Nas ruas, polui??o visual a servi?o do com?rcio. Nas igrejas, o receio da idolatria. Qual ? o verdadeiro lugar dos s?mbolos natalinos?
As velas da Coroa do Advento sinalizam os quatro domingos que antecedem o Natal. Existe uma m?sica infantil que diz: "Papai Noel chegou, abriu a porta e entrou… Claro, n?! N?o temos chamin?!" Pois ?… o Brasil n?o tem chamin? ou neve em dezembro mas nem por isso deixa de ser influenciado pela simbologia natalina de origem europ?ia. Ela entra pela porta! …e, tamb?m, por nossas retinas t?o fatigadas, como diria o poeta: na TV, nos shoppings e nas decora?es das ruas, a profus?o de imagens natalinas satura a vis?o e esvazia o sentido do s?mbolo. E muitos crist?os tendem a se afastar dessa simbologia, seja porque ela est? por demais contaminada pela id?ia de consumo, seja porque ela remete ? idolatria e ao paganismo. Muitos se lembram, por exemplo, que a ?rvore era cultuada por religi?es pag?s. E que o pr?prio 25 de dezembro era a data em que se celebrava o deus sol…
Contudo, "t?o preocupante como um cristianismo id?latra ? um cristianismo sem s?mbolos ou refer?ncias", alerta o Rev. Edson Cort?sio Sardinha, pastor da Igreja Metodista em Ji-Paran?, Rond?nia. Segundo o pastor, que tamb?m ? pedagogo e especialista em liturgia e arte sacra, preservar os s?mbolos do Natal ? uma forma pedag?gica de revivermos dois referenciais de nossa f?: a palavra e a tradi??o. "Cada s?mbolo natalino fala de passagens espec?ficas dos Evangelhos de Mateus e Lucas. Sinaliza a Teologia do Verbo que se fez carne, como demonstra Jo?o em seu Evangelho. A igreja que n?o comemora o Natal est? jogando fora a valoriza??o do pr?prio Evangelho da inf?ncia do Senhor", afirma ele.
O papel do s?mbolo
O Rev. Edson explica que o s?mbolo faz parte do cotidiano e significa parte de algo maior. "Como um galho cortado faz parte de um galho maior, assim ? a origem etimol?gica da palavra s?mbolo. O s?mbolo no sacramento ? sinal vis?vel de uma gra?a invis?vel".
Segundo o pastor, n?o conseguimos viver sem a comunica??o dos s?mbolos. Sejam visuais, sonoros ou t?teis, eles est?o em todo lugar: nas placas, sem?foros, na arte, na educa??o. "O Novo Testamento ? rico em s?mbolos: p?o, vinho, pomba, ?leo, canto, etc. Ignor?-los ? se perder num mundo irreal, plat?nico, totalmente fora de relev?ncia para a mente humana. O nosso conhecimento ? constru?do a partir de s?mbolos que existem e que criamos. Cristianismo sem s?mbolo crist?o ? cristianismo sem parte de sua identidade". No extremo oposto, est? a idolatria, que ? a escraviza??o ao s?mbolo. "O s?mbolo na idolatria perde todo seu contexto pedag?gico e se transforma em amuleto muito utilizado pelas religi?es animistas. Contudo, isso n?o pode ser argumento para ignorarmos as riquezas dos s?mbolos crist?os e descaracterizar a nossa f? crist?", explica o pastor.
?rvore de Natal na fogueira
O Rev Edson Cort?sio conta que chegou a ver igreja metodista acendendo fogueira para queimar ?rvore de natal, guirlandas, sinos, pres?pios, cart?es, etc. "Como a nossa cultura protestante ? anti-romanista, todos os s?mbolos crist?os usados pela liturgia cat?lica s?o considerados abomin?veis", explica ele. "Com isso percebemos nas igrejas evang?licas, inclusive em muitas igrejas metodistas, uma supervaloriza??o dos s?mbolos judaicos e uma descaracteriza??o do templo com rela??o aos s?mbolos crist?os. Substituem a cruz pelo casti?al judaico (menor?), retiram as velas do advento e colocam o shofar, a bandeira de Israel, etc. Este ? um movimento estranho e que descaracteriza o cristianismo. N?o sou contra os s?mbolos judaicos. Eles s?o importantes na liturgia judaica e podem ser usados na liturgia crist?. Mas sou contra a descaracteriza??o de nossas igrejas".
