Entrevista Carlos Queiroz

 O testemunho de um pastor que foi acolhido pela Comunidade Metodista do Povo de Rua. Ele queria conhecer, na pr?tica, como ? a realidade dos desabrigados da cidade de S?o Paulo


O pastor Carlos Queiroz ? diretor executivo da Diaconia, uma organiza??o social sem fins lucrativos e de inspira??o crist? com sede em Recife, Pernambuco.






 


Ele foi um dos palestrantes da "Confer?ncia Mission?ria do Estado de S?o Paulo", evento realizado de 27 a 30 de maio no Museu da B?blia, em Barueri, S?o Paulo, com o tema "Lutando pela Igreja: Porque a Igreja tem que ser relevante". Bastante conhecido no meio evang?lico, escritor e professor de Realidade Brasileira no Semin?rio Teol?gico de Fortaleza, da Igreja Presbiteriana Independente, ele surpreendeu os (as) participantes da Confer?ncia, revelando que havia feito uma visita ? Comunidade Metodista do Povo de Rua na condi??o de um desabrigado.
Sem se identificar como pastor, ele entrou na fila de atendimento e pediu acolhida no albergue. Foi "morador de rua" por apenas dois dias, uma viv?ncia que marcou sua hist?ria e emocionou os participantes do evento. Ele conta ao Expositor por que tomou esta atitude e que o aprendeu da experi?ncia.


O que o levou ? Comunidade Metodista do Povo de Rua? A Diaconia far? alguma parceria com a institui??o?
Fui movido pelo tema da Confer?ncia Mission?ria do Estado de S?o Paulo (CMESP). Ariovaldo Ramos e os organizadores da Confer?ncia me convidaram para falar sobre "Uma Igreja Relevante para o Pobre". Achei que deveria conhecer melhor os pobres de S?o Paulo, a fim de comunicar algo que pudesse expressar melhor a realidade dos pobres em S?o Paulo. A partir dessa realidade cheguei ? Comunidade Metodista no viaduto do Pedroso. Sou o Diretor Executivo da Diaconia, e mesmo que nesta iniciativa eu n?o estivesse em nome da institui??o, n?o h? como dissociar uma coisa da outra. A Diaconia busca parcerias com pessoas e comunidades pobres com dificuldades semelhantes ?s pessoas vivendo em condi?es de rua. O campo de atua??o da Diaconia tem sido prioritariamente o Nordeste.


Por que voc? n?o se identificou como pastor logo na chegada ? institui??o? Como foi sua acolhida l?? 
Eu queria sentir como viviam as pessoas em condi?es de rua. Para o meu pr?prio bem, eu precisava ser acolhido como qualquer um deles. Fui muito bem atendido, como s?o todas as pessoas que se aproximam ali do Albergue. Este foi um dos aspectos que me sensibilizou profundamente. Era poss?vel perceber a afli??o das pessoas que trabalham no albergue, quando n?o podiam atender a todas as solicita?es. A necessidade ? bem maior do que a capacidade de atendimento. Fiquei um bom tempo de espera, mas isto era natural – diante da procura, o jeito era manter a paci?ncia e curtir boas amizades na "fila de espera".


O que mais o surpreendeu ou marcou neste curto per?odo de conviv?ncia com os moradores de rua de S?o Paulo?
A acolhida, a paci?ncia dos colaboradores. O meu encontro eventual, na fila de espera, com o Sr. Francisco Alves foi um encanto. Ele demonstrou uma permanente preocupa??o comigo. Ele n?o possu?a nada mais do que a roupa do corpo. Talvez por isto eu o percebi melhor, vestido de dignidade.  Conheci um outro amigo, o Ant?nio.  Ele me contou sobre toda a sua vida e a forma como tudo mudou pra ele depois que entrou "nesta casa de tanta miseric?rdia". Na linguagem dele, uma arca no meio da tempestade de sua vida. Com a diferen?a que a arca em refer?ncia possu?a portas abertas. Fiquei tamb?m surpreso com tanta gente vivendo nas ruas por n?o terem op??o de uma moradia digna. Homens trabalhadores dormindo no relento por falta de um lugar aonde se possa dormir com seguran?a e dignidade. Encontrei uma senhora de 33 anos. Ela me confessou que nas ruas de S?o Paulo se sentia mais segura do que com o seu marido violento dentro de casa. Fui surpreendido por um amor maior pela cidade de S?o Paulo. Para minha surpresa, os que vinham de outras cidades me confessaram que em S?o Paulo se sentiam mais seguras e mais protegidas.


Qual a relev?ncia de um projeto desta natureza e, em sua opini?o, por que h? poucas iniciativas como essa?
Primeiro ? um testemunho de que ainda ? poss?vel se viver intensamente o projeto de seguir a Jesus Cristo. Depois os seres humanos precisam de um tratamento que lhes resgate a dignidade. Este projeto devolve a chance das pessoas perceberem a dignidade que somente cada ser humano pode arrancar de dentro de si mesmo. Acredito que h? poucas iniciativas porque custa sacrif?cio, muita doa??o e amor. Poucas pessoas est?o comprometidas em pagar por este sacrif?cio.
Pela manh? vi dois homens ainda jovens brigando por causa de uma cal?a. As vozes come?avam a se alterar. A menina do atendimento, no plant?o daquela manh?, aproximou-se com um olhar firme e uma voz expressando ternura, e disse para um deles: "N?o fale desse jeito, voc? pode perder sua raz?o". O outro continuou alterado, ela usou a mesma frase, dirigindo-se ao segundo cidad?o. N?o parecia uma t?cnica previamente elaborada. Fiquei impressionado como a atitude daquela jovem senhora mudou o entrevero num di?logo conciliador. Na minha interpreta??o achei que "raz?o" ou "direito" ? uma propriedade inerente aos seres humanos; e, de tal forma impregnada nas entranhas, que mesmo pessoas em condi?es de rua exigem respeito e direitos.  


 O que a Igreja em S?o Paulo poderia fazer por estas pessoas?
Meu tempo na condi??o de habitante das ruas foi muito curto – dois dias e meio. Minha maior necessidade, e da maioria das pessoas que conheci, era apenas de um lugar para dormir – nada mais. Acho que os templos, chamados de casa de Deus, deveriam ter suas portas abertas para os filhos e filhas de Deus. Se os n?meros est?o corretos, s?o mais de 15.000 pessoas vivendo em condi?es de rua em S?o Paulo. Como ouvi de uma jovem senhora: "Estou vivendo nesta situa??o pela primeira vez na vida, j? tem dois meses. Espero n?o me tornar uma viciada pela rua – a rua vicia a gente".

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