Carta Pastoral: A Igreja e a questão dos demônios

“A Igreja e a quest?o dos dem?nios”


A. Introdu??o: Por que este assunto


Cresce em nosso meio o n?mero de pessoas convertidas vindas de cultos dedicados ao diabo, de centros de umbanda, macumba e outras institui?es religiosas denominadas de "esp?ritas". Cresce tamb?m o n?mero de pessoas oprimidas e dominadas por esp?ritos malignos, ? semelhan?a do homem que se encontrou com Jesus na sinagoga de Cafarnaum (cf. Mc. 1.21-26). Tem crescido tamb?m a identifica??o por alguns grupos de que comportamentos como agressividade, erro doutrin?rio, v?cios, linguagem obscena, oposi??o ao Esp?rito Santo, nervosismo exagerado, vozes roucas, etc, tratam-se de opress?o e possess?o demon?acas.


Esta Carta Pastoral tem o objetivo de esclarecer o nosso povo, em meio a tantas opini?es, sobre a abordagem b?blica-teol?gica correta desse tema. T?m se introduzido em nosso meio pr?ticas e conceitos de toda ordem, encontrando, em alguns momentos, nossas igrejas despreparadas para tratar do assunto. Reconhecemos que esta Carta Pastoral tem limites. Na verdade ela ? uma introdu??o, mas com orienta?es claras do que a B?blia diz, de como a Igreja Metodista interpreta tal assunto e de como devemos proceder.


B. A vis?o b?blica sobre o assunto


No Antigo Testamento, o diabo ? identificado pelo termo sat?. Como pessoa, ele ? mencionado explicitamente em alguns textos provenientes da comunidade judaica p?s-ex?lica. Tais cita?es (1Cr 21,1; Zc 3,1-2) s?o feitas a partir do desenvolvimento teol?gico, fruto das influ?ncias persas no pensamento do povo de Deus que reconstruiu Jerusal?m, o templo e sua vida social e religiosa na Palestina a partir de seu retorno de Babil?nia.


A outra cita??o expl?cita no Antigo Testamento (J? 1,6ss) embora apare?a em nossas vers?es b?blicas de forma a caracterizar nome pr?prio, por causa das dificuldades de interpreta??o vem sempre acompanhada nas B?blias em ingl?s, espanhol e alem?o, de uma nota explicativa sobre o termo sat? ,assinalando que pode ser tamb?m traduzido simplesmente como "o advers?rio".


Implicitamente, o personagem maligno esta presente em textos como Ex 4,24-26;12.29 e 2Sm 24,16-17, n?o sendo nomeado, simplesmente por n?o haver a preocupa??o teol?gica de identificar a origem do mal no per?odo pr?-ex?lico. As a?es descritas nestes textos seriam mais pr?prias, teologicamente falando, de um ser devotado ao mal.


A tradi??o da igreja, inclusive ensinada por Jo?o Wesley, interpretou os textos de Is 14,12-15 e Ez 28,12-15 como a descri??o de Satan?s, um anjo criado por Deus, deca?do e rebelado contra Deus, arrastando em sua loucura outros anjos, formando as hostes infernais.


O Novo Testamento descreve de maneira bem espec?fica que o confronto com Satan?s ou di?bolos ? freq?ente no minist?rio de Jesus. Logo ap?s o batismo, Jesus se retira para o deserto para jejuar e orar, preparando-se para cumprir com seu minist?rio; ali ? tentado pelo diabo (cf. em Mt. 4.1-11). O objetivo da tenta??o era provocar Jesus para que ele atendesse aos apelos do tentador  e assim abandonasse o Plano de Deus.


Temos que levar em conta que Jesus n?o foi tentado apenas neste seu momento no deserto. Durante sua vida e minist?rio a tenta??o sempre esteve presente: Em Jo?o 6.15 a multid?o quer aclam?-lo rei; em Mateus 16.1 os fariseus e saduceus pedem um sinal; em Lucas 11.16 a multid?o pedia um sinal; em Marcos 8.32 Pedro repreende Jesus depois de ter anunciado sua morte na cruz; em Jo?o 18.10, por ocasi?o da pris?o de Jesus, Pedro usa a espada para impedir sua pris?o; em Mateus 26.27-28 os soldados cuspiram em Jesus e bateram-no desafiando Jesus a descer da cruz e em Mateus 27.40 um dos ladr?es na cruz desafia Jesus. Estes que tentavam a Jesus n?o tinham nenhum compromisso com sua mensagem e com o Reino de Deus. As tenta?es de Jesus nos apontam as tr?s principais ?reas em que os crist?os s?o tentados pelo diabo:


