Voc? pertence ? Igreja Metodista h? quanto tempo?
Nasci num lar metodista, na cidade de Ourinhos, na Vila Margarida, em 1942.
Sempre se envolveu com m?sica na Igreja? Na Escola Dominical sempre cantei em dueto com minha irm? Gilda. Em 1958, j? na Igreja Metodista da Luz, recebi as primeiras no?es musicais com o pianista Orlando Dinelli. A partir de ent?o, j? integrante do Coral da Luz, passei a atuar em quartetos ecomo solista, n?o somente na Igreja, mas tamb?m em casamentos e eventos, nas mais variadas denomina?es.
Na realidade, fui envolvido pela m?sica, pois meus pais, Benedito e Maria Jos? da Rocha (baixo profundo e contralto) sempre cantaram no coral da igreja.
Num desses eventos, fui convidado pelo pastor Rubens de Souza, a participar do Conjunto Masculino Wesleiano, no seu segundo ano de exist?ncia, j? sob reg?ncia do Dr. Roberto Machado, na Igreja Metodista no Ipiranga, onde permane?o at? hoje.
R?dio USP:, foto C. Bastos
Em 1961, j? servindo o Ex?rcito, juntamente com outros dois colegas evang?licos, formamos um trio, que sa?a fardado, cantando em v?rias igrejas. N?s, jovens, ach?vamos que pod?amos testemunhar que, embora soldados (que tinham m? fama de comportamento), pod?amos dar testemunho, cantando fardados.
Eram os tempos dos inesquec?veis acampamentos e congressos, das federa?es de jovens e juvenis, onde se cantava muito.
Como voc? iniciou sua carreira profissional?
Em 1965, inspirado nos programas radiof?nicos, procurei a R?dio Cometa (primeira emissora evang?lica de S?o Paulo, idealizada pelo tamb?m metodista Dr.Joel Jorge de Melo), tentando conseguir um hor?rio para um programa. O ent?o diretor, Domingos de Lello, me convidou para trabalhar como locutor. Ent?o, em 1967, iniciei meu minist?rio "radiof?nico" na apresenta??o do programa "T?xi M?sica e Not?cia" (substituindo o seresteiro Francisco Petr?nio) e ao mesmo tempo realizando meu sonho, criando uma s?rie de programas musicais sacros, tais como "Alvorada com Deus"e "Suave Promessa"(este,com o nosso QuartetoSinai), l? ficando por cinco anos. Prossegui meu aprendizado em muitas outras emissoras de R?dio e TV exercendo as mais variadas fun?es: tais como rep?rter, noticiarista, produtor, coordenador,apresentador, redator etc.
H? quantos anos voc? apresenta o programa "O samba pede passagem", seu trabalho mais conhecido?
Em 1978, fui convidado para exercer minhas fun?es na rec?m inaugurada USP FM 93,7 Mhz, na Cidade Universit?ria, para fazer a programa??o musical. Passei ent?o a apresentar tamb?m v?rios programas de MPB (sertanejo, sambas can?es, instrumental e o de samba). Na realidade a USP FM foi a primeira R?dio FM a apresentar m?sica sertaneja, nordestina e samba no Brasil.
? voc? que escolhe toda a programa??o? Como ? feita essa escolha?
Eu s? aceito trabalhar em uma emissora onde eu tenha plena autonomia na escolha das m?sicas que vou apresentar.A primeira preocupa??o que o programador deve ter ? n?o fazer uma sele??o atendendo somente o seu gosto pessoal. ? aliar a qualidade de letras e m?sicas, de prefer?ncia que n?o contenham duplo sentido, palavr?es e, sempre que poss?vel, procurar m?sicas que al?m de propiciar um conforto, ainda contenham alguma mensagem de otimismo, de valoriza??o pessoal, de auto-estima. Isso acontece tanto nos programas na R?dio USP FM 93, 7Mhz, como na R?dio Capital AM 1040Kz.
