Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Crianças: cidadãs do Reino

Crianças: cidadãs do Reino

No dia 13 de julho de 2006, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, completa 16 anos. O documento que valorizou a cidadania da criança brasileira nasceu após intensa mobilização de gente que já reconhecia as crianças como cidadãs do Reino de Deus.

Esforço ecumênico
 O sonho começou a ganhar forma na década de 1980, a partir do trabalho da Pastoral do Menor - que reunia representantes das Igrejas Católica, Presbiteriana Independente e Metodista - em diálogo com a Unicef e a extinta Funabem, Fundação Nacional do Bem Estar do Menor. Dos vários encontros nasceria, em 1985, o Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua. "Em 1986, ocorreu o 1º Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em Brasília, com a participação de 500 crianças para formular propostas à Assembléia Nacional Constituinte que estava sendo instalada" , lembra a pastora metodista Zeni de Lima Soares, uma das líderes do movimento.  "Ocorreram várias reuniões, nas quais as crianças eram as protagonistas, participando das discussões". As reuniões resultaram num documento que foi mandado aos deputados constituintes e gerou frutos: a nova Constituição, de 1988, em seu artigo 227, já destacava a criança como prioridade no atendimento do Estado. Logo em seguida começou uma intensa mobilização para fazer uma lei complementar garantindo que o Artigo 227 fosse colocado em prática: nascia, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Chacina em São Bernardo
 Em São Bernardo do Campo, o projeto Meninos e Meninas de Rua - que adotou uma metodologia inovadora, indo até as ruas para desenvolver ações educativas - teve um forte apoio da Faculdade de Teologia e a presença constante da pastora Zeni , na época redatora das revistas Bem-Te-Vi e atualmente integrante da Pastoral do Colégio Piracicabano. "Eu fui um dos discípulos da pastora Zeni", diz Marco Antônio da Silva, o Markinhus. "Ele foi da primeira turma. Tinha apenas 16 anos e uma filha para criar. Trabalhava na rua para comprar o leite", lembra Zeni. Hoje Markinhus é o coordenador do projeto em São Bernardo do Campo. Eles mantêm laços de amizade e muitas memórias em comum.
 A mais triste é certamente a lembrança do dia 3 de setembro de 1987, quando o local onde se reuniam as crianças do projeto foi invadido por um grupo de extermínio. Seis crianças foram assassinadas. O projeto quase acabou. "O Bispo Nelson Campos Leite nos apoiou institucionalmente. O pombal (apelido pelo qual o alojamento dos estudantes de Teologia é conhecido até hoje) serviu como um santuário para proteger os meninos. Outras instituições metodistas - em Santa Maria, RS; São Gabriel, BH e Colatina, ES - também acolheram as crianças ameaçadas de morte", lembra Markinhus.

O apoio da Igreja
 Em 1989, a Igreja finalmente comprou uma casa para o projeto, quase em frente à Faculdade de Teologia. "O vínculo do Meninos e Meninas de Rua era tão forte que a entidade usava a pessoa jurídica da Amas (Associação Metodista de Ação Social) em seus documentos", diz Markinhus. Isso ocorreu até 1992.  Hoje, a entidade tem independência jurídica, mas o projeto nunca deixou de contar com a participação de metodistas. Atualmente, um dos funcionários do projeto é o estudante de teologia Alexandre Crisóstomo. Ele se forma este ano, mas pretende continuar no trabalho como voluntário, a exemplo de vários membros metodistas da atual diretoria: a Revda. Margarida Ribeiro, como vice-presidente; Regina Medeiros, na secretaria de finanças; Rev. Otoniel Ribeiro, no Conselho Fiscal; Dagmar Pinto de Castro, na secretaria. "Existem muitas formas de pregar o amor de Jesus, sem palavras", diz Alexandre, que promove atividades esportivas com as crianças. "Hoje a Igreja está mais voltada para os projetos denominacionais, que são bastante importantes. Mas não pode deixar de apoiar ações ecumênicas em defesa das crianças", avalia a Revda. Zeni.

Sombra e Água Fresca
 Entre os projetos denominacionais de maior alcance da Igreja Metodista está o Sombra e Água Fresca, organizado como uma rede nacional para ajudar igrejas locais a desenvolver atividades sócio-educativas a crianças em situação de risco. As igrejas recebem capacitação para organizar atividades extra-escolares para crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos. Milhares de crianças e adolescentes são beneficiadas com atividades de educação cristã, reforço escolar, recreação, oficinas de arte, esportes e informática. Além de cursos de capacitação para o trabalho, as igrejas que se propuserem a aceitar este desafio agora receberão, também, um material didático produzido especialmente para o projeto: a apostila O Reino de Deus, desenvolvida pela Fundação Metodista de Ação Social e Cultural. O cultivo de valores e a formação de caráter são os dois elementos centrais do material, informa o texto de apresentação do material:  "Desejamos que as crianças e adolescentes envolvidos nos projetos locais sejam desafiados a assumirem os valores do Reino e a fazerem parte de uma comunidade missionária a serviço do povo".

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