Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Deus ama com ternura

Uma das reclamações mais comuns daqueles que se deparam com as narrativas do Antigo Testamento é que o Deus revelado aos judeus difere muito do Deus revelado por Jesus de Nazaré.
 
Algumas pessoas chegam a afirmar que não gostam de ler o Antigo Testamento por se sentirem mal com tanta violência. 

Pior. Já correu uma doutrina de que Jeová, adorado pelos judeus, era um ídolo. E que o verdadeiro Deus não seria o que os judeus creram, só o que Jesus revelou.

Inconformados, alguns indagam: "Pode Deus ser vingativo e mau?; pode agir com arbitrariedade e muitas vezes mostrar-se implacavelmente sanguinário?

Se tomarmos a verdade de que Deus não muda e que não há variação em seu caráter, podemos afirmar que ele é hoje exatamente como foi no passado, e que continuará, por toda eternidade, exatamente como o percebemos hoje.

Pelo menos três alicerces devem substanciar nossa percepção de como Deus escolheu revelar-se aos seus filhos.

1. Revelando que afetos e ternuras não são construções humanas, mas dons divinos.

"Como um pai tem compaixão dos seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem, pois ele sabe do que somos formados e lembra-se que somos pó". Salmos 103.13.

Todas as vezes que uma mãe expressa amor ou ternura por seus filhos, ela revela o amor de Deus. Seu bem querer não é um impulso genético, ou uma influência social, mas uma dádiva divina.

A ternura de Deus pode ser comparada a de uma mãe, mas com conteúdos infinitamente maiores e seguros:

"Sião, porém, disse: O Senhor me abandonou, o Senhor me desamparou: Haverá mãe que possa esquecer seu bebê enquanto mama, ou não ter compaixão do filho que gerou? Embora ela possa esquecê-lo, eu não me esquecerei de você! Veja eu gravei você nas palmas das minhas mãos; seus muros estão sempre diante de mim". Isaías 49. 14-116.

"Assim como uma mãe consola seu filho, também eu os consolarei, em Jerusalém vocês serão consolados". Isaías 66.13.

2. Revelando que Deus ama sem se prender à lógica da causa e do efeito.

Ele não ama movido por alguma força externa a si mesmo. Não há nada que o induza, influenciando ou motivando a amar. Seu amor é pura gratuidade.

O amor de Deus não se deixa deter por nada; não é potencializado por ninguém ou por qualquer ato externo a si.

Ser terno, misericordioso, bom e sempre simpático é uma qualidade constitutiva do seu ser e do seu agir.

"Pois o Senhor, o seu Deus, é Deus misericordioso; ele não os abandonará, nem os destruirá, nem se esquecerá da aliança que com juramento fez com os seus antepassados". Deuteronômio 4.31.

3. Deus amou Israel não controlando o cercando todas as circunstâncias históricas do seu povo, mas permanecendo leal à sua aliança.

"Eu curarei a sua infidelidade. Amarei você de coração sincero". Oséias 14.5.

A Bíblia se vale de algumas metáforas para expressar o cuidado de Deus para com Israel.

A METÁFORA DA ÁGUIA  - Para mostrar que Ele é um guia forte e seguro.
 
"O Senhor o protegeu e dele cuidou, guardo-o como a menina dos seus olhos, como a águia que desperta a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes e depois estende as asas para apanhá-los, levando-os sobre elas" Deuteronômio 32.10-11.

A METÁFORA DO REFÚGIO FORTE E ACOLHEDOR.

"O nome do Senhor é uma torre forte, os justos correm para ela e encontram e estão seguros". Provérbios 18.10.

A METÁFORA DO PASTOR QUE CONDUZ SEU REBANHO E CONHECE CADA OVELHA. 

"Eu mesmo reunirei os remanescentes do meu rebanho de todas as terras para onde os expulsei e os trarei de volta à sua pastagem, a fim de que cresçam e se multipliquem. Estabelecerei sobre eles pastores que cuidarão deles. E eles não mais terão medo ou pavor, e nenhum deles faltará". Jeremias 23.3-4.

A METÁFORA DO MÉDICO QUE CUIDA E CURA AS FERIDAS
 
"Estou arrasado com a devastação sofrida pelo meu povo. Choro muito, e o pavor se apodera de mim. Não há bálsamo em Gileade? Não há médico? Por que será então que não há sinal e cura para a ferida do meu povo"?Jeremias 8.22.

A METÁFORA DO OLEIRO -

"Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos".  Isaías 64.8.

A METÁFORA DO PAI. Da mesma maneira que os pais terrenos se preocupam com os seus filhos, Deus se preocupa e cuida dos seus filhos. 

"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho"Oséias 11.1.

