joão batista javé

 


Texto: Salmo 14


v. 1 Diz o insensato em seu cora??o:


"N?o h? ?Eloh?m".


Eles provocam ru?na, cometem atos abomin?veis.


N?o h? um que fa?a o bem.


v. 2 Jav? olha dos c?us


para os homens,


para ver se h? algu?m perspicaz


que busque a ?Eloh?m:


v. 3 Cada um ? extraviado,


est?o todos corrompidos.


N?o h? um que fa?a o bem,


n?o h? um ?nico.


v. 4 Acaso n?o t?m conhecimento, todos os malvados,


que devorando meu povo comem seu p?o?


Eles n?o invocam Jav?.


v. 5 L? – foram tomados por pavor,


pois ?Eloh?m est? na gera??o do justo.


v. 6 Plano do oprimido v?s quereis arruinar,


mas Jav? ? seu ref?gio.


v. 7 Quem traz de Si?o a salva??o para Israel?


Quando Jav? muda o destino de seu povo,


Jac? exulta, Israel se alegra.


 


      A matriz do Salmo 14 ? de gente que vive em ambiente de exclus?o em sua pr?pria terra, ? ex?lio interno. Posteriormente as comunidades religiosas do juda?smo antigo (s?culos VI-V a.C.) contextualizaram o salmo com a sua situa??o vital, acrescentando o v. 7 e iniciando-o com uma frase interrogativa sintom?tica do anseio pelo retorno da Babil?nia (m? = quem):


v. 7: Quem traz de Si?o a salva??o para Israel?


Quando Jav? muda o destino de seu povo,


Jac? exulta, Israel se alegra.


      Mesmo realizando a tradu??o literal a partir da B?blia hebraica, entendo que o vers?culo 2 ganha maior sentido quando proclamado no interst?cio do v. 1, pois o v. 1b tem a sua sequ?ncia narrativa no v. 3; outrossim, transliterei as refer?ncias ? divindade (?Eloh?m = Deus ou, literalmente, "deuses"; Yhwh = Jav?) e n?o ignorei o sinal interrogativo do v. 4 (halo?):


v. 1a Diz o insensato em seu cora??o:


"N?o h? ?Eloh?m".


v. 2 Jav? olha dos c?us


para ver se h? algu?m perspicaz


que busque a ?Eloh?m:


v. 1b Eles provocam ru?na, cometem atos abomin?veis.


N?o h? um que fa?a o bem.


v. 3 Cada um ? extraviado,


est?o todos corrompidos.


N?o h? um que fa?a o bem,


n?o h? um ?nico.


v. 4 Acaso n?o t?m conhecimento, todos os malvados,


que devorando meu povo comem seu p?o?


Eles n?o invocam Jav?.


 


      Este canto "para o regente de coral" (lamnasseah) ? uma liturgia prof?tica reflexiva, fala do malvado como algo inaceit?vel; n?o tem rela??o com o Salmo 53 apesar de alguma semelhan?a sint?tica e, diferente de outros salmos (12.8; 75.10-11), n?o se dirige a toda a comunidade mas a pequenos grupos religiosos.


      A liturgia come?a com uma queixa; traz como motivo a antecipa??o da liberta??o dos jur?dica e economicamente fracos, e pode ser interpretado como uma forma dram?tica da seguran?a de salva??o.


      Ao contr?rio do culto pessoal praticado pelos potentes, a espiritualidade de "meu povo" (?am?) consiste em devolver ?s v?timas das opress?es sua dignidade e sua esperan?a na vida. O nosso canto ? experi?ncia de gente!


 


A matriz do canto


 


      ? margem e ao l?u da vida brota uma sensa??o de impot?ncia, mas nas s?plicas e no desejo contra os opressores n?o h? ressentimento; temos, na verdade das coisas, o registro da sociedade por quem obstinadamente resiste e n?o pode se conformar com a situa??o de priva??o de direitos.


      Quando a gente marginalizada resiste conscientemente aos desmandos dos potentes, a sua desobedi?ncia civil e o seu enfrentamento ganham um aliado em Jav?, o Deus salvador. Antes de qualquer protesto Ele exclui o nome dos opressores do "livro dos vivos" (cf. Sl 69.29a: yimmah? miss?fer hayy?m). S?o inaceit?veis as rela?es de sujei??o pol?tica e social; portanto, h? intr?nseco ao canto um "envio" ? recupera??o dos direitos indevidamente apropriados. Jav? toma posi??o em favor de "meu povo" simultaneamente em que mostra que a situa??o de mis?ria n?o ? sinal de abandono divino; na verdade, o "fraco" ? o verdadeiro povo de Deus (v. 4).


 


Interpreta??o do canto


 


      O v. 1 ? radical e orienta uma conduta moral e ?tica: o princ?pio da sensatez ? temer a Jav?. A quest?o consiste em negar ou buscar o Deus vivo; aos que negam a exist?ncia de Jav? e, por isso mesmo, tentam devorar "meu povo" resulta pavor, sendo que o seu pr?prio nome nabal (insensato) os avalia.


