Dia Internacional do Meio Ambiente – 5 de Junho
O que o meio ambiente tem a ver com a Igreja? Nada! Igreja tem a ver com estudo da B?blia, com a??o mission?ria, salva??o das almas, etc… S?o tantos os problemas importantes da Igreja: evangeliza??o, crescimento, reformas, culto… Afinal, por que perdermos tempo com isso? Se voc? est? lendo este artigo ? porque talvez n?o concorde com o par?grafo acima.
Se estou correto, voc? tamb?m deve saber que muita gente concorda! Na verdade, creio que quase unanimemente a a??o (ou falta de a??o) da Igreja tamb?m concorda com isso. De onde viria tamanho desleixo com a a??o ecol?gica?
Estou certo de que, em grande parte, ela nasce de limites na maneira como compreendemos o Evangelho e o pr?prio meio ambiente.
Mas, que limites seriam estes?
Almas ou vidas?
Os mission?rios e mission?rias estadunidenses desembarcaram no Brasil pregando a salva??o das almas. Da?, muito de nossa a??o mission?ria baseia-se na exig?ncia da "salva??o das almas". Mas, o que seria exatamente salvar almas?
A palavra alma, que usamos em nossas igrejas ? tradu??o da palavra soul, do ingl?s. Um exemplo dado pelo professor Cl?udio Ribeiro na confer?ncia: "Gra?a e Salva??o na Teologia Wesleyana", proferida na 55?. Semana Wesleyana da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, ajuda-nos a compreendermos um pouco da quest?o: Dois n?ufragos est?o numa ilha deserta. Uma de suas primeiras atitudes ? a de escrever "gigantemente" um SOS. SOS sin?nimo de "SOCORRO". Mas, na origem, SOS ? a sigla de "save our souls".
A? que est? o problema: Ser? que os n?ufragos, acostumados com abridores de lata e microondas, nesse momento limite de sua exist?ncia clamariam para que algum helic?ptero salvasse suas almas? Estariam eles com medo da perdi??o eterna, sinalizando para, caso algum pastor protestante passasse por ali, pudesse fazer uma ora??o por eles? ? claro que n?o! SOS, em portugu?s seria: "Salve nossas vidas!".
O professor Cl?udio Ribeiro alerta: "A tradu??o para o portugu?s da palavra soul mant?m, mas tamb?m elimina aspectos salv?ficos significantes: Ela mant?m o aspecto transcendente da salva??o, (mas) ela n?o expressa o aspecto cotidiano da salva??o".
Mas o problema ? ainda mais fundo. Quase todas as vezes que encontramos a palavra alma no Antigo Testamento ela ? tradu??o de nepex ou, popularmente nefesh. O professor T?rcio Siqueira explica: "essa tradu??o ?, no m?nimo, infeliz, porque a palavra nepex possui v?rios sentidos: garganta, pesco?o, desejo, vida, pessoa e sede das impress?es ps?quicas e dos estados de esp?rito. Portanto, segundo a B?blia, a palavra nepex n?o ? uma parte do ser humano paralela ao corpo mortal. A defini??o de alma como um princ?pio espiritual distinto do corpo n?o ? b?blico, mas faz parte da filosofia grega, a partir de Plat?o". No Novo Testamento o problema se repete, psyche, ? traduzido por alma, sendo que o sentido da palavra ? vida!!!
Cl?udio Ribeiro apresenta uma reflex?o preponderante nesse sentido: "A teologia wesleyana corrige, ao menos, duas compreens?es equivocadas sobre a salva??o, bastante correntes no interior das igrejas, ambas sem base b?blica de sustenta??o. A primeira ? a concep??o mera e excessivamente individualista da salva??o. A segunda ? que a salva??o ? exclusivamente para um outro mundo. A compreens?o wesleyana em conson?ncia com os escritos b?blicos, n?o se refere ? salva??o individual, mas sim ?s dimens?es pessoal, social e c?smica da salva??o."
Eis a? uma das amplia?es do conceito mission?rio da Igreja que deve nos levar ? a??o ecol?gica: salvar vidas ?, por excel?ncia, a miss?o da Igreja, n?o apenas no sentido pessoal, mas social e c?smico. Salvar a vida do planeta ? tamb?m salvar a nossa vida. E isso possui um impacto no nosso cotidiano.
A ecologia e os animaizinhos da floresta.
Chegou o Dia do Meio Ambiente. Nossas crian?as sair?o das escolas com m?scaras de on?a, macaquinho e lobo-guar?. Eis outro a? outro problema: relacionamos diretamente meio-ambiente ?s florestas, ? fauna e ? flora.
? ?bvio que a a??o ecol?gica inclui os animais e ecossistemas em extin??o. Mas para n?s, que vivemos na cidade ou no campo, distantes da floresta, o meio ambiente est? relacionado intimamente com nosso modo de vida e o seu impacto ecol?gico. Em outras palavras: discutir meio ambiente na igreja local ?, fundamentalmente, discutir nosso modo de consumo e o seu impacto ambiental.
A ecologia e o ibope
Mas ? claro que o problema da miss?o na igreja n?o passa apenas por pressupostos teol?gicos ou comportamentais. A realidade tamb?m ? que, cuidar do meio ambiente n?o d? tanto ibope ou dinheiro ?s nossas igrejas.
Notamos hoje uma a??o utilitarista da f?, uma verdadeira competi??o comercial. Tudo o que n?o contribua para encher igrejas representa, nesta l?gica, algo sup?rfluo. Enquanto n?o superarmos a esta no??o comercial, tamb?m n?o dispensaremos energia nos pressupostos fundamentais do evangelho.
Caminhos a serem trilhados
Conceitos e prioridades precisam ser revistos. Apresentei aqui um pequeno peda?o da ponta do iceberg. Urge uma mudan?a de nossas mentes e cora?es. Num mundo onde a vida ? cada vez mais escassa, o metodismo deve unir-se ?s vozes prof?ticas da sociedade, afinal, se continuarmos preocupados apenas com pseudo-almas, bichinhos e ibope, n?o apenas viveremos uma miss?o fragmentada como corremos o risco de trairmos o Evangelho a que fomos chamados.
Rev. Pedro Nolasco Camargo Toso
pastor da Igreja Metodista em Jundia?, 3? RE
