Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Credo Social LVII Semana Wesleyana

Deputados paulistas homenageiam centenário do Credo Social Metodista

O respeito ao trabalhador, a justiça social e a igualdade de direitos são as ênfases do documento que nasceu 40 anos antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos

 

Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus? Miquéias 6.8

 

A Igreja e os Problemas Sociais foi o primeiro nome do Credo Social Metodista, documento publicado em 1908, por decisão do Concílio Geral da Igreja Metodista Episcopal, nos Estados Unidos. O texto da época dá grande ênfase às condições de trabalho e declara seu compromisso com “direitos iguais e justiça completa para todos os seres humanos em cada momento de suas vidas’, 40 anos antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. No Brasil, o pastor metodista Guaracy Silveira, deputado federal pela Assembléia Constituinte de 1933, foi um dos grandes divulgadores do documento que afirmava a justiça social e a defesa do trabalhador.

Voz de denúncia e anúncio proféticos da Igreja Metodista, o Credo Social passou por adaptações a cada transformação do cenário nacional, mas manteve sempre o compromisso de defender a vida humana contra qualquer forma de opressão, buscando a construção do Reino de Deus anunciado por Jesus. De seu fundador, o teólogo inglês John Wesley (1703-1791), os metodistas também aprenderam que “o evangelho de Cristo não conhece religião que não seja religião social; não conhece santidade, que não seja santidade social”. 

Em um momento histórico em que conquistas sociais e índices econômicos animadores ainda coexistem com denúncias de trabalho escravo no estado mais rico do país, para a Igreja Metodista o reconhecimento do valor de seu Credo Social não é apenas uma honra recebida com alegria, mas, sobretudo, um incentivo para que ela confirme sua vocação social e faça jus ao lema que adotou: ser uma “comunidade missionária a serviço do povo”.

Veja, a seguir, dois textos que relembram a história do Credo Social, divulgados por ocasião do 16º Concílio Geral, em julho de 1997, quando ocorreu a última atualização do documento.

 

A história do Credo Social da Igreja Metodista

Nosso Credo Social tem como base um documento semelhante elaborado em 1922 pela Igreja Metodista Episcopal do Sul (EUA), chamada por nós de Igreja-mãe. Este foi inspirado no documento produzido naquele país pelo Conselho Nacional de Igrejas de Cristo, de 1908. Em 1930, quando houve a autonomia da Igreja Metodista  no Brasil, o documento da Igreja-mãe passou a fazer parte dos nossos Cânones, editados desde 1934.

Naquele ano, a Junta Geral de Ação Social, no 8º Concílio Geral da Igreja Metodista, tomou a iniciativa de realizar a primeira mudança no documento visando torná-lo mais adequado à realidade experimentada pelo Brasil daqueles tempos. Com isso, a versão  de 1960 do Credo Social trazia um olhar brasileiro da posição metodista em relação às diversas questões sociais do Brasil e do mundo.

Na conturbada sociedade brasileira da década de 1960, marcada pelo autoritarismo e pela violência do regime militar que se instalou a partir de 1964, o Credo Social foi, para muitos metodistas, uma espécie de âncora onde se podia firmar posições inspiradas no Evangelho. Com esse documento na mão, sentiam-se fortes para denunciar injustiças, opressões, cerceamento da liberdade, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos políticos. Também era a base para as propostas de construção de uma sociedade em que todos pudessem viver com dignidade.

Por outro lado, os anos de 1960 foram também difíceis para a própria Igreja Metodista, que experimentou dentro de si própria, processos de perseguições semelhantes aos adotados pelo regime militar. O ano de 1968 marcou o momento mais grave de posturas autoritárias entre os metodistas, culminando com o fechamento da Faculdade de Teologia e expulsão injusta de alunos, professores e do Conselho Diretor, além de outros líderes da Igreja, principalmente a juventude, que não concordavam com a truculência do regime militar.

