Comiss?o de anistia realiza julgamento hist?rico em Bras?lia
Bispo Stanley Moraes, presente ao evento, pediu perd?o ao pastor Fred Morris em nome da Igreja Metodista
O audit?rio D. Helder C?mara, da Confer?ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Bras?lia, foi palco, nesta sexta-feira (26) de um julgamento considerado hist?rico. O caso de 13 religiosos perseguidos pela ditadura militar foram julgados pela Comiss?o de Anistia do Minist?rio da Justi?a. O julgamento ocorre durante a 11? edi??o da Caravana da Anistia.
O evento, que aconteceu pela manh?, incluiu v?rias atividades como o Ato de Doa??o de Documentos, que faz parte do projeto do Memorial da Anistia Pol?tica no Brasil, al?m da constru??o da Bandeira das Liberdades Democr?ticas, formada por retalhos e a Sess?o de Mem?ria, especialmente produzida para a ocasi?o. A sess?o de julgamento teve in?cio ap?s as manifesta?es.
A Caravana faz parte do Projeto Educativo "Anistia Pol?tica: Educa??o para a Cidadania, Democracia e os Direitos Humanos", que tem como objetivo contribuir para uma forma??o hist?rica, humana e pol?tica, especialmente da juventude, bem como para o exerc?cio de novas formas de democracia e cidadania. Lan?ada em abril deste ano, a Caravana j? julgou 172 processos no Rio de Janeiro, S?o Paulo, Curitiba, Goi?nia, Caxias do Sul, Salvador, Macei? e S?o Bernardo do Campo.
Al?m da Igreja Cat?lica, por meio da CNBB, tamb?m compunha o rol de promotores desta edi??o da caravana o Conselho Nacional de Igrejas Crist?s (CONIC); a Confer?ncia Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB); a Igreja Metodista e a Comiss?o Brasileira Justi?a e Paz (CBJP).
Participam da solenidade o ministro interino da Justi?a, Luiz Paulo Teles Barreto; os ministros das secretarias Especiais de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi; e de Pol?ticas de Promo??o da Igualdade Racial, El?i Ferreira, e o presidente da Comiss?o de Anistia, Paulo Abr?o, al?m de bispos da CNBB e representantes de outras entidades religiosas.
Casos julgados
Marcelo Pinto Carvalheira, arcebispo em?rito da Igreja Cat?lica na Para?ba foi preso em 1968, acusado de atividades subversivas e de esconder em semin?rios pessoas consideradas subversivas e foragidas da justi?a. Ap?s 51 dias de c?rcere e tortura teve suas atividades monitoradas at? o final da d?cada de 80.
Al?pio Cristiano de Freitas, ex-padre de nacionalidade portuguesa, preso em 1963 sob acusa??o de praticar atividades subversivas. Foi condenado a seis anos de reclus?o. O anistiando relata que ap?s sofrer pris?o e tortura exilou-se no M?xico. Em 1965, retornou ao Brasil e foi novamente preso e condenado a 24 anos de reclus?o. Cumpriu pena em diversos pres?dios como o de Ilha Grande, Pres?dio Tiradentes, Carandiru e Penitenci?ria de S?o Paulo at? ser libertado em fevereiro de 1979. Teve a cidadania brasileira cassada, o que lhe impediu de conseguir emprego no Brasil.
Eliana Bellini Rolemberg, diretora-executiva da Coordenadoria Ecum?nica de Servi?o (CESE), no in?cio de 1970 foi levada clandestinamente ? OBAN, onde sofreu torturas por 20 dias e foi transferida para o Pres?dio Tiradentes. Julgada foi condenada a dois anos de reclus?o. Em virtude das torturas teve seq?elas f?sicas e psicol?gicas. Ap?s ser libertada foi ao encontro da filha e do marido na Fran?a e retornou ao Brasil em 1979.
Frederick Birten Morris, conhecido como Pastor Fred, chegou ao Brasil em janeiro de 1964, com a finalidade de desenvolver atividades pastorais na Igreja Metodista. Cedia sua resid?ncia para as reuni?es na luta contra a ditadura militar. Em setembro de 1974 foi seq?estrado e sofreu v?rias sess?es de torturas ao longo de 17 dias. Foi expulso do pa?s por meio de decreto do Presidente Ernesto Geisel, sendo proibido de entrar no Brasil at? 18 de agosto de 1988.
