memória e esperança






   

"Quero trazer ? mem?ria o que me pode dar esperan?a" (Lamenta?es 3.21)


A partir dessas palavras escritas, o autor muda seu discurso radicalmente. Mas por qu?? Que for?a ? esta capaz de mudar o ?nimo de quem estava completamente desolado? A primeira quest?o ? esta:


1 "A Mem?ria ? subversiva".[1]


Esta frase de Rubem Alves diz muito a todos n?s. Se tem algo que uma ditadura, seja de que tipo for, mais teme ? a mem?ria de um povo. Santo Agostinho, ao escrever "Confiss?es", dedicou o cap?tulo 8 para falar sobre "O milagre da mem?ria". E ele diz em determinado trecho que: "No pal?cio da mem?ria encontro comigo mesmo, recordo de mim e de minhas a?es, de seu tempo e lugar, e dos sentimentos que me dominavam ao pratic?-las". O profeta de Lamenta?es estava em meio a um cen?rio de dor e destrui??o, requerendo de si mesmo uma imagem que relembrasse a Jerusal?m gloriosa, talvez uma Jerusal?m que nem ele mesmo tivesse visto, mas que lhe contaram no decorrer de seus anos. H? uma chama na lembran?a que n?o pode ser apagada. Alguns v?o dizer que ? saudosismo, que quem vive de passado ? museu, mas n?o. ? a hist?ria, hist?rias de conquistas, de alegrias, mas tamb?m de derrotas e tristezas.


Durante o per?odo do regime militar no Brasil, o que mais tentaram fazer com o povo brasileiro ? apagar a sua mem?ria. Passaram uma imagem de progresso industrial e econ?mico que o Brasil nunca teve. Mega-ind?strias, grandes obras que come?aram, mas nunca terminaram…? como se dissessem: Esque?am tudo o que foi feito, temos algo novo! Para que reviver o passado? E parece que por um tempo vivemos dessa forma…esquecidos de quem somos, de nossas origens e adotamos a ditadura cultural, econ?mica e pol?tica de outros pa?ses. Alguns chegaram ao c?mulo de esquecer as atrocidades da ditadura militar e desejar a sua volta, chegaram a nomear um torturador dentro de um governo "democr?tico". At? o Deus dos oprimidos foi apagado da mem?ria. Mas, como diz Rubem Alves, a Mem?ria ? subversiva! Ela ? rebelde, porque quando ela vem ? para dizer que as coisas n?o precisam ser do jeito que s?o. Por isso, a maioria dos governantes teme a mem?ria… Volto aqui a citar Santo Agostinho: Na mem?ria est?o todas as lembran?as do que aprendi, quer pelo testemunho alheio, quer pela experi?ncia.Talvez haja lembran?as n?o muito agrad?veis, mas quem disse que s? o sucesso ? que traz li?es? Pela mem?ria chegamos a lugares que n?o vemos h? anos, recordamos a?es corajosas e err?neas de outrora… "Quero trazer ? mem?ria…" J? clamava o profeta solit?rio nas ruas desertas de Jerusal?m… "O que me pode dar esperan?a"…


2 O Sentido da Vida ? a Esperan?a.


A mem?ria traz a tona um sentimento que ? teimoso: A esperan?a. Esperan?a ?, no meu entender, a vontade de viver, lutar e ver as mudan?as acontecerem. O cen?rio catastr?fico que vivemos nesse inicio de s?culo ? desanimador, mas esse sentimento insistente chamado "esperan?a" continua muito vivo e ativo. E mais ainda, o desejo incontrol?vel de n?o ser um mero espectador esperan?oso, mas sim, de ser um colaborador esperan?oso. Por isso o profeta solit?rio de Lamenta?es muda seu discurso, ele recorda, e enche-se de esperan?a… seria ir?nico um homem no meio de uma total destrui??o falar que "as miseric?rdias do Senhor se renovam a cada manh?". Mas n?o ? ironia! Esta ? a esperan?a que brota da mem?ria, da gratid?o, do sofrimento…


Conhecemos uma fam?lia em que a senhora ? membro de uma denomina??o evang?lica e o marido, que j? foi membro tamb?m e hoje est? afastado, ? escravo do alcoolismo h? quase 25 anos. Estive na primeira visita e fiquei impressionado com o estado de mis?ria em que vive aquele casal. Por?m, fiquei mais impressionado foi com as palavras daquela mulher que a toda hora dizia: O Senhor Deus est? sempre comigo! Isto ? esperan?a! E n?o essas promessas inconseq?entes promulgadas por essa aberra??o chamada "teologia da prosperidade". Como explicar um ser humano no mais absoluto estado de pobreza, ainda exclamar: Deus est? comigo! ? como tentar explicar como um profeta, em meio ? ru?nas do que um dia foi seu lar, ter a coragem de dizer: "As miseric?rdias do Senhor se renovam a cada manh?!" N?o h? explica??o! ? a f? que brota da esperan?a! F?, n?o conformismo…porque algumas vezes esquecemos que os pobres, n?s pobres, tamb?m sonhamos… tamb?m lutamos para mudar uma realidade. E transforma?es come?am com a esperan?a.


H? uma cita??o da Igreja Anglicana em uma das suas campanhas anuais que acho simplesmente maravilhosa, diz assim: "Eu acredito na vida antes da morte". Isto ? esperan?a! Acreditar na vida sempre, acreditar em mudan?a sempre, acreditar que ainda h? sonhos a serem sonhados, que ainda h? objetivos a serem alcan?ados. Acreditar que a Igreja de Cristo ainda ? instrumento para mudan?a. N?o com um discurso de que s? "no c?u vamos ter a nossa recompensa", mas pe?o a Deus que ainda em vida eu possa participar e ver sinais reais de mudan?as aqui neste mundo criado e amado por Ele. "Quero trazer ? mem?ria, o que me pode dar esperan?a!".


Conclus?o


Atrav?s da for?a da mem?ria alcan?amos o poder da esperan?a. A esperan?a nasce no presente para se consumar no futuro. A Ceia e a Ressurrei??o do Senhor s?o as mem?rias e a vit?ria da Vida sobre os poderes da morte. Esperar no Senhor, como o profeta de Lamenta?es, ? enxergar sinais de vida nas atua?es da morte. E mais do que isso, fazer esses sinais serem vistos pelo Seu povo. Outro dia disseram que isso ? ser sonhador demais. Mas, eu fico novamente com Rubem Alves: "? mais belo o risco ao lado da esperan?a que a certeza ao lado de um Universo frio e sem sentido…"


Que Deus nos aben?oe!






[1] Frase citada por Rubem Alves


Rev. Ant?nio Carlos Soares dos Santos, Igreja Metodista em Altamira, Par?.


 


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