O resgate do significado
Segundo o Rev. Cort?sio, o resgate dos s?mbolos do Natal dever? vir pelo resgate da liturgia. "Quando valorizarmos os mist?rios lit?rgicos enquanto mist?rios divinos, valorizamos os s?mbolos como parte desse mist?rio". Diante dos apelos comerciais, ele recomenda n?o antecipar a comemora??o do Natal. "N?o podemos, a pedido do com?rcio, alterar o calend?rio lit?rgico. Devemos esperar. Preparar o cora??o e viver cada parte do Advento. Sem pressa. Sem correria. Devemos, diante da ?rvore, s?mbolo da luz de Cristo e diante do pres?pio e das can?es natalinas, viver o mist?rio. Essa ? a beleza da liturgia. Atrav?s da liturgia podemos voltar a Nazar? e contemplar o anjo conversando com Maria. Podemos acompanh?-la at? sua visita a Isabel. Podemos ir a Bel?m, e ver Jesus na manjedoura. Podemos cantar com os anjos e se alegrar com os pastores. Podemos novamente voltar ao Oriente e iniciar uma caminhada atr?s da estrela de Bel?m". Para o pastor, a liturgia tamb?m pode ser um momento prof?tico de den?ncia e revela??o da desigualdade social, ao trazer ? mem?ria o Cristo sem lugar para nascer, d morte dos inocentes pelo terr?vel Herodes, a fuga para o Egito, a persegui??o e a exclus?o social. "Que junto ao nascimento de Cristo, a liturgia de nossas igrejas nos auxilie a encontrar paz para celebrar a alegria e for?a para combater as injusti?as". Am?m!
![]() | De origem latina, a palavra pres?pio significa manjedoura ou est?bulo. Hoje significa a encena??o do nascimento de Jesus. Segundo alguns estudos, o primeiro a encenar o nascimento de Jesus foi Francisco de Assis, no s?culo XIII. Na foto, um pres?pio artesanal da organiza??o n?o governamental de com?rcio solid?rio ?tica Brasil (www.eticabrasil.com.br). |
O primeiro cart?o de Natal "comercial" surgiu na Inglaterra em 1843. O pintor John Calcott Horsley desenhou uma fam?lia ao redor de uma mesa bastante farta e, ao lado, um rico alimentando crian?as pobres (provavelmente inspirado no "Conto de Natal" de Charles Dickens, escrito naquele mesmo ano). Ele trazia a frase que se tornaria cl?ssica: "Feliz Natal e Pr?spero Ano Novo". Horsley fez o cart?o sob encomenda de Henry Cole, diretor de um museu, que imprimiu mil c?pias. | ![]() |
![]() | A cria??o da ?rvore de Natal ? atribu?da ao alem?o Martinho Lutero, l?der da Reforma Protestante. Conta-se que Lutero voltava para casa, num g?lido dia de dezembro, quando se encantou com a paisagem dos pinheiros elevando-se em dire??o ao c?u estrelado. Parecia que as ?rvores estavam ornamentadas pela luz das estrelas. Ao chegar em casa, quis compartilhar a cena com sua esposa e filhos: plantou um galho de pinheiro num vaso e decorou-o com pequenas velas acesas; a partir de ent?o, um s?mbolo da Jesus, luz do mundo. |
A pr?pria data em que se comemora o Natal tem um significado simb?lico: 25 de dezembro era o dia em que se celebrava o deus sol. Escolher essa data para comemorar o nascimento de Jesus foi uma estrat?gia mission?ria: o objetivo era anunciar Jesus – nosso "sol da justi?a" aos povos pag?os.
![]() | Papai Noel: o que ? que a gente faz com ele? |
"Como pastor e pedagogo, opto em trabalhar o Papai Noel como ? apresentado pelo com?rcio. Ou seja, ? apenas mais um boneco nas lojas. ? um homem com fantasias que distribui balas para as crian?as que passam pelas ruas e um personagem dos desenhos animados presente no imagin?rio infantil", diz ele. Assim, n?o ? necess?rio "combater" a figura do Papai Noel mas, por outro lado, ? necess?rio valorizar a tradi??o crist?. "Dev?amos trabalhar mais os Evangelhos da inf?ncia de Jesus, o pres?pio e os s?mbolos lit?rgicos do Natal. Com um Natal celebrado e vivido na liturgia, a ?nfase sobre o Papai Noel perde for?as", afirma.
Suzel Tunes