Alanir Cardoso, preso e torturado com o Pastor Fred, foi militante ligado ? A??o Popular (AP). Preso na cidade de Goi?nia, foi condenado em 1969 a 2 anos e 3 meses de reclus?o. No ano de 1974, foi novamente preso em Recife e levado ao DOPS, onde foi torturado, o que lhe deixou seq?elas f?sicas at? hoje. Novamente condenado, dessa vez a 4 anos e 6 meses de reclus?o. Foi posto em liberdade somente no ano de 1979.
Maria Em?lia Lisboa Pacheco, assessora da Federa??o de ?rg?os para Assist?ncia Social e Educacional (FASE), foi presa em dezembro de 1971, permanecendo presa por 1 m?s sofrendo torturas. Ap?s sua absolvi??o, em 1973, foi selecionada para compor os quadros da Comiss?o de desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha (CODEVALE), n?o sendo contratada em raz?o de seus antecedentes.
Nilm?rio de Miranda, ex-deputado federal, primeiro presidente da Comiss?o de Direitos Humanos da C?mara dos Deputados, ex-Secretario Especial de Direitos Humanos, iniciou sua milit?ncia pol?tica com apenas 15 anos de idade inspirado pela Igreja Cat?lica, especialmente Frei Crist?v?o e o bispo diocesano. Foi preso por 32 dias em abril de 1968 e sofreu in?meras torturas. Ao ser denunciado com base na Lei de Seguran?a Nacional passou a viver na clandestinidade. Preso novamente em maio de 1972, passou por v?rios pres?dios na cidade de S?o Paulo e Juiz de Fora. Viveu sete anos entre clandestinidade e pris?o.
Roberto Faria Mendes, ex-militante do Movimento de Educa??o de Base (MEB), ligado ? Igreja Cat?lica, foi preso em janeiro de 1974 e, ap?s ser indiciado em Inqu?rito Policial-Militar, passou a viver em liberdade vigiada, que o teria impedido novamente de prosseguir nas suas atividades profissionais.
Ruy Fras?o Soares, representado por Fel?cia de Moraes Soares, militante da Juventude Universit?ria Cat?lica, foi preso e torturado em 1964. Ap?s sua liberta??o, em viagem aos EUA, denunciou na Assembl?ia das Na?es Unidas as torturas praticadas no Brasil. Ap?s 1971, com a repress?o generalizada, passou a viver na clandestinidade e militou no PCdoB. Em maio de 1974 foi preso em plena feira de Petrolina/PE e nunca mais localizado pelos seus familiares. Seu nome integra a lista de desaparecidos pol?ticos e batizou v?rias ruas, pra?as e escolas.
As irm?s Helena e Helder Soares, juntamente com o padre Peter John Mc Carthy, foram presas em setembro de 1981, na regi?o do Araguaia (PA). A regi?o vivia forte clima de tens?o com pris?es de padres e posseiros. Em outubro de 1982, os tr?s religiosos foram presos e torturados durante toda uma noite na sede do INCRA.
Elia Meneses Rola atuou na pol?tica estudantil do Cear? na d?cada de 1960 e mudou-se para o Rio de Janeiro em raz?o de amea?as de pris?o. Em 1973 foi presa, levada ao DOI-CODI e, posteriormente, ? OBAN, onde permaneceu por 1 m?s sofrendo torturas e humilha?es. No ano de 1975, ap?s a condena??o de seu companheiro, ambos deixaram o pais clandestinamente, s? regressando ap?s a lei de Anistia de 1979
Alguns dos anistiados pol?ticos est?o sendo, agora, indenizados pelo governo. A comiss?o aprovou uma indeniza??o de R$ 285 mil ao pastor Fred, al?m de uma esp?cie de pens?o vital?cia ao valor mensal de R$ 2 mil.