Hoje j? se encontram ritmos brasileiros em c?nticos da Igreja, mas nem sempre foi assim; samba era m?sica "do mundo"… Em algum momento voc? sentiu alguma rejei??o ao seu trabalho por parte da Igreja?
Bem, aprendi desde crian?a a conviver com o preconceito, social e racial. Ent?o, saber que haviam considerado a minha carreira no r?dio e TV como abandono da Igreja para ingressar no mundo do pecado realmente n?o me surpreendeu. Quantos membros n?o foram exclu?dos por denomina?es que hoje mant?m redes de comunica??o!Se as ing?nuas brincadeiras de roda trazidas pelos mission?rios americanos j? n?o eram toleradas em algumas igrejas locais, imagine voc? apresentando shows de m?sica popular!
Convivendo no meio art?stico, como eu fiz, tanto no r?dio, TV ou teatro, voc? encontra muita gente, como eu, formada na Escola Dominical e na Igreja e rejeitada por ela. Em que Igreja o jovem pode exercer hoje o seu talento art?stico? A maioria das nossas Igrejas abandonou a forma??o dos coros, praticamente baniu o teatro, a poesia e outras manifesta?es art?sticas. Onde est?o as nossas festas l?tero-musicais?
Se no passado muitos m?sicos da Igreja foram para a m?dia, hojeparece que ? a m?dia que est? entrando nas igrejas, por meio da cultura gospel. Como voc? avalia a atual cultura gospel: o que ganhamos e o que perdemos?
Essa cultura gospel de fato, invadiu a Igreja. Acaba sendo o outrora caminho largo para conduzir os "pecadores" ? salva??o. Qualquer ritmo brasileiro, desde que trabalhado e exercido com aprimoramento, com equil?brio, ter? sempre o mesmo valor que um tradicional. Agora, se voc? pegar um dos nossos belos hinos, at? aqueles cl?ssicos dos grandes mestres e for interpretado por um coral desafinado, mal preparado, provocar? o mesmo efeito que um gospel atual, tocado por guitarras e baterias ensurdecedoras: a fuga de qualquer crist?o com o m?nimo de sensibilidade. Vai provocar o mesmo efeito de certos ritmos predominantes nos meios de comunica??o (R?dio e TV) que s? visam o consumo, com o merchandising disputando e vencendo o show televisivo. O fato de meu irm?o pensar diferente, ter outro gosto musical, n?o o torna meu inimigo. Isso n?o impede que nossa hinologia seja preservada e que o espa?o na liturgia seja distribu?do harmoniosamente pelo dirigente para a prega??o da palavra.
E o trabalho com o coral Resist?ncia de Negros Evang?licos? Como surgiu esse coral e qual ? o seu perfil ?
Esse coral foi idealizado pela solista Nilc?ia Netto, no ano de 1988 para a participa??o num ato c?vico religioso, na Igreja Metodista em Vila Mariana, por ocasi?o da data oficial da liberta??o dos escravos no Brasil. Convidado para sua reg?ncia, senti que a data exigia tamb?m uma reflex?o sobre a situa??o do negro na atualidade e os efeitos da Lei ?urea. Com os depoimentos dos participantes, encontramos in?meras incompatibilidades entre a hist?ria oficial e o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo dentro de nossas Igrejas.Ap?s o evento, os cerca de quarenta componentes de v?rias denomina?es, resolveram continuar as atividades.Com o apoio do Rev. Antonio Olimpio de Santana, que atuava no Cenacora, Comiss?o Ecum?nica Nacional de Combate ao Racismo, seguimos cantando negro spirituals, hinos tradicionais, folclore e m?sica popular nos mais variados eventos, em palestras e encontros inter-religiosos, onde quer que pud?ssemos levar a palavra de salva??o, na esperan?a de construir uma sociedade mais justa e fraterna para todas as pessoas.