Freud, moda de viola e Deus: anota?es sobre a brasilidade…
Luiz Longuini Neto
Minha esposa amanheceu com o joelho doendo. Estava inchado. Fomos ao m?dico. Levei um excelente livro que estou lendo, "A vida e a obra de Sigmund Freud", de Ernest Jones. Enquanto est?vamos na sala de espera, a televis?o mostrava no programa de Ana Maria Braga uma entrevista com a dupla sertaneja C?sar Menotti e Fabiano. Sala pequena, v?rias pessoas, a concentra??o para a leitura estava dif?cil, mas insisti. O som alto me fazia prestar aten??o na entrevista. A dupla ? fruto dessa coisa que resolvemos chamar de p?s-moderno. Isso que est? por tudo, em todos os lugares, em todas as institui?es. Essa coisa que se diz nova, mas que na realidade ? um oceano de mediocridade que se instalou na televis?o, no teatro, na m?sica, nas escolas, faculdades e curso de p?s-gradua??o. Assim como existem duplas sertanejas novas, existem tamb?m igrejas novas. Entre elas n?o h? diferen?a alguma — s?o produtos de um lixo cultural que colocou o ser humano n?o como produto final de uma racionalidade consciente, mas como apenas um produto que consome cultura e religi?o da mesma maneira que consome pizza.
A entrevista arrastava-se com os cantores afirmando serem caipiras e a apresentadora tamb?m dizendo ser caipira. Como se isso pudesse ser algo produzido ou comprado. Como afirma Almir Sater, "caipira ? um estado de esp?rito". E eu, caipira leg?timo, ouvindo aquelas besteiras todas. A dupla afirmando cantar "music?o" novo, mas com ra?zes em Torres e Flor?ncio, Tonico e Tinoco. Heresia da mais brava. Assim tamb?m procedem essas novas igrejas ao afirmarem que est?o vinculadas ?s ra?zes b?blicas. Que tamb?m s?o caipiras. Mentira. Essas novas igrejas promovem uma trai??o ? B?blia e negam completamente as origens do cristianismo, que tinha na barca pobre de Pedro e na cruz do Ressurreto seus maiores exemplos. Entre essas duplas novas que se fazem de caipiras e esse padres, pastores, bispos e cantores gospel, n?o h? diferen?a alguma. Tudo ? lixo cultural, e, se for evang?lico, de pior qualidade.
Eu permanecia, entre uma fala e outra, tentando entender o complexo de ?dipo e as nuances sexuais da vida de Freud, confortar a esposa com dor e desejando exterminar o programa e a dupla. Lembrei-me ent?o de outro mestre, Roberto da Matta, muito lido nos cursos de antropologia, e pensei que isso tudo tamb?m ? Brasil e isso tudo tamb?m ? religi?o. Freud tamb?m nos ajuda bastante nessa an?lise. O que somos n?s? Somos tudo isso. O lixo e a beleza humana. Deus ama o lixo que somos e nos salva em Jesus Cristo. Da Matta trabalha muito com o conceito de dualidade. O Brasil ? como uma moeda de duas faces. Somos esses seres complexos e n?o podemos jogar fora nenhuma parte de n?s. O curso de psican?lise est? me ajudando a ser mais feliz. Mesmo numa sala de espera apertada. O desafio ? justamente conviver com essa coisa nova que nomeei como um monte de mediocridade. N?s tamb?m somos assim, med?ocres ?s vezes. A entrevista estava chegando ao fim. A dupla estava lan?ando um DVD e a m?sica principal, agora entoada por eles era: "Segura na m?o de Deus e vai". ?, realmente estamos na p?s-modernidade. S? nos resta segurar na m?o de Deus e ir. Vamos n?o sei para onde. Talvez para o alto-mar. Mas vamos.
• Luiz Longuini Neto ? doutor em teologia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, e autor de O Novo Rosto da Miss?o — os movimentos ecum?nico e evangelical no protestantismo latino-americano (Editora Ultimato).
Fonte: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_conteudo&util=1&categoria=3®istro=1020
Da “mediunidade” protestante
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Robinson Cavalcanti Fonte; http://www.ultimato.com.br/?g=show_conteudo&util=1&categoria=3®istro=1018 |