De Bras?lia
Com informa?es do Minist?rio da Justi?a e jornal O Estado de S.Paulo
Processo de Pastor Metodista ser? julgado no Sal?o Dom Helder C?mara
* Por Maria Newnum
![]() | Nesse ano de 2008, em que comemora-se o Centen?rio do nascimento de Dom Helder C?mara, a Comiss?o de Anistia, atrav?s de atividades externas denominadas "Caravanas da Anistia", realizar? uma sess?o de julgamento de processos no Sal?o memorial Helder C?mara na CNBB em Bras?lia, no dia 26 de setembro. Nesse dia Fred Morris, Pastor Metodista e mission?rio aposentado, finalmente ter? a chance de receber indeniza??o pelos danos sofridos na ?poca em que foi preso pelo regime militar no Brasil. |
Ao sair da pris?o, foi extraditado para os Estados Unidos. L? chegando Fred n?o experimentou a compaix?o que esperava dos empregadores da miss?o que o havia enviado ao Brasil e para quem tinha trabalhado por quase 11 anos. Foi demitido e "ganhou" apenas mil d?lares para recome?ar a vida, "isto a t?tulo de ?caridade? como disseram os chefes da Junta de Miss?es", salienta Fred.
O Pastor Mission?rio Metodista chegou ao Brasil no dia 12 de janeiro de 1964. Ap?s um ano aprendendo o portugu?s, serviu como pastor no interior do Rio de Janeiro. Em 1970 concluiu o mestrado em sociologia urbana pela Universidade de Chicago. Na viagem de retorno ao Brasil em agosto de 1970, teve um encontro ocasional com um jornalista da revista Time, que viviano Rio, que o solicitou para ser colaborador da revista, principalmente, para ?rea do Recife.
Ap?s consulta aos chefes da Junta de Miss?es da Igreja Metodista em Nova Iorque, todos estavam de acordo que seria interessante, especialmente, porque Dom Helder C?mara, Arcebispo do Recife e Olinda nessa ?poca era objeto de v?rios ataques por parte das for?as de seguran?a nacional. A casa de Dom Helder C?mara, na Igreja das Fronteiras, havia sido metralhada duas vezes. Um ano antes o Padre Henrique fora torturado e barbaramente assassinado no pr?prio Recife. Ocorreu a Fred, ao jornalista de Time e a miss?o que talvez fosse ?til para Dom Helder este contato com a imprensa internacional.
Ao chegar a Recife, Fred iniciou um trabalho de finalidade ecum?nica, colaborando com Dom Helder para melhorar as rela?es entre a Igreja Cat?lica e as igrejas evang?licas da ?rea. Com o apoio do Dom Helder, fez contatos com padres da Igreja Episcopal, com alguns monges beneditinos, um padre jesu?ta, v?rias freiras, com colegas metodistas e luteranos. Formou-se a "Equipe Fraterna", um grupo ecum?nico que se reunia para apoio m?tuo nos v?rios trabalhos que os integrantes da "Equipe Fraterna" realizavam em Recife. Diz Fred: "Nos encontr?vamos cada ter?a-feira para um estudo b?blico, uma discuss?o sobre o trabalho de um dos colegas e, ao final, celebr?vamos a Eucaristia. Tudo corria bem durante quase quatro anos. Adorei o Recife, meu trabalho pastoral na comunidade metodista em Caixa D?Agua, a Equipe Fraterna, enfim, tudo".
Em junho de 1974, a revista Time publicou um artigo sobre Dom Helder, intitulado "O Pastor dos Pobres", descrevendoa luta de Dom Helder para defender os brasileiros contra a repress?o do governo militar e contra o modelo econ?mico que esmagava a maioria, ou seja, os pobres.
