
H? nessa sociedade um grande n?mero de alco?latras. Muitas crian?as precisam trabalhar para ajudar seus pais. Nas ruas, elas caem facilmente no v?cio e perpetuam um ciclo de mis?ria e desagrega??o familiar. Voc? reconhece esse cen?rio? Pode ser a Inglaterra do s?culo 18, que um jovem chamado John Wesley sonhou mudar. Ou sua pr?pria cidade, neste Brasil de 2006, para a qual voc?, como herdeiro do sonho wesleyano, n?o pode fechar os olhos.
A Campanha Nacional de Evangeliza??o deste ano tem como tema a preven??o ao uso indevido de drogas. Este ? um problema que atinge a sociedade como um todo, e n?o poupa a igreja. Quando falamos em drogas, estamos nos referindo a qualquer subst?ncia, l?cita ou il?cita, natural ou sint?tica, que provoca altera?es no funcionamento do organismo. Tanto a pessoa que se viciou em coca?na quanto aquela que toma rem?dio para dormir ou para emagrecer sem receita m?dica est? fazendo uso indevido de uma droga.
De maneira geral, as drogas que mais preocupam a sociedade s?o as il?citas. ? compreens?vel: subst?ncias como coca?na, crack ou ecstasy t?m um efeito devastador sobre o sistema nervoso, podem levar ? morte por overdose e, por serem ilegais, est?o intimamente ligadas com o crime organizado. Dados da Organiza??o das Na?es Unidas (ONU) indicam que o tr?fico de drogas movimenta cerca de um trilh?o de d?lares no mundo todo. E esse dinheiro todo n?o fica nas m?os dos jovens traficantes que moram na periferia das grandes cidades. Organizado de forma empresarial, o tr?fico de drogas ? comandado por grandes capitalistas mundiais, o que o torna ainda mais dif?cil de ser combatido.
Contudo, as drogas que mais atraem os jovens brasileiros n?o s?o as il?citas. Um levantamento nacional feita pela Secretaria Nacional Antidrogas, Senad, e pelo Centro Brasileiro de Informa?es sobre Drogas Psicotr?picas, Cebrid, entre estudantes do ensino fundamental e m?dio da rede p?blica de ensino, revela que a droga mais consumida pelo adolescente ? o ?lcool, seguido do tabaco e dos solventes. E, o que ? mais preocupante: mais de 12% dos adolescentes entre 10 e 12 anos j? usaram algum tipo de droga.
O jovem evang?lico n?o est? imune a este perigo, alerta o pastor Paulo Bessa, integrante do Comen, Conselho Municipal de Entorpecentes, de S?o Bernardo do Campo. Ele conta que, em uma das igrejas que pastoreou, certa vez descobriu que alguns jovens fumavam maconha nos ensaios do grupo de louvor. E esse n?o ? um caso isolado. "? preciso admitir que o problema n?o ? espec?fico deste ou daquele grupo social e est? difundido em todos os n?veis de cren?a", atesta o psic?logo Manuel Morgado Rezende, professor da Universidade Metodista de S?o Paulo. Admitir a exist?ncia do problema ? o primeiro passo para solucion?-lo.
O que uma pessoa busca nas drogas?
Segundo Manuel Morgado, a busca de poder e prest?gio no grupo social e at? mesmo um desejo inconsciente de confrontar pais, escola e igreja podem ser motiva?es para o uso de drogas l?citas ou il?citas, especialmente entre os mais jovens. Mas essa avalia??o n?o esgota todo o problema, lembra o psic?logo. "Quem consome drogas busca al?vio imediato para algum tipo de mal estar ou desconforto. Busca fora o que n?o consegue suprir com os pr?prios recursos internos." S? que a droga muda apenas a percep??o da realidade. Quando o efeito passa, a pessoa se d? conta de que a realidade, com a qual ela n?o sabe lidar, continua a mesma. E ? por isso que ? t?o dif?cil largar o v?cio, mesmo quando n?o existe depend?ncia f?sica.
"A grande quest?o ? a falta de sentido para a vida – ? o descontrole na vida que gera o descontrole na droga – e ? nesse aspecto que a Igreja pode atuar", diz Manuel. Segundo o psic?logo, ? preciso aprender a conviver com a dor. "Dor, imperfei??o e incompletude s?o mat?rias da vida", ele lembra. Neste sentido, o discurso teol?gico que nega o sofrimento, ensinando que a f? cura todos os males e resolve todos os problemas, n?o auxilia na forma??o de uma personalidade sadia. "A f? n?o ? fuga, mas constru??o da realidade", destaca o psic?logo.
