Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 09/05/2012

Artigo: Dia da denúncia contra o racismo (13 de maio)

Diná da Silva Branchini
Referência Nacional de Combate ao Racismo

 

Dia da denúncia contra o racismo
13 de maio


Neste ano o Dia das Mães e o Dia da Denúncia Contra o Racismo serão comemorados no dia 13 de maio, segundo domingo do mês. O Dia das Mães, em geral, é comemorado com muita festa e presentes para aquela que desempenha o papel de mãe, que dá afeto e cuidado para filhos/as.

O Dia da Denúncia contra o racismo mostra o lado cruel da sociedade. É a manifestação de inconformismo com o racismo estruturante da sociedade brasileira. E nós cristãos/ãs somos chamados/as a ser voz profética contra este mal que está incorporado na nossa cultura, conforme a orientação de Paulo em Romanos 12.2: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos renovando a vossa mente a fim de poderes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito”. Indignar-se é uma atitude própria das pessoas sensíveis às injustiças.

O racismo existe como instrumento de dominação de um grupo sobre outro/os por meio da desvalorização a partir da aparência física. É uma ideologia que foi construída durante os séculos XVIII/XIX na Europa e disseminada pela elite intelectual e política brasileira no final do século XIX e início do século XX.

A ideia central era de superioridade de um grupo humano, no caso os arianos (brancos, loiros, de olhos azuis) sobre os demais grupos, tendo na outra extremidade de uma escala de valores, os povos indígenas, africanos, como atrasados, feios, inferiores mental, moral e espiritualmente. Estes eram considerados raças inferiores.

Também foram forjadas as falsas teologias europeias, durante os séculos da escravização, as quais consideravam que negro não tinha alma, que a África era o inferno, que as crenças e valores dos povos africanos eram do Mal, e, promoveu a invisibilidade da África e africanos no contexto bíblico. Hoje vivemos na ambiguidade: a ciência tardiamente comprovou o que já era óbvio, que somos uma raça humana. Mas as desigualdades raciais, os preconceitos e discriminações permanecem como se existissem várias raças.

Vivemos uma cultura racista que se expressa de forma natural em todas as áreas: nas relações pessoais, grupos, espaços públicos, escolas, igrejas, etc: Preto/a tem que se colocar no seu lugar ( inferior); o pecado é preto; quero ser mais alvo que a neve; e os negros batalhões? Ele/ela é negro/a (preto/a), mas até que é bonito/a; é um preto/a de alma branca... E a lista negra? E o denegrir, fazer negrice? E o cabelo ruim? As manifestações racistas são públicas, explícitas, mascaradas, sutis; são conscientes e inconscientes.
No ano passado ficou conhecido o caso da estagiária em uma renomada universidade de São Paulo que processou a instituição por sentir-se vítima de racismo pela forma como foi advertida por causa de seu penteado - cabelo (crespo), solto, estética afro. Mas, esta chefia diz que não é racista, e que a questão é apenas disciplinar: obrigatoriedade de usar cabelos presos. Seu cabelo incomodou.

Enfim cabelo de negra é para ficar preso, ser alisado ou receber uma escova progressiva. Se ficar solto ao natural, ou numa estética afro, é um cabelo ruim, rebelde, “sujo”, “despenteado”, que incomoda por contrastar com o ideal de cabelo imposto pelo padrão estético dominante: liso e loiro. Símbolo de cabelo penteado, arrumado.

Outra forma de racismo violento que tem crescido é o racismo religioso, ou a intolerância religiosa, contra as religiões de matrizes africanas por parte de evangélicos. A teologia racista, uma das colunas de sustentação do racismo anti-negro/a ainda prevalece no contexto das igrejas que reproduzem a ideia de que as crenças, a espiritualidade, os valores culturais africanos são relacionados com o demônio e com o diabo.

A mídia tem noticiado com frequência casos de violência praticada por evangélicos contra seguidoras/es destas religiões, o que tem gerado separações familiares doenças e mortes. E muitas vezes nossos preconceitos são maiores que nosso amor, que o senso de justiça e testemunho cristão.

Neste Dia das Mães de 2012, não podemos esquecer o sofrimento de muitas mães negras separadas de seus filhos/as pela morte prematura e violenta dos mesmos/as. Mães que choram a perda de seus filhos para as organizações criminosas e para as drogas. Mães que estão separadas de seus filhos por causa de opção religiosa.

Neste Dia de Denúncia Contra o Racismo não podemos esquecer as mães negras que lutam contra todas as circunstâncias desfavoráveis geradas pelo racismo, preconceitos e discriminações, e, ainda acham em si forças para um sorriso, de um afeto, um cuidado para com os filhos/as que não são seus/suas.

Mães que, em sua maioria, assumem sozinhas o sustento da família – filhos/as e netos/as. Minha oração é que a Graça de Deus renove as forças da vida e sacie de plena alegria, amor, misericórdia as mães, independente da sua cor de pele, trabalho, religião, classe social; que a Igreja de Cristo goze da Graça da sabedoria e do acolhimento.

Que este 13 de maio seja pleno de indignação contra toda e qualquer manifestação de racismo, e, de felicidade pela existência daquelas e daqueles que incorporam o amor materno de Deus.


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