      O que Jav? v? dos c?us? O v. 2 registra: uma sociedade pr?-diluviana (v. 1b, 3-4; cf. G?nesis 6.5,11,12; 8.21), com pessoas execr?veis, que n?o fazem o bem; especificamente: cometem injusti?as contra o povo de Deus.


      O v. 3 tra?a um balan?o deprimente: inexist?ncia de gente de bem entre os potentes. O ap?stolo Paulo interpretou este Salmo 14 ? luz de lugares por onde andou (cf. Romanos 3.10-18). Ao realizarmos o mesmo exerc?cio tornamos coet?neas as imemoriais a?es libertadoras, ainda que os potentes da sociedade atual tenham sofisticado os antigos instrumentos de escravid?o e morte social.


      A liturgia especifica a fala de Jav?, pode-se ouvi-la nos v. 4-6. H? no v. 4 a caracteriza??o daqueles/as que negam a exist?ncia do Deus salvador atrav?s das suas maldades: operadores do mal e devoradores de meu povo; eles devoram o que n?o lhes pertence, a vida do "fraco", como se comessem p?o e n?o invocam a Jav?. Acrescentaria ao v. 4 in?meras interven?es sociais reveladoras da avalia??o b?blica negativa contra atitudes insensatas (p. ex.: N?meros 12; Am 9.7 [contra o racismo e em favor do povo da pele preta]; N?meros 27.1-11 [contra a discrimina??o de g?nero]; Deuteron?mio 15.12-15 [indeniza??o ao escravo pelos anos de escravid?o]; Ju?zes 19 [em favor do imigrante]; 1Reis 21 [em favor da heran?a do campesino]; Isa?as 10.1-2 [em favor do direito do pobre]; Am?s 2.6-8; 6.1-7 [em favor da liberdade e do bem-estar do pobre]; Jeremias 34.8-22 [protesto contra a escravid?o]; Neemias 5.1-12 [em favor do perd?o de d?vidas e do direito ? terra de cultivo]; Malaquias 3.5 [em favor do sal?rio do trabalhador]), mas basta a den?ncia do nosso canto – realizada em santu?rio estatal, portanto corajosamente subversiva. Assim a pergunta indignada continua sem resposta: "Acaso n?o t?m conhecimento…?".


      Onde ? o lugar de Jav?, o Deus salvador? Ei-lo nos v. 5-6: Seu lugar ? na hist?ria de todas as gentes, especialmente entre as que sofrem injusti?as. O alcance da den?ncia e as possibilidades de salva??o impossibilitam restringir o "ref?gio" ao santu?rio (p. ex.: 1Reis 1.50-53; 2.28-30). A teofania/epifania de Jav? acontece "L?" (o v. 5 inicia com o adv. de lugar xam), na gera??o dos justos (sadd?q), a quem Ele se manifesta como ref?gio e onde evita a ru?na do plano do oprimido (?an?); mas tamb?m a teofania/epifania de Jav? acontece onde fracassam os ataques dos insensatos contra "meu povo" e onde Ele os infunde pavor. A salva??o acontece na terra em que vivemos.


      "L?, no meio daqueles que se presumiam entregues ? arbitrariedade, aparece a presen?a de Deus, justamente do Deus que eles supunham estar longe do fazer humano, mas ? na verdade o ref?gio dos oprimidos." (Martin Buber)


      Tamb?m na g?lah (v. 7) h? esperan?a e salva??o para "meu povo", o povo de Jav?.


 


Li?es do Salmo 14


 



  1. O estado do mundo tem sua causa no agir dos insensatos;

  2. Com o v. 5, entendemos que o lugar de Jav? ? "l?", onde o oprimido sofre – em um mundo que parece sem Deus, Jav? est? "na" gera??o do justo;

  3. Devemos converter a nossa vida religiosa em autoafirma??o salvadora, pois na f? h? for?a de liberta??o.

      Neste estudo por vezes estive em di?logo com F. Cr?semann (C?non e hist?ria social), R. Albertz (Historia de la religi?n de Israel en tiempos del Antiguo Testamento, vol. I) e L. Alonso Sch?kel & C. Carniti (Salmos, vol. I). Por fim, assinalo que a pedagogia do nosso canto ser? adequadamente assimilada ao som das qualidades exigidas por Jav? para nos tornarmos "meu povo", canonizadas logo a seguir, no Salmo 15:


v. 1 Jav?, quem pode abrigar em tua tenda?


Quem pode habitar em teu monte santo?


v. 2 Aquele de conduta perfeita e ato justo,


e que fala (a) verdade em seu cora??o.


v. 3 N?o calunia com sua l?ngua,


n?o faz ao seu pr?ximo mal


e n?o p?e difama??o sobre seu vizinho.


v. 4 O que tem por desprez?vel em seus olhos o que ? vil,


e aos fi?is de Jav? honra;


promete por dano pr?prio e n?o deixa de cumprir.


v. 5 Seu dinheiro n?o d? em juro


e suborno contra o inocente n?o aceita.


Aquele que age assim n?o fracassar? jamais.


 


Revdo. Jo?o Batista Ribeiro Santos, biblista e pastor da Igreja Metodista na 3? R.E.


jj.batist@gmail.com

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