Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Agricultores do Rio de Janeiro lutam para recuperar suas terras

Centenas de agricultores familiares não têm mais como manter o seu sustento depois do desastre provocado pelas chuvas na serra do Rio de Janeiro. Passado um mês e meio da tragédia que fez mais de mil vítimas fatais e destruiu áreas urbanas e propriedades rurais, muitos não sabem quando poderão voltar a produzir.

A situação de Waldeli Andrade, 43, e Alessandro Silva de Oliveira, 24, retrata as dificuldades pelas quais estão passando os agricultores no interior de Teresópolis, uma das cidades que mais sofreu com a enchente. Waldeli e Alessandro arrendavam alguns hectares próximos a um riacho no distrito de Bom Sucesso, onde produziam alfaces que eram vendidas para um intermediário. Parte do pouco lucro restante era usada para pagar o aluguel da terra.

Durante a noite de 11 de janeiro, o riacho transformou-se em uma avalanche de água e de barro. A plantação, os canos e as bombas de irrigação e até um pequeno trator foram levados pela corrente. Quando o nível do riacho voltou ao normal, a terra havia se transformado em areia e pedras. “Agora, temos que arrendar outra área, mas não existe mais nenhuma. A produção de alfaces era o que sustentava as nossas famílias. O governo prometeu ajudar, mas não temos muita esperança”, relatou Waldeli.


Waldeli e Alessandro fazem parte de um grande número de pessoas que está vivendo em um limbo jurídico. Autoridades locais estimam que cerca de 70% dos produtores em Teresópolis não tem documentos que provam que são produtores: em muitos casos, eles não possuem terras ou nunca regularizaram a terra depois de herdá-la. O governo federal está oferecendo linhas especiais de crédito para os agricultores atingidos, mas apenas uma pequena percentagem terá direito a esse dinheiro. “A inexistência de documentos impede o acesso ao crédito”, confirmou a agrônoma e chefe do Departamento Municipal de Agricultura de Teresópolis, Ana Paula Pegorer.

Em Fazenda Alpina, outro distrito de Teresópolis, a situação de agricultores orgânicos é a mesma. Na década de 90, dezenas de famílias integrantes do Movimento sem Terra (MST) foram assentadas pelo governo federal em uma área montanhosa, de difícil acesso. Muitos relatam que, a não ser pela terra, pouco apoio foi recebido. As condições de produção nessa região montanhosa sempre foram difíceis. Algumas famílias decidiram adotar a produção orgânica - sem agrotóxicos -, na expectativa de conseguir preços de venda melhores.

Esse é o caso de Mozart Gomes de Sá e do seu irmão Adão. Desde 1994, os dois vêm lutando para produzir melões, bananas, feijão e milho em seis hectares. A situação piorou muito depois da madrugada de 11 de janeiro. “Consegui salvar minha família, mas perdi mais de 40 amigos e conhecidos. Estamos isolados. Não podemos plantar. E esperar o apoio das autoridades parece inútil”, disse Mozart.

Para chegar na área onde Mozart plantava é necessário usar um helicóptero ou caminhar durante horas. Deslizamentos e rochas interditaram as estradas. Depois da tragédia, existem planos de transformar a área em um parque de proteção ambiental. Ou seja, a perspectiva é que os agricultores tenham que sair de suas propriedades, resultando em uma situação mais difícil ainda: como foram assentados, perderão seus direitos e dificilmente serão realocados.

Em um dos abrigos improvisados em Teresópolis está Adão, 56, irmão de Mozart. Ele, que tinha orgulho da sua produção orgânica, possui agora apenas uma caixa com alguns pertences, incluindo um álbum com fotos da sua propriedade, como era antes da enxurrada. Emocionado, Adão afirmou: “Vou voltar a plantar. Quero ver minha terra assim de novo, como está nas fotos.”


Com o objetivo de avaliar a situação e de apoiar a elaboração de estratégias de reconstrução , um Time de Suporte Rápido da Aliança ACT esteve visitando nas últimas semanas as áreas mais afetadas. ACT, através de seus membros brasileiros – Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), Diaconia, Koinonia e Christian Aid/Brasil, CLAI-Região Brasil junto com a Ajuda da Igreja da Noruega (AIN), Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento (sigla em alemão EED) e Pão para o Mundo (PPM), que também integram ACT – emitiu um alerta de emergência para solicitar ajuda internacional.
 
A Aliança ACT reúne 105 igrejas e organizações vinculadas a igrejas, que trabalham em parceria em assistência humanitária e desenvolvimento. ACT atua em 140 países e conta com 33 mil pessoas trabalhando em todo o mundo.

Texto e fotos: Gustavo Bonato/ACT

Tradução: Susanne Buchweitz/FLD


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