Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Francisco Solano

Centenário do nascimento de Solano Trindade

 

   Nascido em 24 de julho de 1908, em Recife, filho de Manoel Abílio Trindade, sapateiro, e Merenciana de Jesus, doceira, o negro presbiteriano Francisco Solano Trindade foi poeta, cineasta, pintor, homem de teatro e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo. Para vários críticos, foi o criador da poesia "assumidamente negra" no Brasil. As comemorações pelo centenário de Solano Trindade concentram-se nas três cidades em que ele viveu mais tempo.

 No Recife, onde fundou, em 1936, o Centro Cultural Afro-Brasileiro e a Frente Negra Pernambucana. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde sofreu perseguições, prisões e apreensão de livros durante o governo Dutra. E em Embu, município de São Paulo, que ele ajudou a batizar como Embu das Artes, onde fica a sede do Teatro Popular Solano Trindade, comandado por sua filha e herdeira artística Raquel Trindade.

Solano Trindade foi um dos fundadores do que mais tarde se conheceria como movimento negro. Reconhecia a necessidade do negro brasileiro assumir orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação, achava que isso deveria ser feito valorizando a cultura popular brasileira de matriz negra, sem excluir os brancos. Por isso fundou o Teatro Popular Brasileiro. O sucesso do Teatro Popular foi tão grande que era convocado a realizar espetáculos especiais para todas as companhias estrangeiras que passavam por aqui. Solano desenvolveu também carreira de ator, participou de peças teatrais e vários filmes.

No final da década de 1920, Solano Trindade torna-se protestante, onde conheceu Maria Margarida Trindade, que era presbiteriana. Do seu casamento com Maria Margarida nasceram seis filhos, dois mortos prematuramente e um assassinado pela ditadura militar após o golpe de 1964. Solano teve uma ação importante na igreja, chegou a ser diácono da Igreja Presbiteriana, fazia poemas e citava trechos bíblicos com facilidade, voltado principalmente para o Gólgota e os apóstolos Pedro, Tiago e João evangelista. Foi ali que ele começou o legado da sua vida, seus poemas foram publicados na revista protestante do Colégio XV de Novembro, de Garanhuns, e em jornais do Recife. Só depois dessa fase começaria a nascer a sua poesia negra.

Decepcionado com o distanciamento do protestantismo com as questões sociais, incluindo a discriminação contra os negros, ele deixa a igreja, justificando sua saída com um versículo da própria Bíblia: "Se não amas a teu irmão, a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?"

Em 2008, ano do centenário do nascimento do "poeta negro" o "poeta do povo", é hora da Igreja Protestante Brasileira resgatar sua memória, dando o reconhecimento a Solano Trindade e muitos outros negros e negras, que contribuíram e contribuem para o reino de Deus aqui na terra.


Por Hernani Francisco da Silva (Grupo Gestor Afrokut, Rede de Negros e Negras Cristãos do Brasil)


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