Publicado por Marcelo Ramiro em Expositor Cristão, Destaques Nacionais, Mulheres, Geral - 19/03/2015
Expositor Cristão: Qual o lugar de homens e mulheres na Igreja?
É menino, é menina! O resultado no ultrassom é a entrada para o mundo, a partir daí roupas rosas e azuis dominam o enxoval e os carrinhos e bonecas, os quartos. Mais tarde, a criançada entra na brincadeira meninos X meninas. A brincadeira passa e a coisa fica séria, se fortalecem a competição e as relações desiguais entre homens e mulheres... Até quando?
Maria escolheu a melhor parte
Jesus acabara de chegar e merecia a melhor acolhida. Marta, conhecedora de seu lugar e função, sem pestanejar começa a trabalhar. Cozinhar aqui, varrer ali, limpar acolá e a casa foi acolhendo quem ali chegava. Maria, conhecedora do seu lugar e função, talvez pestanejando, foi em busca de outro espaço: sentou-se aos pés de Jesus, posição característica de um/a discípulo/a. Em um tempo onde o pensamento dominante era: “aquele que ensina a lei à sua filha, ensina-lhe a devassidão e que é preferível queimar a Torá que ensiná-la às mulheres”, Maria afirmou que desejava e podia ocupar outro espaço naquele cenário.
Marta foi ensinada a estar, especificamente, num lugar. A possibilidade de mudança, pode tê-la assustado. Além disso, ao sentir-se sozinha no trabalho, precisava de ajuda, mas entre Lázaro e Maria, ela havia aprendido que só tinha uma pessoa a chamar: Maria. Para isso, Marta quer o apoio de Jesus. Diferente do que ela e outras pessoas esperavam, Ele legitima o lugar que Maria escolheu e chama Marta para ocupar o mesmo espaço, que até então era destinado aos homens.
Marta, Maria e Jesus viviam uma cultura patriarcal, que instituiu o poder para os homens e a servil obediência para as mulheres, é nesse contexto que interagem e transformam suas relações. Nós vivemos em uma cultura patriarcal, que nem de longe é a da época de Jesus, mas o domínio patriarcal ainda existe e dá muitos subsídios para que o machismo permaneça. Isso fica tão naturalizado que não nos damos conta das desigualdades, achamos que é normal porque sempre foi assim. O alto índice de violência contra as mulheres, o fato delas receberem um salário menor que o dos homens, o choro negado aos homens, o peso de ter que defender a honra masculina a qualquer custo, a baixa representatividade de mulheres em cargos de poder, são indícios de tal cultura, mas não pára aí.
O domínio patriarcal também está nas estruturas eclesiásticas, muitas delas sequer concebem a ordenação de mulheres, mas as que concebem ainda têm os espaços de poder majoritariamente ocupados por homens. Assim como na casa de Marta, em muitas igrejas mulheres e homens têm funções e lugares bem definidos. Quem geralmente trabalha no ministério infantil? Nas cozinhas? Na coordenação da administração e das obras? Ainda que seja comum, isso não é totalitário. Essa divisão era bem mais forte na época dos meus avós. Muita coisa mudou! Mas ainda há muito a fazer! Ainda hoje, há quem ache que lugar de mulher é na cozinha da igreja e que a sociedade de mulheres está lá para cozinhar.
Pastoras que têm a autoridade e competência questionadas por serem mulheres, pastores mal interpretados quando possibilitam que mulheres assumam áreas historicamente destinadas aos homens, pessoas que olham de forma preconceituosa para mulheres separadas e homens solteiros, ainda revelam o quanto a cultura patriarcal rege ações e opiniões. Até quando?
Nem de longe tenho a intenção de colaborar com a brincadeira de meninos contra meninas. Escrevo porque acredito que a melhor opção é viver aos pés de Jesus, mas não nego que é também a mais arriscada. Discípulas e discípulos precisam optar por estar aos pés de Jesus e assumir a responsabilidade de conduzir outras pessoas a esse espaço; precisam ter coragem de se levantar e assumir responsabilidades domésticas para que as mulheres exerçam seu direito ao discipulado nas mesmas condições que os homens; precisam abrir mão de conhecimentos que oprimem em função da Verdade que liberta. Fica a nós o desafio de acolher as palavras de Jesus, sentarmo-nos aos Seus pés, nos educarmos como Igreja para assegurar relações mais justas e igualitárias entre homens e mulheres. Todas as pessoas são bem-vindas aos pés de Jesus para aprender Dele e agir como Ele.
A marca da cultura patriarcal é a pirâmide, já a do Reino de Deus é a mesa: o lugar onde Ele escolheu para nos servir, onde nossos olhos se abrem e onde já não há maiores ou menores, primeiras ou últimas. Para que a sociedade se transforme, temos que começar em nossa casa. É preciso assegurar outros papeis a homens e mulheres para que as crianças nunca mais saibam que as pessoas estiveram/estão em condições desiguais por terem órgãos genitais diferentes.
Pra. Andreia Fernandes
Coordenadora Departamento Nacional de Escola Dominical
Tags: Expositor Cristão, Mulheres, Desigualdade, Igreja Metodista
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