1) Necessidade f?sica, de subsist?ncia, que todos t?m. Ele sabia que Jesus, depois de tantos dias em jejum, tinha fome. Ent?o prop?s que transformasse as pedras em p?o. Jesus afirma que n?o s? de p?o vivemos, mas da palavra que vem da boca de Deus;


2) Necessidade de sustento para nossa alma, nossas car?ncias emocionais internas. Jesus estava s?. Muitos, em solid?o, necessitam de algu?m que tenha interesse por eles, que cuide deles; foi nisso que o diabo tentou e Jesus respondeu: "N?o tentar?s o Senhor teu Deus". Em Deus podemos esperar, confiar, por mais s? que estejamos;


3) Necessidade de ter coisas para a nossa vida, como roupa, casa, sa?de, dinheiro suficiente para a sobreviv?ncia, emprego; ent?o em cima disto vem ? tenta??o da cobi?a de ter cada vez mais, n?o importando os meios. Na tenta??o Jesus ouviu esta proposta: "Te darei todos os reinos e suas riquezas, se prostrando me adorares". Jesus o repreendeu e o expulsou, dizendo: "Est? escrito: ao Senhor teu Deus adorar?s e s? a Ele dar?s culto."


Jesus ensinou o caminho para que seus disc?pulos resistissem a tais tenta?es:


1) "Vigiai e orai, para que n?o entreis em tenta??o; o esp?rito na verdade est? pronto, mas a carne ? fraca" (Mt). 26.41). Sem uma vida de ora??o e vigil?ncia espiritual o crist?o se torna presa f?cil nas m?os do tentador. Pedro advertiu: "O diabo, nosso advers?rio, anda em derredor como le?o que ruge, procurando algu?m para devorar" (I Pe 5.8);


2) "Jesus foi guiado pelo Esp?rito ao deserto…". N?o ? poss?vel vencer o advers?rio na for?a da carne: o diabo ? esp?rito e deve ser vencido pela for?a e discernimento do Esp?rito Santo em n?s; foi assim com Jesus e deve ser assim conosco;


3) "Jesus, por?m, respondeu: Est? escrito…". Jesus usou, sempre, neste confronto as Escrituras Sagradas, a B?blia. A B?blia ? uma arma do crente no seu confronto com a tenta??o posta pelo diabo. Devemos ter cuidado e discernimento, pois uma das estrat?gias de Satan?s ? trazer descr?dito ? autoridade da B?blia, porque ele sabe que dela vem conselho e for?a de Deus. Em todas as reformas em Israel, a redescoberta da Palavra de Deus foi instrumento b?sico (II Cr 34.14-21); o mesmo aconteceu com a reforma liderada por Lutero;


4) "… esta casta n?o se expele sen?o com ora??o e jejum" (Mc 9.29). Esta express?o aponta uma a??o de ataque ?s cidadelas do diabo na vida de pessoas. Neste tipo de confronto, o crist?o precisa de uma prepara??o espiritual, onde entra a ora??o e o jejum e a disciplina espiritual.


C. Como a Igreja Metodista considera este assunto


Vejamos uma das abordagens do Revdo. Jo?o Wesley, fundador do Metodismo, sobre o confronto com o diabo e seus dem?nios. A primeira afirma??o contida no Serm?o de Advert?ncia Contra o Sectarismo, onde Wesley comenta a palavra de Jesus a Jo?o, quando este informava terem proibido algu?m de expelir dem?nios em nome de Jesus, visto este n?o fazer parte do grupo de disc?pulos: "Disse-lhes Jo?o: Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia dem?nios, o qual n?o nos segue; e n?s lho proibimos, porque n?o seguia conosco. Mas Jesus respondeu: N?o lho proibais; porque ningu?m h? que fa?a milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim" (Mc 9.38-39). Vejamos o que Wesley disse: "Quero mostrar, primeiro, em que sentido os homens e mulheres podem agora expelir dem?nios, e de fato o expelem. Para que se tenha um conceito claro no tocante a este assunto, lembrarei que (segundo os registros b?blicos) como Deus vive e opera nos filhos da luz, o diabo vive e opera nos filhos das trevas. Como o Esp?rito Santo possui a alma dos bons, assim o esp?rito mau possui a alma dos ?mpios. Porque o diabo n?o ? para considerar-se apenas como um le?o rugindo, n?o meramente como um inimigo sutil que se lan?a de improviso sobre as pobres almas e leva-as cativas ? sua vontade, mas como o que nelas anda, que governa as trevas ou a maldade deste mundo (dos homens do mundo e todos os seus tenebrosos des?gnios e a?es), tomando posse de seus cora?es, ali estabelecendo seu trono e reduzindo todo pensamento ? sujei??o. Est? continuamente operando nos filhos da desobedi?ncia" 1.


