Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Afeto e afago reflexão

Afeto & afago

Luiz Carlos Ramos

Deus cuida de nós,
veste o lírio e sustenta o pardal.
Ao som do silêncio
se faz ouvir.
No afeto, no afago,
num gesto de amor,
os mistérios do Universo
cabem na concha da mão.

[Cântico litúrgico "Afeto & afago";
Letra: Luiz Carlos Ramos; Música: Liséte Espíndola]

O texto do Evangelho de Marcos 5. 21-43 nos apresenta duas histórias em uma: a da cura de uma menina que morrera aos 12 anos e a de uma mulher que, há 12 anos, perdia a vida, aos poucos ? na cultura semita, o sangue é a vida de uma pessoa. Essas duas histórias dramáticas, na verdade são uma. E devem ser interpretadas em conjunto.
Os principais atores que contracenam são, de um lado, um homem rico e importante (principal da sinagoga), chamado Jairo, e, de outro, uma mulher do povo, pobre e anônima. Em volta do homem rico, está sua comitiva; em volta da mulher, está o povo (ochlos). E no centro está Jesus.
Jairo se aproxima de Jesus confiante, determinado; a mulher se achega atemorizada e tremendo. Ambos precisavam de ajuda. Jairo, confiando em seu prestígio e influência, intercede em favor da filha que está à morte; a mulher não tem ninguém para interceder por ela.
Jairo pediu-lhe que impusesse as mãos sobre a filha para que fosse curada; a mulher cria que bastava tocar-lhe as vestes para ser curada. Ambos acreditavam que o toque de Jesus era miraculoso.
Jairo pensa ter a primazia, pois é da elite, mas Jesus se detém, para atender primeiro a mulher do povo.
Enquanto Jesus se demora no atendimento à mulher, aos prantos, a comitiva de Jairo traz más notícias: "não há mais o que fazer", mas logo, a mesma comitiva, passa a zombar de Jesus, porque ele insiste em dizer que a menina não morreu; enquanto isso, a multidão, que apertava Jesus, questiona sua pergunta aparentemente sem sentido: "Quem me tocou?" Jesus vê as coisas de uma perspectiva diferente, tanto da comitiva quanto da multidão.
Mais tarde, a filha de Jairo será curada, quando Jesus a tomar pela mão, falar com ela, pedindo que se levante, e lhe der de comer; a mulher é, imediatamente, curada ao sentir o poder (dunamis) de Jesus, por meio do toque de suas vestes, seguido da sua palavra: "Filha, a tua fé te salvou."
O modo de tratamento empregado por Jesus para com a filha de Jairo foi: "Menina" (em hebr. Talitha); mas para a mulher foi "Filha" (em gr. thugater). Jesus adota aquela que não tinha um pai para interceder por ela. Ambas, a filha de Jairo e a "filha" de Jesus, recuperam a vida.
O toque (das vestes, das mãos), aqui, é um detalhe que não pode ser menosprezado? Nesta história, Jesus toca e é tocado. E esse é um daqueles detalhes que fazem toda diferença? pois é a expressão concreta, visível (sacramental, portanto) de um jeito essencial de ser.
É precisamente esse detalhe essencial que demonstra que a cura, até mesmo para a morte, para a qual acredita-se não haver cura, está nas relações afetivas, nas atitudes carinhosas, nas expressões de amor? e sempre com prioridade para os mais carentes. Essa é a verdadeira dinâmica (dunamis) da cura e da salvação. O afeto é o grande antídoto para as enfermidades. O carinho é o melhor remédio.
Médicos que não amam seus pacientes não os curam cabalmente; políticos que não amam seu povo o fazem morrer à míngua; pastores que não amam suas ovelhas não as levam a verdes pastos nem a águas de descanso; mestres que não amam seus alunos e alunas não lhes ensinam o essencial; pais que não são carinhosos com seus filhos e filhas não lhes dão por herança o maior de todos os tesouros: a vida.
Sejamos, portanto, amáveis; e permitamo-nos amar e ser amados, para que possamos também nós "sentir no corpo" (v. 29) que estamos vivos e que estamos salvos.
O afeto, o afago, o gesto de amor, são aprova de que "os mistérios do universo cabem na concha da mão". 

Posts relacionados

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães