu caro irm?oest? atento para a dimens?o que isso representa. O sentido daquilo que estamos celebrando emerge de uma compreens?o de que nossa responsabilidade social pela justi?a, direitos humanos, direitos da terra, ? parte do conte?do central de nossa f?. Cremos que o cumprimento de nossa responsabilidade ?tica e social n?o ? um complemento, ou algo adicional ao nosso modo de crer. N?o se trata de uma "conseq??ncia" de nossa f?. ? mais at? mesmo que uma"doutrina social”. N?o se trata da cereja no bolo. Trata-se da ess?ncia mesma do bolo.


? da ess?ncia de nossa f? crer, afirmar, e lutar pela justi?a. Voz dos sem voz. Socorrer o desvalido e o necessitado. Cremos que a salva??o n?o ? s? pessoal, cremos na santidade social e na salva??o social. Nosso fundador expressou-se uma vez dizendo “basta a santidade social” porque, para o crist?o, essa inclui a outra, a pessoal. Por isso mesmo, meu irm?o vereador, temos um credo social que faz parte dos documentos oficiais de nossa igreja, isto ?, de sua lei ordin?ria.


Somos uma Igreja que tem um Credo Social. O que significa isso? A ?nfase dada tanto no Credo, no “crer” da f?, como no "social ", que coloca nossa f? e nosso crer no meio da sociedade e implica numa presen?a social e p?blica da Igreja da qual n?s somos membros.


A express?o do Reino de Deus ? totalmente mal compreendida e desvirtuada se eliminamos dela a preocupa??o p?blica e social com o amor, a justi?a e a paz. Reino de Deus ? um conceito social com dimens?o pessoal e n?o o contr?rio. Com a afirma??o de um credo social recusamos a id?ia de um Reino de Deus abstrato, individualista, interiorizado, puramente espiritualizado, t?o a gosto de uma sociedade de consumo e vendido como commodities espirituais. Reino de Deus para n?s ? uma semente de justi?a e paz que germina na sociedade e no cora??o de muitos modos. Damos as m?os a todos e todas que promovem a justi?a.Por isso, em nosso principal documento mission?rio assevermos que nos associamos com todos e todas que promovem a vida.


Nesse aspecto, a Igreja Metodista, seguindo a inspira??o social de seu fundador Jo?o Wesley, foi pioneira em adotar um Credo Social, em 1908, quando assumiu a luta por direitos iguais com ?nfases trabalhistas buscando condi?es de vida para os oper?rios da nascente ind?stria. O trabalhador na ind?stria, sem direitos submetia-se ?s imposi?es dos detentores dos meios de produ??o e secundava a m?quina como um ap?ndice a ela. O filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos, retratou o fato em imagens inesquec?veis.


Esse Credo daMetodista Unida, de 1908, toca em assuntos vitais para a ?poca como a quest?o trabalhista na ind?stria, a quest?o crucial do armamentismo e da guerra, da fam?lia e dos direitos da crian?a. Na elabora??o desse primeiro credo social h? uma clara influ?ncia do Evangelho Social do s?culo XIX, um precursor da teologia latino-americana da liberta??o do s?culo XX.? certo que para n?s o trabalhador do campo deveria ter a? tamb?m um destaque, o que ser? corrigido em vers?es brasileiras desse credo.


O Credo Social nasceu na Igreja Metodista dos EUA, mas passa a ter vig?ncia no Brasil desde a sua cria??o em 1908.E aqui n?o podemos esquecer de suas implica?es para a Igreja Metodista no Brasil em obras de pioneirismo social de grande porte. Devo trazer ? mem?ria uma iniciativa gigante para a ?poca. Falo da cria??o do Instituto Central do Povo , no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, local pobre, doente, analfabeto, cercado pela favela j? existente na ?poca, do morro da Provid?ncia. Essa institui??o, hoje mais que centen?ria, traz a marca do evangelho social e com os ventos que inspiraram a elabora??o do Credo Social na Igreja Metodista Episcopal: essa centen?ria casa foi pioneira em muitos aspectos no Brasil, em atender ?s popula?es pobres com alfabetiza??o e escola prim?ria,com os primeiros jardins de inf?ncia e creches do Brasil, com atendimento m?dico, e com a primeira escola t?cnica de enfermagem do Rio de Janeiro. O seu inspirador foi o mission?rio Hugh Clarence Tucker, homem de grande vis?o social e coragem. Foi um batalhador ao lado de Osvaldo Cruz na grande e incompreendida campanha de erradica??o da epidemia de febre amarela no Brasil, e o governo brasileiro fez o reconhecimento p?blico dessa personalidade, de tal modo que foi condecorado com a singular Ordem do Cruzeiro do Sul.


O Instituto Central do Povo, no Rio de Janeiro, n?o foi a nossa primeira obra social. Houve antes centenas de escolas paroquiais atendendo crian?as e cursos de alfabetiza??o numa ?poca em que o Brasil possu?a ?ndices em torno de 60% de analfabetos. Mas o Instituto Central do povo ? o nosso cart?o de visita quando adotamos o Credo Social. Por essa raz?o ele ocupa um lugar destacado no banner que voc?s t?m diante dos olhos (o banner traz uma foto do mural presente no Edif?cio ?mega, da Faculdade de Teologia, que represnta o ICP e Tucker, entre outras imagens marcantes da hist?ria do metodismo brasileiro).


