"Orai pela paz da cidade, porque na sua paz, v?s tereis paz." (Jeremias 29.7)
A Igreja Metodista reunida nos dias 10 a 16 de julho de 2006, na cidade de Aracruz, ES, com representantes de todo o Pa?s, vem declarar, por meio desta carta de solidariedade e amor, nossos sentimentos e anseios em rela??o ? onda de viol?ncia que invade o nosso Brasil e que, de modo especial, se abate sobre a capital e demais cidades do Estado de S?o Paulo, sob a a??o criminosa do primeiro comando da capital (PCC). Choramos juntamente com as fam?lias das pessoas que atuam nos pres?dios e que se sentem ca?adas nas ruas e pra?as; pelas v?timas inocentes pegas em meio ? viol?ncia que toma ruas e invade casas, pela popula??o amedrontada e ref?m dessas a?es de morte.
A viol?ncia nasce das desigualdades humanas e ? um insulto a Deus. Ela est? hoje presente de modo mais marcante nas grandes capitais, mas nem mesmo as cidades interioranas escapam ? sua a??o. A popula??o n?o acredita mais nas institui?es p?blicas, tais como o governo, a pol?cia e a pr?pria sociedade como um todo.
A luta contra a viol?ncia ? uma luta de todos os segmentos da sociedade. ? preciso venc?-la em sua esfera dom?stica, econ?mica e social. Cremos que uma nova ordem mundial ? poss?vel e grande parte desse projeto est? baseada na a??o cidad? ativa e n?o na mera expectativa. Esperar a a??o somente dos poderes constitu?dos tem-se mostrado um caminho ineficiente. A popula??o precisa ser co-autora deste projeto de vida, unindo-se e munindo-se com as ferramentas do amor, da paz e do bem.
Jesus Cristo, em seu Evangelho, nos afirma: "A minha paz vos dou" (Jo?o 14.27). O Reino de Deus e sua justi?a s?o o ponto de partida para alcan?ar o verdadeiro estado de paz. Jesus ? nossa maior seguran?a. Achegar-nos a Ele ? o caminho para aprendermos valores que constroem, que unem, que se erguem contra as injusti?as e separa?es, promovendo a verdadeira paz e o bem-estar pleno que v?m de Deus. Nele, por meio da ora??o, tamb?m obtemos o socorro divino. De fato, n?o h? casos perdidos para Jesus.
Vencer a viol?ncia significa superar e vencer suas causas. A m? distribui??o de renda e uma estrutura econ?mica que amplia as separa?es entre ricos e pobres; a educa??o p?blica e tamb?m privada sem a preocupa??o fundamental de educar para a vida; o desemprego e os baixos sal?rios que aumentam a economia informal e for?am os aposentados a se tornarem os respons?veis pela manuten??o da casa, com poucos recursos; as crian?as e adolescentes que s?o aliciados pela rede do tr?fico de drogas; a viol?ncia dom?stica; o abandono de pessoas que vivem nas ruas; o aumento do consumo de drogas e suas diversas conseq??ncias; o turismo sexual de crian?as e adolescentes, o tr?fico de seres humanos e sua escraviza??o em trabalhos clandestinos; a desumaniza??o dos pres?dios e cadeias que em nada contribuem para a reinser??o das pessoas na sociedade; a inseguran?a com que se vive nas cidades; a falta de acesso aos servi?os adequados de sa?de p?blica; a destrui??o causada pelas grandes empresas ao meio-ambiente e ?s popula?es ind?genas e ribeirinhas s?o alguns dos muitos desafios que temos diante de n?s.
Ao mesmo tempo, j? existem entre n?s muitas a?es em favor da vida. A Igreja Metodista, por exemplo, atende 2.100 crian?as por dia em seus projetos sociais na cidade de S?o Paulo. Tamb?m s?o acolhidos 350 moradores de rua e centenas de mulheres nas mais diversas atividades sociais, de cidadania e de f?. Em cada bairro, muitas a?es semelhantes podem ser encontradas. H? focos de esperan?a em nosso meio. Devemos localiz?-los, contribuir com eles, estimul?-los e faz?-los crescer, de modo a alcan?ar o todo da nossa sociedade.
Quanto aos nossos governos, por outro lado, esperamos uma postura digna e eficiente. Entre as coisas que o Senhor abomina, est?o "m?os que derramam sangue inocente, cora??o que trama projetos in?quos" (Prov?rbios 6.16-17). A dor das pessoas que choram por causa da viol?ncia sobe a Deus e Ele h? de cobrar isso dos que exercem a autoridade para mudar a situa??o. Deus recomenda ?s autoridades por meio de sua Palavra: "Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justi?a aos pobres e aos necessitados." (Prov?rbios 31.8-9). A sociedade brasileira em geral, e a sociedade paulista em particular, n?o espera menos de seus governantes.
Jesus chorou sobre Jerusal?m, dizendo: "Ah, se tu conhecesses tamb?m, o que ? tua paz pertence!" (Lucas 19.42). Ele igualmente chora sobre nossas cidades hoje e pode efetivamente consol?-las. Cabe ao povo de Deus responder a esta realidade em nome de Jesus Cristo, sob o poder do Esp?rito Santo, que nos ungiu para "apregoar o ano aceit?vel do Senhor" (Isa?as 61.2), isto ?, o tempo de acontecerem coisas boas para a vida, e a boa-nova da salva??o.
Pequenos tijolos constroem grandes pontes. Pequenas a?es levam a grandes mudan?as. Cada comunidade pode e deve fazer pequenos sinais e a?es de paz, que despertem a todos para a necessidade de supera??o desta realidade: uso de cores e s?mbolos como o verde e o branco, para sinalizar paz e esperan?a; vig?lias, passeatas, caminhadas e ora?es pela paz em templos e pra?as p?blicas; cartas ?s autoridades cobrando mudan?as e propondo id?ias; realizando campanhas que conscientizem sobre a import?ncia do voto, especialmente neste ano eleitoral. E de forma especial, usar o dom da voz para consolar, anunciar o bem e denunciar o mal. S?o algumas medidas que j? est?o ao nosso alcance. Muito mais poderemos fazer na criatividade da viv?ncia de cada um, cada uma.
"Eu ? que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor. Pensamentos de paz, e n?o de mal, para vos dar o fim que desejais." (Jeremias 29.11).
Assim seja, d?-nos tua paz, venha teu reino, Senhor!
Bispo Jo?o Alves de Oliveira F?
Presidente do 18? Conc?lio Geral