Jo?o Wesley estabeleceu duas formas de possess?o ou domina??o do diabo sobre as pessoas e as estruturas sociais. Diz ele:


"?, pois, uma verdade inquestion?vel, que o deus e pr?ncipe deste mundo ainda possui a todos que n?o conhecem a Deus. Somente a maneira pela qual ele agora os possui difere do processo dos tempos antigos. Ent?o, com freq??ncia, lhe atormentava o corpo assim como a alma, e isto abertamente, sem qualquer disfarce; agora ele lhes atormenta apenas a alma (salvo raras exce?es), e f?-lo t?o veladamente quanto poss?vel. ? clara a raz?o de semelhante diferen?a; seu objetivo era ent?o levar a humanidade ? supersti??o, por isso operava t?o abertamente quando podia. Agora, por?m, seu objetivo ? induzir-nos ? infidelidade; por isso age t?o cautelosamente quanto pode: mais disfar?ado se apresenta, mais avassalador se torna."2.


1.Wesley, Jo?o, Serm?es, volume II, pg. 233, Imprensa Metodista, S?o Paulo.


2 Wesley, Jo?o, Serm?es, volume II, pg. 234, Imprensa Metodista, S?o Paulo.


Assim, muitas outras orienta?es s?o dadas por Jo?o Wesley, mas aqui foi apresentado o essencial.


D. Orienta?es pr?ticas sobre o assunto


1) N?o se vence os ataques do diabo com amuletos e rezas. ? muito freq?ente a influ?ncia m?stica crist?, onde se pratica o exorcismo com objetos e rezas m?gicas. Estas pr?ticas s?o totalmente sem fundamento b?blico, e procedem de religi?es pag?s. Assim tamb?m, o uso da B?blia na cabe?a do endemoniado, ou a B?blia aberta nos c?modos da casa, por si s? n?o produzem efeito algum; o mesmo se d? em rela??o ? cruz, t?o usada em filmes de vampiros e dem?nios, n?o possuem poder por si mesmas. Rezas repetidas tamb?m carecem de efic?cia em si mesmas. Esses ataques se vencem pela f? em Jesus Cristo.


2) A B?blia recomenda que resistamos ao diabo e ele fugir? de n?s (Tg 4.7). Esta resist?ncia ? um ato de perseverar na f? redentora em Cristo Jesus, que veio com poder para destruir as obras do maligno. O diabo ? esp?rito maligno que n?o pode ser vencido por nossa for?a carnal, mas sim pela for?a e poder do Esp?rito de Deus que opera em n?s e atrav?s de n?s. Nossa f? em Cristo, nossa vida verdadeira, ?ntegra e santa ? algo que o diabo n?o pode enfrentar. Basta f?, un??o do Esp?rito de Deus, coragem para enfrentar o diabo, e ele fugir? de n?s. Devemos lembrar que Jesus conferiu essa mesma autoridade sobre esp?ritos malignos aos seus disc?pulos (cf. Mt 10.1; Lc 10.17).


3) Nunca, sobre hip?tese alguma, podemos permitir que o diabo, ao atormentar uma pessoa, interrompa nosso culto a Deus. Havendo uma manifesta??o, n?o deixemos que isto vire um show e atrapalhe o culto que ? devido a Deus. Imediatamente, irm?os e irm?s fi?is e id?neos devem retirar a pessoa oprimida ou possessa para um lugar reservado, ajud?-la a libertar-se da opress?o e trat?-la com todo amor e carinho. Enquanto isso, o culto deve prosseguir normalmente, valorizando-se a a??o da Gra?a e do Esp?rito Santo de Deus e n?o a experi?ncia de opress?o maligna.


