Turma do tricô

Embora sempre estivessem presentes em atividades mission?rias e de evangeliza??o na Igreja Metodista brasileira, as mulheres foram silenciadas e ocultadas, assim como em outras igrejas protestantes do pa?s, afirmou a pastora e professora Margarida Ribeiro, que abriu o ano letivo da Faculdade de Teologia (FaTeo) metodista, de Rudge Ramos, S?o Paulo.


ALC
sexta-feira, 6 de mar?o de 2009


Ott?lia Chaves (19XX-19XX), leiga que exerceu um importante papel na constru??o da Igreja Metodista no Brasil, reportava-se ? "turma do tric?", referindo-se ?s mulheres que ficavam sentadas nas ?ltimas cadeiras nos espa?os conciliares, fora dos limites do plen?rio, assistindo a decis?es tomadas pelos homens, leigos e pastores.


"Hoje, sabemos que essas mulheres eram ativas na igreja e na sociedade", frisou Margarida, que defendeu tese de doutorado focada em "Rastros e rostos de mulheres no Protestantismo brasileiro", tema da aula magna. Professora da Universidade Metodista de S?o Paulo (Umesp), Margarida coordena o programa de extens?o da FaTeo.


A pesquisadora rastreou o protestantismo brasileiro em busca de fragmentos e vest?gios da atua??o das mulheres nas tarefas educacionais, evangelizadoras e sociais das igrejas. Ott?lia Chaves n?o ficou no anonimato, pois escreveu "O itiner?rio de uma vida", livro que re?ne fatos e est?rias do trabalho que ela ajudou a desenvolver.


No recorte que a pesquisadora fixou para a sua an?lise das mulheres no metodismo no Brasil, de 1930 a 1970/71, ela descobriu que essas mulheres foram atuantes na alfabetiza??o, na luta contra o alcoolismo, no combate de doen?as, nas escolas dominicais, em orfanatos e na venda e distribui??o de B?blias e literatura evangel?stica (colportoras).


Bem informada e relacionada com fontes internacionais, Ott?lia ficou sabendo que dos cinco representantes metodistas dos Estados Unidos enviados ao Conc?lio que decidiu pela autonomia da Igreja Metodista do Brasil, em 1930, uma era mulher. Ela tratou de argumentar que das tr?s regi?es brasileira – Norte, Centro e Sul – que estariam representadas no Conc?lio, pelo menos estivesse presente uma mulher por regi?o.


Assim, dos 15 delegados brasileiros, tr?s eram mulheres no Conc?lio de 1930. No X Conc?lio Geral da Igreja Metodista brasileira, em 1970/71, que aprovou o ingresso de mulheres no minist?rio pastoral, dos 84 conciliares apenas seis eram mulheres. Se no Conc?lio de 30 a propor??o era de uma mulher para tr?s delegados homens, 40 anos depois essa propor??o passou de uma para 14.


No per?odo estudado, as mulheres apareciam nos documento conciliares apenas nos anexos, nos relat?rios de programas sociais, educacionais, diaconias, mas jamais nas atas, constatou a professora Margarida na sua pesquisa. Mesmo sendo Ott?lia Chaves a ?nica brasileira eleita para a presid?ncia da Federa??o Mundial de Mulheres Metodistas, nos anos 1951-1956.


Ao "desvelar" rostos novos de mulheres metodistas an?nimas entre 1930 e 1970, Margarida deparou-se com costureiras, lavadeiras, mascateiras que tiveram importante papel nas congrega?es. Uma dessas mulheres, em especial, chamou a aten??o: a catadora de papel conhecida apenas por tia Mariana, negra de Juiz de Fora, nos anos 40 a 50 do s?culo passado.


Mariana destinava uma parte do que angariava na coleta de papel ? igreja. Mas impunha uma condi??o: que esse dinheiro n?o ficasse para a igreja local, mas fosse encaminhado ao orfanato Ana Gonzaga, do Rio de Janeiro. "Cruzando os dados, descobri na contabilidade do orfanato remessas de dinheiro vindas de Juiz de Fora, da parte da tia Mariana", contou Margarida em entrevista ? ALC.


Mesmo n?o exercendo o poder eclesi?stico, mulheres metodistas tiveram uma importante inser??o na sociedade local, na viv?ncia do cotidiano e no exerc?cio da cidadania, buscando melhores condi?es de vida e dignidade. Ao responderem as demandas da comunidade de f?, "elas transcenderam fronteiras e conquistaram novos espa?os e formas de vivenciar o poder", concluiu a pesquisadora.


As est?rias dessas mulheres, muitas delas an?nimas, levam a professora Margarida a vislumbrar a possibilidade de "tricotar um novo tempo".

Picture of Portal Igreja Metodista

Portal Igreja Metodista

Igreja Metodista - Sede Nacional.

Tags

compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossas notícias

Receba regularmente as notícias da Igreja Metodista do Brasil em seu e-mail.
A inscrição é gratuita!