Com a autonomia da Igreja Metodista no Brasil em 1930, o Credo Social sofreria pequenas e importantes altera?es a partir de 1934. H? uma forte advert?ncia contra o militarismo crescente na Europa e Estados Unidos, colocando em cheque a conviv?ncia mundial. O Credo reflete o esp?rito de colabora??o social e ecum?nico. J? d? ?nfase a temas muito contempor?neos, como a igualdade entre homens e mulheres em seus direitos pol?ticos e sociais,prop?e a aboli??o do trabalho de crian?as com preju?zo f?sico, intelectual e moral para elas, estende ao trabalhador os direitos prim?rios de vida, leis protetoras, sustento, educa??o, direito de greve, etc. muitos itens pontuam esses direitos, direitos que n?o podemos detalhar aqui por raz?es exclusivamente de tempo. (O livro Sal da Terra e Luz do Mundo que passamos ?s m?os dos ocupantes da mesa, traz o documento). O credo seria novamente alterado e explicado em 1960, com maior ?nfase nas quest?es estruturais, abordando a ordem pol?tica, social e econ?micae d? destaque ? liberdade de imprensa e menciona a preocupa??o com a forma??o para a cidadania. O Credo em 1970 aponta as dificuldades pol?ticas e o aumento da disparidade econ?mica, cultural, social. Aigreja afirma a necessidade de canais adequados para a express?o pol?tica e adota como inerente ao credo social a Declara??o Universal dos Direitos Humanos, das Organiza?es das Na?es Unidas.


Devo mencionar que a Igreja Metodista teve nos meados do s?culo passado uma inser??o entre os povos ind?genas considerada exemplar na ?poca pelo respeito demonstrado ? cultura e costumes dos povos origin?rios. Em primeiro lugar com m?dicos metodistas que trabalharam com Rondon e Tel?maco Borba. Depois, Projeto Caiu? e Terena, projeto elogiado por antrop?logos, quando nosso mission?rio trabalhou defendendo a dignidade e a cultura do ?ndio, ele se aculturando e n?o o contr?rio. Infelizmente a mesma compreens?o n?o aconteceu entre outras miss?es crist?s. Lembro a luta contra o Servi?o de Prote??o ao ?ndio que havia abandonado completamente os ideais de Rondon e seria com justi?a extinto para dar lugar ? Funai.Hoje esse projeto j? n?o a mesma for?a do passado e precisa ser revitalizado.


Dentre muitos projetos sociais relevantes espalhados pelos Brasil fa?o quest?o de destacar o Projeto Meninos e Meninas de Rua. Esse Projeto nasceu numa ?poca dif?cil da ditadura militar quando proliferava os famigerados justiceiros, que matavam crian?as mediante pagamento e, ao mesmo tempo, um crescente n?mero de crian?as vivendo nas ruas de S?o Bernardo do Campo, sem nenhuma prote??o ou cuidado. ?poca de grandes chacinas que tornaram SBC famosa, como a chacina de sete garotos em um col?gio da regi?o central. ?poca perigosa para um projeto de cuidado a meninos e meninas vivendo nas ruas. Nesse ambiente nasceu o projeto com participa??o de estudantes de Teologia e organizado pela Regi?o Eclesi?stica de S?o Paulo. Muitas crian?as amea?adas tiveram que ser escondidas para n?o serem mortas. O projeto tinha apoio de ag?ncias do exterior. Junto com o projeto ganhou for?a a discuss?o do Estatuto da Crian?a e do Adolescente, muitas das reuni?es realizadas nas depend?ncias da Faculdade de Teologia. O projeto tomou corpo e proje??o e virou uma parceria entre a prefeitura de S?o Bernardo do Campo e Igreja Metodista. Muito bem estruturado e muito bem desenvolvido marcou a cidade de S?o Bemardo e recebeu pr?mios e comendas, inclusive da Comiss?o de Direitos Humanos da C?mara de S?o Paulo, comiss?o na ?poca presidida por Eduardo Greenhalgh. Isso ocasionou pedidos vindos das prefeituras de Diadema e Guarulhos, e o projeto estendeu-se tamb?m a essas cidades.Hoje o projeto tem na presid?ncia a Professora Margarida Ribeiro e como tesoureiro o Prof. Otoniel Luciano Ribeiro (que n?o s?o parentes), e est?o presentes e pe?o que se coloquem de p?.


Senhor presidente, poderia destacar outros modos de inser??o p?blica da Igreja em muitos cantos desse Brasil. Projetos bonitos de inclus?o de mulheres, de inclus?o de crian?as empobrecidas sem distin??o de sexo, de ra?a ou religi?o, organiza?es com a?es pr? ativas de combate ao racismo e toda sorte de discrimina??o. Estes projetos s?o merecedores de todo apoio e considera??o. Mas, devo ser honesto diante dessas pessoas aqui presentes: j? tivemos maior presen?a p?blica e prof?tica na sociedade.j? Hoje vivemos momentos de hesita??o. E sua iniciativa, meu caro vereador, de homenagear a Igreja Metodista por seu Credo Social em seus 100 anos, serve para n?s como um grande incentivo para retomarmos o vigor de nossa voca??o social e prof?tica com mais for?a ainda. Por isso, manifesto a nossa gratid?o por nos motivar ao compromisso social como Igreja, como comunidades e como pessoas, e fazer jus, assim ao moto que a Igreja Metodista tem, de ser uma comunidade mission?ria a servi?o do povo. Que Deus o aben?oe por sua iniciativa, que Deus o aben?oe em suas grandes responsabilidades, que Deus aben?oe essa casa em sua tarefa de fazer de S?o Paulo uma cidade mais justa e mais humana.


Obrigado.


Rui de Souza Josgrilberg.


Reitor da Faculdade de Teologia


Igreja Metodista


 


 

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