
BRASIL
BRAS?LIA, 19 de fevereiro (ALC) – A Confer?ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pretende discutir quest?es pol?micas que dizem respeito ? Amaz?nia, como o avan?o da fronteira agr?cola sobre a floresta e a presen?a de estrangeiros na regi?o durante a Campanha da Fraternidade de 2007, que ser? lan?ada oficialmente em Bel?m, na Quarta-Feira de Cinzas, 21 de fevereiro.
Ao falar da Campanha da Fraternidade para a imprensa, na sexta-feira, 9, o presidente da CNBB, cardeal Geraldo Majella Agnelo, disse que o governo brasileiro precisa discutir novas formas de explora??o econ?mica da regi?o.
"H? uma explora??o voltada para o lucro, o benef?cio privado", afirmou, o que pode ser muito lucrativa para os fazendeiros, para o pr?prio pa?s, "mas deixa popula?es inteiras ? margem desses benef?cios", argumentou.
A Campanha da Fraternidade sobre a Amaz?nia "poder? nos ajudar a estabelecer novos tipos de relacionamentos com a natureza ao nosso redor. A explora??o desenfreada e inconseq?ente do meio ambiento poder? levar-nos ? autodestrui??o", frisou em artigo o arcebispo metropolitano de Bel?m, dom Orani Jo?o Tempesta.
O arcebispo lembrou o relat?rio sobre o aquecimento global, divulgado recentemente por cientistas, destacando que o homem ? capaz de destruir o ?nico lugar conhecido onde ele pode morar fisicamente.
Por isso, frisou, "nesse tempo em que precisamos nos converter (tempo da Quaresma), tamb?m precisamos reaprender com a Amaz?nia e com os amaz?nidas a viver em harmonia com o meio ambiente e nos penitenciarmos sobre os males que j? causamos".
A Campanha de 2007 tem como tema "Fraternidade e Amaz?nia" e lema "Vida e miss?o neste ch?o". No lan?amento da Campanha ser?o apresentadas diversas realidades amaz?nicas.
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Ag?ncia Latino-Americana e Caribenha de Comunica??o
BRASIL
Organismos sociais questionam ato de lan?amento da Campanha da Fraternidade
BRAS?LIA, 22 de fevereiro (ALC) – Pastorais sociais e organismos eclesiais vinculados ? Igreja Cat?lica boicotaram a participa??o no lan?amento da Campanha da Fraternidade 2007, ontem, na ilha do Cumbu, cerca de duas horas de barco de Bel?m, em protesto contra o patroc?nio do evento pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).
O manifesto intitulado "Deus e dinheiro nos falam de projetos de vida e de modelos sociopol?ticos opostos, antag?nicos", t?tulo tirado do pr?prio texto da Campanha da Fraternidade de 2007, destaca o acerto da escolha do tema "Fraternidade e Amaz?nia – Vida e miss?o neste ch?o" quando surgem informa?es sobre as graves conseq??ncias do aquecimento global da Terra.
Mas as nove pastorais e organismos que assinam o documento denunciam a contradi??o entre o discurso do texto-base da Campanha da Fraternidade e a "pr?tica manifestada no ato de lan?amento", patrocinado pela CVRD, "uma das principais respons?veis pela destrui??o ambiental e por conflitos com as popula?es tradicionais da Amaz?nia".
O manifesto lembra que a privatiza??o da CVRD ser? tema de plebiscito popular promovido por movimentos e entidades da sociedade civil, agendado para a Semana da P?tria deste ano (2 a 8 de setembro), coincidindo com a realiza??o do Grito dos Exclu?dos e a 4a Semana Social Brasileira.
"Como ? poss?vel que a Confer?ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aceite o patroc?nio de uma empresa como esta para o lan?amento de uma Campanha que quer chamar a aten??o para a defesa e a preserva??o do meio ambiente, e para a valoriza??o das comunidades e povos tradicionais da Amaz?nia?" – indaga o manifesto.
A CVRD, segundo as pastorais sociais e organismos eclesiais, tem viabilizado a constru??o de uma s?rie de sider?rgicas na Amaz?nia que utilizam carv?o vegetal para a produ??o prim?ria de ferro-gusa. Para a produ??o do carv?o s?o destru?dos 300 mil hectares de floresta prim?ria a cada ano na regi?o.
No entendimento das organiza?es que assinam o manifesto, o lan?amento na ilha do Cumbu trata-se de "um evento para poucos selecionados e longe da vida das popula?es amaz?nicas", principais sujeitos da Campanha da Fraternidade.
Assinam o manifesto a Articula??o Nacional da Pastoral da Mulher Marginalizada, a Comiss?o Dominicana de Justi?a e Paz do Brasil, a Comiss?o Pastoral da Terra, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil, o Grito dos Exclu?dos, o Grito dos Exclu?dos Continental, a Pastoral da Juventude Rural, a Pastoral do Menor e o Servi?o Pastoral dos Migrantes.