Contudo, apesar desses momentos difíceis, o 10º Concílio Geral da Igreja Metodista (1970-1971), novamente sob a iniciativa da Junta Geral de Ação Social com a finalidade de atualizá-lo. O Brasil se iludia com o chamado milagre econômico, experimentava o autoritarismo dos Atos Institucionais do Estado e tomava conhecimento das torturas, prisões, seqüestros, desaparecimentos e assassinatos promovidos pela ditadura militar.

Esta publicação que você tem em mãos (CLIQUE AQUI PARA LER) é a última revisão aprovada no 16º Concílio Geral, em julho de 1997. Por se tratar de um texto que olha a realidade do Brasil e propõe posturas sociais, esta revisão contextualiza o Credo Social para os tempos presentes.

É um documento atual que deve ser lido, refletido e, principalmente, colocado em prática como uma exigência do Evangelho nestes tempos em que há o imperativo de se fazer uma porção pela vida e de se lutar contra a morte e todas as forças que a produzem.

Jorge Hamilton Sampaio

 

 VEJA TAMBÉM:

O significado do Credo Social  da Igreja Metodista

 

A Igreja Metodista no Brasil possui dois documentos que expressam o esforço de relacionar-se a fé cristã com a vida concreta em sociedade.

O primeiro desses documentos é conhecido como Regras Gerais e data do século dezoito na Inglaterra. Ela está nos Cânones, na Seção II, art. 12, do capítulo II, que trata dos Costumes sendo assim apresentado: “A Igreja Metodista do Brasil, segundo os costumes e tradições metodistas, adota, em essência, para orientação de seus membros, na prática da vida cristã, as Regras Gerais dadas por João Wesley aos primeiros irmãos que o cercavam em busca de conforto espiritual, desejos de salvação e santidade.” Para tais objetivos é que foram dadas as Regras Gerais, divididas em três partes:

 

1.      O que um metodista não deve praticar.

2.      O que um metodista deve praticar.

3.      Obediência a todos os preceitos de Deus, como:

a)      freqüência ao culto público de Deus

b)      leitura e ensino da Palavra

c)      participação na ceia do Senhor

d)      oração em família e em particular

e)      exame e estudo das Sagradas Escrituras

f)        prática do jejum e da abstinência.

 

As Regras Gerais, como declaram os Cânones, “baseiam-se nos costumes e tradições metodistas.” Isso significa que nós, metodistas, também nos apoiamos na tradição e nos costumes quando se trata de prática da vida cristã.

            Qual é a relevância das Regras Gerais para os metodistas no mundo presente? O seu conteúdo e a sua finalidade, em essência nos Cânones, que relação apresentam com a Ética Cristã discernida em termos do ministério de Jesus Cristo e em termos da situação contemporânea? Esta pergunta se torna muito importante quando compreendemos a impossibilidade de aprisionar num código a dimensão viva e criativa da ética do evangelho. Além disso, qualquer tentativa séria de fixar num código a responsabilidade do cristão encontra-se desafiada pela complexidade de situações humanas tão diversas em cada época e em diferentes lugares.

            Qualquer esforço nesse sentido deve ser feito em termos da amplitude e dinâmica do Evangelho que possibilita relações criativas nos diversos contextos. Essa amplitude é muito bem expressa nas Escrituras. A diferença de ênfase, de linguagem e de conteúdo na mensagem dos profetas à diferença de situações vividas por eles. Essa mesma realidade encontramos nos ensinos de Jesus Cristo e nas epístolas. Jesus e os apóstolos referiam-se a situações concretas, a casos específicos e suas mensagens não eram diagnósticos generalizados e impessoais. Assim, nas cartas apostólicas, escritas a diferentes congregações, em situações sociais diversas, não há um código que padronize a responsabilidade cristã. Não encontramos nas descrições paulinas das 'virtudes cristãs' qualquer base para um código do comportamento cristão, pois nenhuma é igual à outra. Podemos afirmar que elas são idênticas pelos seus fundamentos, seus propósitos e sua relevância. As cartas apostólicas eram endereçadas a grupos de cristãos em situações bem concretas e tratavam de problemas concretos.