4) Devemos distinguir, atrav?s do dom do discernimento de esp?ritos, se a manifesta??o ? de fato possess?o demon?aca, pois h? diversas enfermidades ps?quicas que produzem rea?es que podem ser confundidas com possess?o demon?aca. Tal confus?o pode ser altamente danosa para a pessoa atingida. Devemos ser humildes e reconhecer que algumas pessoas precisam de acompanhamento profissional de um psic?logo ou psiquiatra. Nesses casos precisamos reconhecer tamb?m que existem paralelamente necessidades espirituais, e estas devem ser tratadas pelo pastor ou pastora em aconselhamento pastoral.


5) Devemos, ainda, sublinhar com todas as pessoas que a vit?ria sobre as for?as do diabo se d? atrav?s de uma cont?nua confiss?o de pecados e compromisso com Jesus e o Evangelho do Reino de Deus. As palavras do 1 Wesley, Jo?o, Serm?es, volume II, pg. 233, Imprensa Metodista, S?o Paulo.O ap?stolo Jo?o nos d?o esta orienta??o: "Filhinhos, n?o vos deixeis enganar por ningu?m; aquele que pratica a justi?a ? justo, assim como ele ? justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princ?pio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que ? nascido de Deus n?o vive na pr?tica de pecado; pois o que permanece nele ? a divina semente; ora, esse n?o pode viver pecando, porque ? nascido de Deus. Nisto s?o manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que n?o pratica justi?a n?o procede de Deus, nem aquele que n?o ama a seu irm?o.." (I Jo 3.7- 10).


6) Textos para ler e meditar: Mt 8.28- 34; Mt 9.32-34; Mt 10.1; Mt 12.22-32; Mt 12.43-45; Mt 17.14-21; Mc 1.21- 28; Mc 1.32-34; Mc 3.7-12; Mc 9.24-29; At 13.4-12; At 19.13-17; II Co 10.3-5; Ef 2.1-3; Ef 6.11-18. Em que ?reas da vida Jesus foi tentado pelo diabo? Quais recursos Jesus utilizou para vencer as tenta?es do diabo? Quais as maneiras pelas quais o diabo atua, segundo Jo?o Wesley?


E. Conclus?o


Ao concluirmos essa carta pastoral queremos lembrar que a miss?o primeira da igreja ? fazer disc?pulos de Jesus Cristo. O trabalho de liberta??o da opress?o e possess?o demon?acas deve ser visto sempre a partir dessa perspectiva: permitir que a pessoa possa fazer uma op??o consciente pela f? em Jesus Cristo, o aceite como Salvador e Senhor de sua vida, e se envolva no projeto do Reino de Deus. Essa tarefa, ou qualquer outra que fazemos em nome de Jesus, n?o pode ser realizada na nossa pr?pria for?a ou sem discernimento espiritual.


Assim, como pastores e pastora da igreja, oramos para que o Esp?rito Santo continue capacitando os irm?os e irm?s para o exerc?cio dos minist?rios que Deus tem confiado a cada um e cada uma.


No amor de Jesus,


S?o Paulo, 05 de agosto de 2007.


Bispo Jo?o Carlos Lopes – Presidente do Col?gio Episcopal


Bispo Luiz Vergilio Batista da Rosa – Vice-Presidente do Col?gio Episcopal


Bispo Adonias Pereira do Lago – Secret?rio do Col?gio Episcopal


Bispo Adolfo Evaristo de Souza


Bispo Adriel de Souza Maia


Bispa Marisa Freitas Coutinho


Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann


Bispo Roberto Alves de Souza


Bispo Jo?o Alves de Oliveira F?


Bispo Josu? Adam Lazier


Bispo Geoval Jacinto da Silva


Bispo Nelson Luiz Campos Leite


Bispo Paulo Ayres Mattos


Bispo Richard dos Santos Canfield


Bispo Rozalino Domingos


Bispo Stanley da Silva Moraes



• Documento oficial dispon?vel para download na se??o “documentos oficiais”, clique aqui para baixar.


PARA SABER MAIS:


Leia tamb?m: Obsess?o pelo diabo. Uma reflex?o do pastor Daniel Rocha


 


 

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