
Uma conversa com a indigenista e mission?ria Marly Schiavini de Castro,(da REMNE) presidente do GTME, Grupo de Trabalho Mission?rio Evang?lico
Quando voc? come?ou a trabalhar junto aos povos ind?genas?
Minha atua??o junto aos povos ind?genas come?ou a partir do contato com um grupo de solidariedade da Igreja Metodista
Como era a atua??o deste grupo?
Pelo in?cio da d?cada de 90, o trabalho baseava-se no apoio ? luta pela terra. Em 1997, depois de duas d?cadas de demanda judicial, a terra foi retomada e o grupo aos poucos se dispersou.
Qual ? a sua forma??o?
Sou professora e indigenista. Eu trabalhava em escola p?blica em Minas Gerais e, a partir de 1988, minha caminhada indigenista seguiu paralela.
A forma??o inicial em indigenismo eu obtive, por interm?dio da Igreja, pela Opera??o Amaz?nia Nativa-OPAN- entidade que trabalha em parceria com o GTME, Grupo de Trabalho Mission?rio Evang?lico. Boa vontade s? n?o basta. A gente tem que procurar conhecer bem o que quer fazer para a concretiza??o desse ideal. No curso da OPAN eu tive uma forma??o mais antropol?gica, necess?ria ao trabalho com ind?genas. Depois, fiz um curso no GTME, que inclu?a tamb?m missiologia, complementando a forma??o da OPAN. Aprendemos a fazer miss?o a servi?o e n?o apenas miss?o proselitista.
E como ? poss?vel fazer miss?o sem cair no proselitismo?
Colocando-se a servi?o e atendendo ?s demandas e ?s prioridades da popula??o assistida. As igrejas devem procurar meios de atender a essas necessidades.
E onde voc? est? atuando no momento?
Junto ao povo Trememb?, de Almofala, na costa norte do Cear?. Trabalho l? desde 2003. ? um grupo formado de cerca de 4.000 pessoas. Eles est?o pr?ximos ? cidade e perderam sua l?ngua original ap?s o longo tempo de contato com a popula??o branca. O tempo de contato dos povos ind?genas do nordeste ? o mais longo, pois foi no litoral nordestino que chegaram os primeiros colonizadores portugueses. Desde esses primeiros tempos eles sofrem os efeitos desse contato, mas conseguiram preservar alguns express?es culturais, como o tor?m, uma dan?a ritual coletiva, ligada ao contato com for?as da natureza e as interven?es do paj?.
O paj? n?o ? uma esp?cie de sacerdote da tribo? N?o existe nenhum conflito na rela??o dele com a Igreja?
O paj? n?o ? um sacerdote, ele n?o tem essa fun??o. Ele e o cacique s?o vistos na tribo como pessoas que t?m uma maior capacidade de servi?o ? comunidade. Nesse aspecto, sua fun??o se assemelha ? do pastor, o que acaba sendo um elo de liga??o com a comunidade, pois o pastor tamb?m ? um servidor. A Igreja tamb?m est? presente para prestar servi?o. Paj? e cacique s?o pontos de contato com a Igreja.
E qual ? a principal necessidade pela qual a Igreja trabalha a servi?o do povo trememb??
No momento a principal demanda ? a reconquista da terra. Os Trememb? t?m direito a uma ?rea de
Qual tem sido o papel da Igreja no sentido de atender a essa demanda?
A Igreja refor?a a educa??o, o que ? essencial para a causa ind?gena. Atua na forma??o de professores e d? assessoria a escolas. Eu dou aulas de inform?tica para professores e alunos do ensino m?dio numa das escolas que atendem ? comunidade. A Igreja tamb?m realiza a?es junto ao poder p?blico, apoiando os ind?genas; e presta assessoria em gest?o de projetos de gera??o de renda e seguran?a alimentar do Minist?rio do Meio Ambiente, assessorando na gest?o de projetos de pesca, agricultura, produ??o de ovos, artesanato… Um dos projetos que me toca mais ? a casa comunit?ria de farinha. Antes, os Trememb? tinham que pagar ao posseiro para usar a casa de farinha (local onde produzem farinha de mandioca e goma). Agora, eles t?m sua casa de farinha.
E qual tem sido a recep??o deste trabalho realizado pela Igreja?
Bastante positiva. O projeto junto aos Trememb? existe desde 1997. Temos grande confiabilidade junto a eles e a outras popula?es ind?genas. Eles se sentem seguros pois sabem que nosso objetivo ? desenvolver a?es solid?rias, n?o se tenta for?ar uma ades?o. Nossa compreens?o ? de que caminhando junto ? que se d? a conhecer a vis?o crist?. Gosto do pensar no texto de Ema?s. Jesus n?o disse aos disc?pulos quem era: ele caminhou lado a lado e se deu a conhecer na partilha do p?o.
Como voc? concilia este trabalho com sua vida familiar?
N?o ? f?cil. Deixei um filho em Bras?lia e duas filhas no Esp?rito Santo, todos adultos. A ca?ula tem 24 anos. Tenho ainda dois netos e uma vez ou duas por ano a fam?lia se re?ne. No restante do tempo, falamos muito por telefone, Internet. ?s vezes meus irm?os me visitam. Mas sempre acreditei que por onde a gente passa vai constituindo diferentes fam?lias. Hoje, os Trememb? s?o minha fam?lia no Cear?, e meus interlocutores. Fui para a ?rea Trememb? disposta a passar seis meses. No final do terceiro m?s resolvi n?o ir embora. O povo Trememb? ? muito amoroso, afetivo. ? a fam?lia que qualquer um gostaria de ter. ( Como todos os povos ind?genas) eles t?m um cuidado especial com a crian?a e o idoso. Voc? n?o v? crian?a sofrendo viol?ncia, elas s?o prioridade. E os idosos s?o respeitad?ssimos. Numa reuni?o da comunidade eles s?o sempre os ?ltimos a falar. E ningu?m contesta a decis?o deles.
Qual foi o seu maior aprendizado neste tempo de conviv?ncia com os Trememb??
O respeito ao ser humano, ? natureza e a maneira de viver comunitariamente. Eu sempre tive poucos bens materiais na minha vida. Mas, quando cheguei na ?rea Trememb? descobri que mesmo aquele pouco que eu tinha ainda era muito dispens?vel. Eu n?o precisava de tudo aquilo. Para ser feliz( e forte) basta estar em paz, consigo mesma, com as pessoas e, consequentemente, com Deus.
O que a Igreja pode fazer para colaborar com a miss?o entre os ind?genas?
A ora??o ? uma for?a poderosa. Ore pelo trabalho e procure conhecer melhor a causa ind?gena, para defend?-la onde voc? estiver. Se quiser, entre em contato comigo pelo e-mail marlyscastro@yahoo.com.br. O GTME tamb?m oferece Encontros de Inicia??o ? Quest?o Ind?gena, para os quais enviamos um palestrante especializado e material de divulga??o. O contato pode ser feito pelo telefone (65) 3025-4419 ou e-mail gtme@terra.com.br.
Suzel Tunes
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