Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

EECSN Uma mãe muito especial

Expositor Cristão Entrevista

A história de uma mãe muito especial

Neste mês em que comemoramos o Dia das Mães, é com gratidão a Deus que o Expositor publica o testemunho de Odete Fillietaz, fundadora da Escola Metodista de Educação Especial O Semeador: "quero contar sobre a alegria de ter dois filhos excepcionais".

É difícil ouvir a história de vida de Odete Fillietaz e não se sentir penalizado. Seu primeiro filho, Waldyr, nasceu com uma grave deficiência mental. Três anos depois nasceu o Pierre. Aos seis meses de vida, Pierre caiu do colo da mãe. Suspeita-se que esse acidente possa ter deixado as seqüelas que apareceriam somente após os 11 meses de idade: Pierre também receberia diagnóstico de deficiência mental.

Contudo, o sentimento de pesar desaparece quando você conversa com a dona Odete. Para ela, os filhos, hoje com 48 e 45 anos, sempre foram motivos de alegria em sua vida - e estímulo para ações que mudaram a vida de muita gente. Basta dizer que Odette Filiettaz é uma das fundadoras da Escola Metodista de Educação Especial O Semeador e, também, da primeira Escola Especial de Educação Infantil da cidade de São Bernardo do Campo."Eu gostaria de escrever um livro sobre a alegria de ter dois filhos excepcionais, do prazer que é vê-los desabrochar, de aprender quando parecia não haver possibilidade. Minha vida é feliz", diz ela.

Essa maneira de ver a vida com esperança e alegria tem ligação direta com um encontro de jovens ocorrido no feriado do carnaval de 1948: foi nessa data que Odete teve uma experiência pessoal de fé em Jesus. A fantasia de carnaval já estava pronta. Sua mãe havia se convertido dois anos antes e, com muito jeitinho, convidou a filha adolescente a acompanhá-la numa reunião da Sociedade de Mulheres da Igreja. Lá também estava acontecendo uma reunião de jovens que organizava o retiro a ser realizado na Faculdade de Teologia. Odete foi convidada para o encontro e, sem muito entusiasmo, aceitou. Ao término do feriado, a missão já contava com mais uma fiel participante. "Eu sempre digo que fui a este encontro saulina e voltei paulina".

Odette Fillietaz tem uma longa história de dedicação à Igreja. Em 1953, ela integrou a primeira turma do Instituto Metodista, que formava diaconisas (antes que a Igreja aceitasse o ministério pastoral feminino). Lá ela foi uma das coralistas sob a regência de Déa Affini Kerr, que descobriu em sua aluna uma excepcional voz de contralto. Terminado o curso no Instituto Metodista, Odete foi estudar na Escola de Música Sacra do Bennett, no Rio de Janeiro. "Embora minha família fosse muito pobre, eu sempre gostei de música lírica", diz ela. Na vida de Odette Fillietaz, a música tornou-se não apenas um dom a ser empregado na Igreja (ela foi a pianista de inúmeros cultos e casamentos) como uma forma de levantar recursos para a escola de educação especial O Semeador, por meio de concertos levados a vários teatros - além, é claro, de uma fonte de prazer e alegria.

Afinal, em sua vida de vários desafios, ela aprendeu a transformar as necessidades em oportunidades de crescimento. Assim foi com relação à Escola de Educação Especial O Semeador, que nasceu inspirada pela necessidade de atendimento odontológico do Waldyr (veja reportagem na edição de fevereiro do Expositor). De consultório odontológico especializado para deficientes mentais, mantido pela Amas, acabou se transformando numa escola com ensino fundamental, religioso e profissionalizante, que hoje atende 80 alunos.

Anos antes, o Waldyr também foi o estímulo para a criação da primeira Escola de Educação Especial do município de São Bernardo do Campo, São Paulo. Aos completar 7 anos de idade, ele já não tinha vaga na pré-escola, onde seu irmão Pierre ainda estudava. A professora sugeriu: "Por que você não pede à prefeitura que crie uma escola de educação especial?". Odete não pensou duas vezes, mas ouviu do então prefeito uma resposta desanimadora: "Você quer eu crie uma escola apenas para seu filho?"Odete insistiu e fez-se um trato: se ela e a professora encontrassem pelo menos 15 portadores de necessidades especiais, a prefeitura forneceria sala e professor. Para isso, elas teriam um carro da prefeitura e apenas duas semanas para localizar os possíveis alunos. O ponto de partida foram as próprias crianças matriculadas nas escolas; elas foram incumbidas de observar se em seu próprio bairro não havia coleguinhas "diferentes", que estavam em casa sem estudar."Após os 15 dias levamos à prefeitura 144 nomes de pessoas devidamente cadastradas e visitadas". O prefeito convocou reunião da Câmara e autorizou a prefeitura de São Bernardo a criar a escola. Mais uma batalha estava ganha. "Deus agiu na minha vida de maneira especial. Ele tem mais confiança no meu potencial do que eu mesma", brinca ela.

As lutas de dona Odete envolveram até mesmo uma iniciativa empresarial. Durante alguns anos, ela contratou alunos da Escola O Semeador para a produção de bottons e prendedores de gravata com motivos evangélicos. Chegou a ter 18 funcionários, todos com algum tipo de comprometimento mental. Questões financeiras e administrativas a impediram de continuar oferecendo essa oportunidade de realização pessoal aos alunos do Semeador e, hoje, sua empresa tem apenas dois funcionários na produção: Waldyr e Pierre. Trabalham na prensa fazendo prendedores de gravata, vão ao banco e supermercado - e continuam convivendo com suas limitações. A mãe não tem medo de que eles sofram algum acidente? Claro que tem. Mas o amor é maior. "O nosso medo não pode impedi-los de ter uma vida completa", afirma.


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