Preven??o come?a na inf?ncia
Fam?lia da f?, o papel da Igreja na forma??o do ser humano ? fundamental, mas n?o substitui as fun?es materna e paterna. A preven??o ?s drogas come?a em casa, e muito cedo. "M?es e pais podem ensinar aos filhos, desde beb?s, que alguns alimentos s?o mais saud?veis do que outros; e, a partir do pr?prio exemplo, demonstrar que rem?dio s? deve ser tomado com prescri??o m?dica", exemplifica o psic?logo. "A melhor prote??o ? o cuidado afetivo no dia-a-dia, o que significa atua??o constante dos pais", afirma Manuel.
Na escola, as atitudes preventivas dependem da promo??o de um ambiente saud?vel e acolhedor, de forma a desenvolver a auto-estima dos alunos, que ? um poderoso "ant?doto" contra as drogas. Quanto ? efic?cia das palestras sobre drogas, existe pouca pol?mica entre os especialistas: elas surtem pouco efeito na mudan?a de comportamento. Segundo cartilha de orienta??o do Senad, "muito mais eficaz do que trazer pessoas de fora da escola para falar com os alunos ? promover discuss?es internas para definir regras e o papel dos diferentes agentes da comunidade escolar para tratar a quest?o do consumo de drogas entre seus alunos".
No ?mbito das universidades, o desafio ? a comunica??o com jovens que buscam afirmar sua independ?ncia diante da fam?lia, professores, sociedade. O Rev. Paulo Bessa, que coordena, na Universidade Metodista, o Grupo de Apoio e Valoriza??o da Vida, Gravv, est? respondendo a este desafio por meio de a?es que promovem qualidade de vida, como atividades esportivas, culturais e art?sticas. A Pastoral Universit?ria atua, conjuntamente, no cultivo da espiritualidade. Diante de um usu?rio de drogas, aconselha o pastor, ? necess?rio "dosar a firmeza necess?ria com paci?ncia e demonstra??o de amor".
A hist?ria do folheto que salvou que uma vida

O vendedor Hugo Fonseca Alonso, do Rio de Janeiro, criado na igreja, havia se tornado v?tima das drogas. Viciado em coca?na, perdera mulher, filhos, emprego. Numa de suas subidas a um morro onde comprava drogas, foi abordado por um grupo de evang?licos que lhe entregou um folheto. Sob o efeito da coca?na, Hugo nem viu o que guardava no bolso. Mais tarde, ao tirar o papel do bolso, Hugo teve uma surpresa: o folheto evangel?stico que tinha nas m?os trazia uma foto de um grupo de jovens, entre os quais estava o seu pr?prio filho. "Quando olhei o folheto, vi o retrato do meu filho. Parecia que ele falava comigo, que me dizia: Sa? da?, pai", conta Hugo. No dia seguinte, Hugo pediu ajuda ? igreja, que o encaminhou ao centro de recupera??o SOS Vida, em Cabo Frio, RJ. Hoje, ele d? palestras de preven??o ?s drogas no Minist?rio P?blico, escolas e empresas. Voltou para a esposa e reconstruiu a fam?lia. Seu filho, J?nior, ? estudante de Teologia.
Tal como o SOS Vida, a Igreja Metodista mant?m outros locais especializados no diagn?stico e recupera??o de dependentes qu?micos. ? bom lembrar que nem todo usu?rio de droga j? se tornou um dependente, assim como nem todo dependente precisa de interna??o. Assim, diante de uma pessoa que consome drogas, ? preciso identificar, primeiro, qual ? o grau de comprometimento com a subst?ncia. Outras organiza?es, como Alco?licos An?nimos e Narc?ticos An?nimos tamb?m podem colaborar na busca de uma solu??o que passa pelo envolvimento de toda a fam?lia. "A jornada pode ser longa e pressup?e v?rias etapas", diz o psic?logo Manuel Morgado Rezende. Ele destaca, tamb?m, que reca?das s?o comuns, e n?o devem se tornar motivo de des?nimo. "As reca?das fazem parte do processo e t?m que ser enfrentadas".