"Mas depois os sustentou com Maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhes que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor. As roupas de vocês não se gastaram e os seus pés não incharam durante esses quarenta anos. Saibam, pois, em seu coração que, assim como um homem disciplina o filho, da mesma forma o Senhor, o seu Deus, os disciplina". Deuteronômio 8. 4-5.

As narrativas do Antigo Testamento não cansam de proclamar: Deus é pai.

"Entretanto, tu és o nosso pai". Isaías 63.16

Cada vez que o Antigo Testamento se refere a Deus com o título de Pai, indica que Deus ama os seus com um afeto e uma ternura da qual a paternidade terrena não passa de uma pálida imagem.

A METÁFORA DA MÃE.

"Todos vocês irão mamar e saciar-se em seus seios reconfortantes, e beberão à vontade e se deleitarão em sua fartura. Pois assim diz o Senhor: Estenderei para ela a paz como um rio e a riqueza das nações como uma corrente avassaladora. Vocês serão amamentados nos braços dela e acalentados em seus joelhos. Assim como uma mãe consola seu filho, também eu os consolarei". Isaías 66.11-3.

Em algumas vezes a espera de que alguma coisa acontecesse foi vista como um tempo de gestação.

Em Jeremias 30 e 31 surge a imagem do parto que está prestes a acontecer.

"Assim diz o Senhor: Ouve-se um pranto e amargo choro; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque os seus filhos já não existem. Assim diz o Senhor: Contenha o choro e as suas lágrimas, pois o seu sofrimento será recompensado, declara o Senhor".  31.15-16.

Jeremias 31.20 é fantástico:

"Não é Efraim o meu filho querido? O filho em quem tenho prazer? Cada vez que eu falo sobre Efraim, mais (visceralmente) intensamente me lembro dele. Por isso, com ansiedade o tenho em meu coração, tenho por ele grande compaixão, declara o Senhor".

O recurso de falar das vísceras divinas é uma figura de linguagem para revelar como estamos intensamente ligados a Deus.

"Como de uma criança desmamada nos braços de sua mãe". Salmos 131.2.

A METÁFORA DO MARIDO.

"Eu me casarei com você para sempre, eu me casarei com você com justiça e retidão, com amor e compaixão. Eu me casarei com você com fidelidade e você me reconhecerá". Oséias 2.19-20.

Quando o povo adulterou e traiu o amor de Deus, perderam os dotes que a noiva ganhava nas núpcias, a relação perdeu a sua perenidade, sua confiança, seu diálogo.

Contudo, o Senhor promete a Israel que não se comportará como os maridos que traídos, abandonam a mulher outrora amada.

A infiel continua infinitamente amada. O profeta Oséias tem essa certeza:  

"Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregá-lo nas mãos de outros, Israel? ... O meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão. Não executarei a minha ira impetuosa, não tornarei a destruir Efraim, pois sou deus e não homem, o Santo no meio de vocês, não virei com ira". Oséias 11.8-9.

A mesma metáfora é repetida em Jeremias. Deus se depara com a realidade de que sua amada é adúltera e infiel.

"Mas você, apresentando-se declaradamente como prostituta, recusa-se a corar de vergonha". Jeremias 3.3.

"Mas, como a mulher que trai o marido, assim você tem sido infiel comigo, ó comunidade de Israel. Jeremias 3.20.

"Se você voltar, ó Israel, volte para mim, diz o Senhor". Jeremias 4.1.

Finalmente, todas as metáfora usadas pela narrativa do Antigo Testamento mostram que Deus amou sem se impor ou subornar; procurando apenas nutrir relacionamentos verdadeiros.

"Que posso fazer com você, Efraim? Que posso fazer com você, Judá? Seu amor é como a neblina da manhã, como o primeiro orvalho que logo evapora. Por isso eu os despedacei por meio dos meus profetas, eu os matei com as palavras da minha boca; os meus juízos reluziram como relâmpagos sobre vocês, pois desejo misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos".  Oséias 6.6.

A força de Deus se manifestou em duas frentes: Operando e mostrando a sua grandeza; amando com a frágil força do amor.

Entretanto, Deus preferiu mostrar seu poder através do amor e não da manifestação de sinais e prodígios.

"Ali, nas nações para onde vocês tiverem sido levados cativos, aqueles que escaparem se lembrarão de mim; lembrarão como fui entristecido por seus corações adúlteros, que se desviaram de mim". Ezequiel 6.9.

Aos leigos que porventura se interessarem em ler a Bíblia, afirmo: Jesus revelou Deus, mas o mesmo Deus de seus pais - Abraão, Isaque e Jacó.

Soli Deo Gloria. 

Fonte: site www.ricardogondim.com.br


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