Caro leitor, imagino que julgue-me por saudosista ou ing?nuo, mas confesso que estou realmente preocupado com os rumos de nossa igreja. ? ineg?vel que os tempos mudam, a cultura muda, ventos de doutrinas v?m e v?o, vis?es passam, movimentos hereges e ortodoxos ocorrem vez ou outra, mas a Igreja, Corpo de Cristo permanece. A palavra de Deus n?o muda e Suas miseric?rdias continuam se renovando a cada manh?!
Sabemos que o Metodismo possui ra?zes fortes e grande heran?a para lidarmos de forma s?bia e equilibrada com a realidade atual, seja ela brasileira ou mundial. Wesley foi um homem inspirado por Deus que deixou um legado s?lido, firme, baseado na compreens?o e amor ao pr?ximo. Ele cravou na hist?ria a import?ncia e necessidade das quest?es sociais, do avivamento, da reforma cont?nua, do discipulado, deixou exemplos da estrutura em c?lulas, isto sem contar toda a boa literatura produzida, e a parceria na composi??o de hinos.
Como prova disto, quantos de nossos pastores e bispos foram convidados a falar para plat?ias presbiterianas, assembleianas, batistas, etc… sobre a forma de governo e a estrutura da Igreja Metodista? Quantos membros de outras denomina?es consideram ut?picas coisas simples como "voz e vez", ou "delegados leigos ao conc?lio"? Quantas denomina?es t?m coragem de falar abertamente sobre ecumenismo, acreditando que isto faz parte da pluralidade de dons e minist?rios no Corpo de Cristo, n?o distinguindo entre aqueles que s?o de Paulo, Pedro ou Apolo, pois entendem que, mesmo diferentes, todos pertencem a Cristo? Quantas denomina?es chegaram a ousar falar em evangelho integral, em reforma agr?ria, ou se posicionar diante de um plebiscito ou elei??o?
Sim, acredito numa igreja viva, com riqueza e import?ncia hist?rica. Por isto, n?o consigo entender como o ideal (escada) do "ganhar, consolidar, discipular e enviar" pode acrescentar algo positivo sem castrar parte de nossa identidade. N?o consigo entender como a cria??o de castas (pr?-encontro, encontro, p?s-encontro, reencontro, n?vel 1, etc…) possa fortalecer o amor e comunh?o entre irm?os.
Muitas igrejas, mesmo que suas denomina?es ap?iem ou sejam contra, t?m provado desta escada, sempre passando por in?meras transforma?es. ? ineg?vel que algumas t?m sido grandemente aben?oadas, da mesma forma que outras t?m mantido as estat?sticas de crescimento, mas n?o podemos negligenciar o percentual daquelas que t?m encontrado divis?es, problemas, dificuldades e a perda de sua identidade.
Atualmente h? muita literatura comparando a f? a um produto e um templo com um supermercado. Ao explorarmos apenas didaticamente esta ilustra??o, poder?amos apresentar conceitos como a exist?ncia de consumidores diferentes. Mas a cada dia, mais e mais, os v?rios mercados t?m se tornado extremamente semelhantes. Parece que um grande atacadista est? comprando ou influenciando os concorrentes, sejam eles da Rede A, B, C ou D… Assim, imagino qual ser? o futuro daquele consumidor que gosta do mercadinho de vila que ainda vende fiado, onde faz tranq?ilamente suas compras e fica por horas conversando com outros consumidores, seja por respeito, por amizade, ou at? por amor. Qual ser? o impacto na vida dos consumidores que apenas podem escolher entre a impessoalidade ou tratamento ISO 9001 desta nova safra de mercados? Onde fica o atendimento personalizado ou o prazer em auxiliar ao cliente? Ser? que o Plano de Fidelidade ou milhagem ? mais importante que as necessidades pessoais de cada um?
Supondo que este grande atacadista se chama MCI e muitas igrejas, contrariando ou n?o suas denomina?es, est?o se tornando submissas a estes exemplos altamente disseminados, s? podemos concluir que a prensa de Gutemberg chegou ao car?ter crist?o: l?deres de igrejas e/ou c?lulas imprimem em s?rie sua vis?o e modo de vida a um grupo de disc?pulos, seja com 12, 10, 6, etc… Pastores t?m sido transformados em gerentes de produ??o, estrategistas de marketing ou diretores de vendas, adotando uma vis?o na qual o crescimento num?rico ? mais importante que a sa?de do corpo, onde Igrejas sem identidades convergem aos ideais de uma ?nica vis?o, tornando ultrapassadas palavras e conceitos que descrevem o pastor como aquele que est? sempre preocupado e cuidadoso em rela??o ?s ovelhas de Cristo e aos prop?sitos do Reino.
Vemos muitas vers?es adaptadas, revistas e corrigidas do governo, grupo ou modelo dos 12, mas todas induzidas ao mesmo objetivo, a escada supracitada, a f?rmula definitiva para o crescimento da igreja, na qual obrigatoriamente os nomes t?m sido alterados para n?o pagar royalties pelo uso de express?es patenteadas. E isto j? chegou aos nossos templos, nos quais l?deres metodistas t?m implantado um modelo de discipulado que segue estes preceitos, modificados sim, mas colhendo os mesmos resultados que igrejas de outras denomina?es experimentam. Assim, n?o me surpreenderia se, muito em breve, algum vision?rio ou l?der espiritual, seja ele sul-coreano, indiano, colombiano ou da pr?xima pot?ncia espiritual?!?! (?frica ou Brasil), justificados pelo argumento da batalha espiritual, resolvesse expandir a utiliza??o de t?ticas de guerrilha e estrat?gias militares no interior da Igreja!
Relembro que nossa igreja n?o tem 20 ou 30 anos, n?o ? neo-alguma-coisa, n?o surgiu do del?rio de algu?m, mas nasceu pela convic??o que almas precisavam ser salvas, almas que est?o aonde a igreja nunca chegar? se continuar dentro dos templos, que a santidade precisa reformar a na??o. Resumidamente ela tem muita hist?ria, tem uma identidade muito bem definida. Por isto, n?o posso dizer que este movimento seja de todo ruim, pecaminoso, ou que n?o produza frutos; apenas afirmo que a Igreja Metodista n?o precisa dele. A verdade ? que ela possui ferramentas pr?prias – ainda que um pouco esquecidas por alguns – para discipular pessoas, para resgatar almas, para valorizar a individualidade e import?ncia de cada um de seus membros, como a pr?pria palavra de Deus nos ensina, para n?o somente abalar os port?es, mas tamb?m saquear o inferno. N?o preciso recorrer aos documentos que acompanham nossos C?nones, nem ?s pastorais do Col?gio Episcopal, nem mesmo a todo o material produzido pela Igreja Metodista no Brasil; preciso apenas olhar para suas ra?zes, sua tradi??o wesleyana.
Mas, independente de ser antiquado, ing?nuo, saudosista ou avesso a algumas mudan?as, ainda continuo, acima de tudo, dependente do amor e gra?a de Deus, submisso ?s suas miseric?rdias, simplesmente METODISTA. Gra?a e Paz, e que Deus nos aben?oe.
Eduardo Jedliczka, membro da Igreja Metodista em Apucarana, PR, 6? Regi?o Eclesi?stica