Nessa ocasi?o Fred estava nos EUA e apesar de n?o ter colaborado com o artigo, os militares no Recife ficaram furiosos com Dom Helder, com a revista Time e com ele. Conta Fred: "Eles ficaram sabendo que eu era "stringer" da revista Time e amigo de Dom Helder. Tomaram como fato que eu havia escrito o artigo. Quando retornei ao Recife, fui advertido por um amigo que deveria ir ao Consulado norte-americano, pois estava sendo ?mal-visto? pelos militares. Fui imediatamente a falar com o C?nsul, que me informou que era necess?rio ir ao Quarto Ex?rcito a falar com um tal de Coronel Meziat, chefe da Sec??o G-2 (intelig?ncia) do Quarto Ex?rcito. No dia seguinte, com muito medo, fui encontrar-me com o Coronel Meziat. Acabei tendo tr?s reuni?es com ele nas pr?ximas tr?s semanas, nas quais eu insisti que n?o estava fazendo nada de mal nem contra o regime (que, lamento confessar, era a verdade). Ao final, o Coronel Meziat me advertiu que n?o podia ter mais contato com Dom Helder ("m? companhia") e que teria que deixar de fazer jornalismo. S? assim, poderia ficar no Brasil sem problemas. Ent?o, mandei avisar o Dom da minha situa??o e tamb?m avisei o jornalista da Time que n?o podia continuar com eles."
Contudo, no pr?prio dia 30 de setembro de 1974, ao sair de seu apartamento, Fred foi cercado por um grupo de 12 homens; todos armados com metralhadoras e pistolas. Obrigaram-no a entrar numa caminhonete, com capuz na cabe?a e as m?os algemadas para tr?s, e o levaram diretamente para o quartel geral do Quarto Ex?rcito no centro do Recife.
Fred conta: "Ali, fui sujeito a torturas e espancamentos por quatro dias e noites. A tortura principal era choque el?trico, que aplicaram constantemente em v?rias partes do meu corpo, inclusive nos genitais. No quarto dia, me levaram a outra instala??o militar em Jaboat?o, onde o C?nsul norte-americano, o Sr. Richard Brown, me encontrou. Apesar das amea?as que me deram antes de ir falar com ele, contei-lhe das torturas e ele me assegurou que se algo mais acontecesse comigo, "cabe?as iriam arrolar." Fiquei confinado mais 13 dias; provavelmente para que os hematomas desaparecessem, e finalmente, no dia 16 de outubro fui levado por um policial at? Rio onde permaneci numa cela da Policia Federal at? ?s 9:30 horas da noite quando me levaram a Gale?o e me puseram no v?o da Varig ?s 11:00 horas da noite para Nova Iorque, acompanhado por uma carta assinada pelo General Ernesto Geisel, dizendo que eu era ?uma pessoa nociva aos interesses nacionais? e por isso estava ?expulso? do pa?s e que, se voltasse, seria preso por um prazo m?nimo de quatro anos."
Agora 34 anos depois, em carta enviada a Fred Morris, Sueli Aparecida Bellato, Conselheira, vice-presidente da Comiss?o de Anistia do Minist?rio da Justi?a, diz: "Lendo seu processo pude perceber que a sua hist?ria de crist?o da Igreja Metodista ? marcada por compromissos e tamb?m afinidade com a Igreja Cat?lica. Venho consult?-lo, para saber se o senhor est? de acordo que o seu processo seja julgado no audit?rio Dom Helder C?mara, na CNBB, em Bras?lia. Seria muito bom que o senhor pudesse estar presente para que o Estado brasileiro lhe pedisse desculpas pelas atrocidades que foram cometidas."
Fred Morris, que atualmente reside em Coronado, na cidade Panam?, j? confirmou sua presen?a. Segue abaixo o contato de Fred e da Comiss?o de Anistia, para qui?a amigos e a comunidade crist?, enviem manifesta?es sobre essa conquista que ? de fato, uma vit?ria para colabora??o ecum?nica entre as igrejas Protestantes e a Igreja Cat?lica no Brasil.
Fred Morris
Calle de los Caballeros #49
Coronado, Panama
Phone: 507-240-1506
Fax: 630-839-0114
Cell: 507-6487-0765
email: fced@aol.com
www.faithpartnersof
Sueli Aparecida Bellato Vice-presidente da Comiss?o de Anistia
Minist?rio da Justi?a sueli.bellato@mj.gov.br tel. 61 34299400
“O segredo para permanecer jovem ? ter uma causa para a qual dedicar vida” – Dom Helder C?mara.
* Maria Newnum – Te?loga metodista, ex- vice-presidente do Movimento Ecum?nico de Maring? e integrante do GDI – Grupo de Di?logo Inter-religioso de Maring?.