            O que Jesus Cristo fez com o legalismo gélido e desumano da religião de seu tempo é uma lição permanente. O problema profundo do legalismo é o fato de terminar centralizado a lei e menosprezando a criatura humana. Além disso, do ponto de vista  cristão, o legalismo é rejeitado em razão de sua impossibilidade de permitir o cumprimento do mandamento do amor que Cristo revelou. O legalismo é  a expressão de uma religiosidade em que o homem nunca se liberta da tragédia de ser escravo de “seus próprios interesses”, ainda que rotulados de espirituais. Termina ele traindo o próprio significado da lei cuja função docente e pedagógica é muito clara no Evangelho (Deuteronômio 6; Gálatas 3.24).

            O outro documento é o Credo Social. Enquanto o primeiro, Regras Gerais, trata da disciplina individual do crente metodista, o credo Social pretende ser uma formulação da doutrina social ou da responsabilidade da Igreja Metodista no Brasil.

            É evidente que o Credo Social faz mais justiça à obra pastoral e social de João Wesley como um dos pioneiros do metodismo na Inglaterra e no mundo todo. Precisamente na repercussão social da pregação de Wesley e dos leigos do metodismo primitivo é que se pode avaliar a amplitude de sua visão do Evangelho e dos problemas humanos. Sua luta incessante contra a corrupção política, e luxúria e avareza dos ricos, o desemprego, a escravidão, a guerra e sua desumanidade, a escola como privilégio de minoria, o alcoolismo como força de degeneração da personalidade é que mostram a visão social do pioneiro do metodismo. Assim, o teste mais relevante para a avaliar o pensamento social de Wesley como evangelista é o impacto de sua mensagem na sociedade da Inglaterra. Neste sentido, duas observações são muito interessantes:

            Primeira, que a classe dos pobres e espoliados da sociedade ouvia e respondia à pregação metodista. Segunda, que a classe rica e dominante via em todo o movimento uma ameaça repulsiva aos privilégios dos status quo. A duquesa de Buckingham, por exemplo, escreveu à condessa de Huntington: “Agradeço a V.Sa. a informação a respeito dos pregadores metodistas. Suas doutrinas são as mais repulsivas e tingidas de impertinência e desrespeito para com seus superiores, em permanente tentativa de nivelar as classes e acabar com as distinções. É uma coisa horrível ser avisado que o seu coração é tão criminoso como o dos vis miseráveis que se arrastam sobre a terra. Isto é altamente ofensivo.”

            O conteúdo dos sermões metodistas na Inglaterra deveria ser mesmo algo de sério para provocar tamanho impacto e determinar esse tipo de correspondência entre pessoas da alta sociedade. Parece claro, então, que a mensagem do metodismo era fundamentada num Evangelho que relaciona vitalmente a fé cristã (relação com Deus) com a situação concreta da pessoa em sociedade (relação do homem com a natureza e com seu semelhante).

            Uma de suas declarações deixa isso muito evidente: “O tempo chegará e cobrirá a terra. Quanto isto acontecer, as guerras cessarão, o ódio e a desconfiança que nos dividem desaparecerão, a injustiça e a pobreza terão fim, e o amor e a misericórdia governarão o mundo”. O resultado natural é o fato de que os filhos de Wesley, os metodistas no mundo inteiro, constituam uma comunidade de cristãos conscientes da responsabilidade social do Evangelho que visa o Reino de Deus e a sua justiça na terra em benefício de todos os homens.

            Exatamente este é o significado do Credo Social da Igreja Metodista no Brasil: uma tomada de consciência dessa responsabilidade social em termos da situação brasileira. Consciência e responsabilidade iluminadas pelo discernimento do Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Negar a responsabilidade social do cristão só é possível, para a Igreja Metodista no Brasil, negando-se o Evangelho e a tradição do metodismo no mundo. Afirmá-la, traduzi-la renovadamente em termos das constantes transformações da sociedade é, segundo o significado do metodismo, a atitude e o testemunho que correspondem a cada geração metodista.

Texto extraído do livro “Doutrina Social da Igreja Metodista na Brasil”,  publicado pela Junta Geral de Ação Social em 1968 e redigido pelo secretário executivo João Parayba Daronch da Silva.

 

 


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