Expositor Crist?o Entrevista
A hist?ria de uma m?e muito especial
Neste m?s em que comemoramos o Dia das M?es, ? com gratid?o a Deus que o Expositor publica o testemunho de Odete Fillietaz, fundadora da Escola Metodista de Educa??o Especial O Semeador: "quero contar sobre a alegria de ter dois filhos excepcionais".
? dif?cil ouvir a hist?ria de vida de Odete Fillietaz e n?o se sentir penalizado. Seu primeiro filho, Waldyr, nasceu com uma grave defici?ncia mental. Tr?s anos depois nasceu o Pierre. Aos seis meses de vida, Pierre caiu do colo da m?e. Suspeita-se que esse acidente possa ter deixado as seq?elas que apareceriam somente ap?s os 11 meses de idade: Pierre tamb?m receberia diagn?stico de defici?ncia mental.
Contudo, o sentimento de pesar desaparece quando voc? conversa com a dona Odete. Para ela, os filhos, hoje com 48 e 45 anos, sempre foram motivos de alegria em sua vida – e est?mulo para a?es que mudaram a vida de muita gente. Basta dizer que Odette Filiettaz ? uma das fundadoras da Escola Metodista de Educa??o Especial O Semeador e, tamb?m, da primeira Escola Especial de Educa??o Infantil da cidade de S?o Bernardo do Campo."Eu gostaria de escrever um livro sobre a alegria de ter dois filhos excepcionais, do prazer que ? v?-los desabrochar, de aprender quando parecia n?o haver possibilidade. Minha vida ? feliz", diz ela.
Essa maneira de ver a vida com esperan?a e alegria tem liga??o direta com um encontro de jovens ocorrido no feriado do carnaval de 1948: foi nessa data que Odete teve uma experi?ncia pessoal de f? em Jesus. A fantasia de carnaval j? estava pronta. Sua m?e havia se convertido dois anos antes e, com muito jeitinho, convidou a filha adolescente a acompanh?-la numa reuni?o da Sociedade de Mulheres da Igreja. L? tamb?m estava acontecendo uma reuni?o de jovens que organizava o retiro a ser realizado na Faculdade de Teologia. Odete foi convidada para o encontro e, sem muito entusiasmo, aceitou. Ao t?rmino do feriado, a miss?o j? contava com mais uma fiel participante. "Eu sempre digo que fui a este encontro saulina e voltei paulina".
Odette Fillietaz tem uma longa hist?ria de dedica??o ? Igreja. Em 1953, ela integrou a primeira turma do Instituto Metodista, que formava diaconisas (antes que a Igreja aceitasse o minist?rio pastoral feminino). L? ela foi uma das coralistas sob a reg?ncia de D?a Affini Kerr, que descobriu em sua aluna uma excepcional voz de contralto. Terminado o curso no Instituto Metodista, Odete foi estudar na Escola de M?sica Sacra do Bennett, no Rio de Janeiro. "Embora minha fam?lia fosse muito pobre, eu sempre gostei de m?sica l?rica", diz ela. Na vida de Odette Fillietaz, a m?sica tornou-se n?o apenas um dom a ser empregado na Igreja (ela foi a pianista de in?meros cultos e casamentos) como uma forma de levantar recursos para a escola de educa??o especial O Semeador, por meio de concertos levados a v?rios teatros – al?m, ? claro, de uma fonte de prazer e alegria.
Afinal, em sua vida de v?rios desafios, ela aprendeu a transformar as necessidades em oportunidades de crescimento. Assim foi com rela??o ? Escola de Educa??o Especial O Semeador, que nasceu inspirada pela necessidade de atendimento odontol?gico do Waldyr (veja reportagem na edi??o de fevereiro do Expositor). De consult?rio odontol?gico especializado para deficientes mentais, mantido pela Amas, acabou se transformando numa escola com ensino fundamental, religioso e profissionalizante, que hoje atende 80 alunos.
Anos antes, o Waldyr tamb?m foi o est?mulo para a cria??o da primeira Escola de Educa??o Especial do munic?pio de S?o Bernardo do Campo, S?o Paulo. Aos completar 7 anos de idade, ele j? n?o tinha vaga na pr?-escola, onde seu irm?o Pierre ainda estudava. A professora sugeriu: "Por que voc? n?o pede ? prefeitura que crie uma escola de educa??o especial?". Odete n?o pensou duas vezes, mas ouviu do ent?o prefeito uma resposta desanimadora: "Voc? quer eu crie uma escola apenas para seu filho?"Odete insistiu e fez-se um trato: se ela e a professora encontrassem pelo menos 15 portadores de necessidades especiais, a prefeitura forneceria sala e professor. Para isso, elas teriam um carro da prefeitura e apenas duas semanas para localizar os poss?veis alunos. O ponto de partida foram as pr?prias crian?as matriculadas nas escolas; elas foram incumbidas de observar se em seu pr?prio bairro n?o havia coleguinhas "diferentes", que estavam em casa sem estudar."Ap?s os 15 dias levamos ? prefeitura 144 nomes de pessoas devidamente cadastradas e visitadas". O prefeito convocou reuni?o da C?mara e autorizou a prefeitura de S?o Bernardo a criar a escola. Mais uma batalha estava ganha. "Deus agiu na minha vida de maneira especial. Ele tem mais confian?a no meu potencial do que eu mesma", brinca ela.
As lutas de dona Odete envolveram at? mesmo uma iniciativa empresarial. Durante alguns anos, ela contratou alunos da Escola O Semeador para a produ??o de bottons e prendedores de gravata com motivos evang?licos. Chegou a ter 18 funcion?rios, todos com algum tipo de comprometimento mental. Quest?es financeiras e administrativas a impediram de continuar oferecendo essa oportunidade de realiza??o pessoal aos alunos do Semeador e, hoje, sua empresa tem apenas dois funcion?rios na produ??o: Waldyr e Pierre. Trabalham na prensa fazendo prendedores de gravata, v?o ao banco e supermercado – e continuam convivendo com suas limita?es. A m?e n?o tem medo de que eles sofram algum acidente? Claro que tem. Mas o amor ? maior. "O nosso medo n?o pode impedi-los de ter uma vida completa", afirma.