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Ag?ncia Latino-Americana e Caribenha de Comunica??o
E mais:
Campanha da Fraternidade, lan?ada hoje, ataca “omiss?o” do Estado na regi?o
Religiosos questionam reintegra?es de posse de terras sob alega??o de que latif?ndios t?m origem esdr?xula ou s?o ilegais
LEANDRO BEGUOCI
FOLHA DE S.PAULO, 21 de fevereiro de 2007
A Igreja Cat?lica retoma ap?s oito anos o embate frontal com o governo e com empres?rios em uma Campanha da Fraternidade. O tema deste ano ? a Amaz?nia e, entre as propostas, est? o fim da concess?o de liminares de reintegra??o de posse a fazendeiros que t?m terras invadidas. O lan?amento nacional, que pela primeira vez ocorre fora de Bras?lia, ser? em Bel?m (PA), ?s 12h de hoje.
Nas d?cadas de 80 e 90, as campanhas falavam de fome, falta de moradia e n?o era raro a troca de farpas com os governos. Mas, desde 2000, o eixo mudou. Foram feitas campanhas pelos direitos dos idosos, dos deficientes f?sicos.
O ?ltimo tema apimentado foi o de 1999, quando o mote era o desemprego na gest?o de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) -que chamou as cr?ticas de “ing?nuas”.
A campanha surgiu em 1964, come?a na Quarta-Feira de Cinzas e termina na quinta-feira anterior ? P?scoa. O objetivo ? discutir um problema com a sociedade e propor solu?es.
Fam?lia humana
Dom Odilo Scherer, secret?rio-geral da CNBB (Confer?ncia Nacional dos Bispos do Brasil), diz que a igreja n?o teme novos embates: “O fundo da quest?o ? antropol?gico e ?tico. A Amaz?nia est? na perspectiva da fam?lia humana. ? preciso cuidar do que ? de todos”.
Apesar da cautela de d. Odilo, o texto que orienta os fi?is para a campanha ? contundente.
Em um dos trechos, diz que os crist?os devem denunciar e se opor a “projetos de domina??o pol?tico-econ?mica que perpetuam modelos econ?micos colonialistas” na regi?o.
Segundo a igreja, “o Estado foi omisso no cumprimento de suas fun?es”, pois “deixou de fazer a regulariza??o fundi?ria, foi incapaz de fiscalizar cart?rios e grileiros e de controlar a corrup??o”. O texto-base da campanha diz ainda que “os latif?ndios, na Amaz?nia, t?m origem esdr?xula, quando n?o ilegal, e que “a concess?o de uma liminar de despejo, num conflito com o latif?ndio, parece, pelo menos, temer?ria”.
Tr?s fatores, segundo a Folha apurou, pesaram na escolha do tema: os alertas mais freq?entes sobre o desmatamento, a necessidade de mobilizar os cat?licos a contribuir com os projetos da igreja na Amaz?nia e a perda de fi?is na regi?o.
O conte?do do texto se explica porque o catolicismo amaz?nico ? fundamentado, sobretudo, na Teologia da Liberta??o. Esta corrente sustenta que a igreja deve se empenhar na transforma??o social.
Sobre a destrui??o das florestas, D. Orani Tempesta, arcebispo de Bel?m, afirma que a campanha pedir?, sobretudo, uma mudan?a de mentalidade: “N?o vemos a Amaz?nia como uma regi?o a conquistar, mas como espa?o para dialogar”.
Em rela??o aos outros dois motivos, predomina a cautela, mas a explica??o ? simples.
Metade das dioceses da Amaz?nia possui bispos estrangeiros. Eles pertencem a congrega?es religiosas de pa?ses como Fran?a e It?lia, que, por sua vez, enviam dinheiro ao Brasil. “Os fi?is me perguntavam se brasileiro podia ser padre”, lembra d. Jos? Maria Pinheiro, bispo de Bragan?a Paulista (SP), que morou 20 anos em Rond?nia e no Amazonas.
Mas estes recursos n?o s?o suficientes. A diocese de S?o Gabriel da Cachoeira (AM) tem uma ?rea semelhante ? da It?lia continental e conta com apenas 24 padres. O bispo ? chin?s.
Para piorar o quadro cat?lico, h? o crescimento evang?lico. O censo de 2000 aponta que 19,2% da popula??o do Amazonas ? evang?lica. Em Roraima, o ?ndice sobe para 23,6%, e, em Rond?nia, chega a 27,7%. “H? ?reas em que j? n?o h? mais cat?licos”, lamenta d. Jos?.

