Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

domingo de ramos

 

E quando se aproximava da descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinham visto, dizendo: Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas! Ora, alguns dos fariseus lhe disseram em meio à multidão: Mestre, repreende os teus discípulos. Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão.

Lucas 19.37-40

 

No domingo que antecede a Páscoa, o roxo litúrgico de muitas igrejas mescla-se ao verde. Folhas ornamentam e integram dramatizações que relembram os momentos da festiva entrada de Jesus em Jerusalém. Naquela manhã de festa e esperança, ramos de árvore forravam o chão para que o Rei passasse. Domingo de Ramos é o nome que usamos para recordar o dia em que o ser humano buscou na natureza elementos para exaltar o Rei que, pouco tempo depois, seria submetido à mais humilhante forma de tortura de sua época.

Naquela manhã de júbilo, palavras de louvor brotavam espontaneamente dos lábios do povo. Sim, certamente eram palavras espontâneas, mas de forma alguma vazias ou descompromissadas... Não era a repetição mecânica de "améns" e "glórias a Deus" que se ouve em muitas igrejas a cada frase proferida numa pregação. Eram palavras que envolviam uma atitude de profundo compromisso e muita coragem. Louvar o nazareno Jesus como Rei e enviado de Deus, em plena Jerusalém, significava colocar-se em risco diante do governo romano e das lideranças religiosas judaicas. Era uma atitude perigosa.

Após a festiva entrada de Jesus em Jerusalém não se passariam muitos dias até a morte de cruz. É provável que algumas daquelas pessoas que testemunhavam a majestade de Jesus tenham sofrido posteriormente açoites e prisões, tal como sofreram os apóstolos, no período que sucedeu a ressurreição. Contudo, naquela manhã festiva, nenhum poder seria capaz de fazer calar a voz que brotava do Espírito de Deus. Se o louvor não soasse de suas gargantas, soaria das próprias pedras que se acumulavam no chão seco de Jerusalém.

Será que os discípulos tinham plena consciência do que viria a seguir? Jesus certamente sabia, e já os havia alertado. "Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lc 9.23). Depois dos ramos da árvore, em louvor ao Rei, viria a morte infame no madeiro. Seguir a Jesus, firmar um compromisso com o Reino de Deus, sempre foi assumir uma atitude de coragem, compromisso e, muitas vezes, sofrimento e resignação.

Não é diferente nos dias de hoje. Louvar a Jesus pode implicar no enfrentamento das forças que promovem a injustiça e a morte: salvar crianças do abuso sexual, salvar jovens do tráfico, salvar mulheres da violência doméstica, abrigar sem-teto, dar acolhida à prostituta... Tudo isso é muito perigoso; e exige não apenas coragem individual, mas organização institucional e união de esforços. Contudo, não nos enganemos mais. É este o verdadeiro louvor e adoração que Deus espera de sua Igreja. "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miquéias 6.8)  Por isso, se a Igreja se calar, toda a natureza clamará. Clamarão as mães que perdem seus filhos para a violência, clamarão os pobres que perdem a esperança, clamarão os animais em extinção e o meio-ambiente em desequilíbrio...

Domingo de Ramos é dia de louvar a Jesus. Mas louvar com os olhos voltados para a cruz, com a consciência de que nossos atos e palavras de compromisso com o Reino de Deus terão conseqüências. Sim, o sofrimento há de vir, pois não há quem se comprometa com a Verdade sem pagar um preço...   Houve um dia, porém, em que, antes de voltar ao Pai, Jesus orou por nós. Ele disse: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio de sua palavra" (João 17.20). Ele sabia que teríamos dúvidas e medo. Ele sabia que precisaríamos de oração. Ele é, e sempre será, "Deus conosco".

 

Suzel Tunes 


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