Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 04/03/2011

O Discurso do Rei

Amo as palavras, vivo entre elas, sou mais uma das muitas pessoas que fora e dentro do trabalho tem as palavras por toda parte. Em uma sexta-feira fui, em silêncio, ouvir e ver “o discurso do rei”. Silencioso, profundo, lento, incisivo, como as palavras são quando nos propiciam refletir sobre a vida, sobre a prática além da teoria.

A velha dicotomia entre a prática e a teoria, sobre isso, também, fala o filme. Afinal de contas, nobres são nobres, nascem feitos, remediados. Falibilidades plebeias como gagueira, medo, amores não regulados, não podem ilustrar o cenário da nobreza. No entanto, há um duque gago, há um príncipe que ama uma mulher que não tem nada de “nobre”, há uma duquesa que governa a vida do duque.

No mundo plebeu, as coisas não estão tão certinhas também, há um ator frustrado que não consegue atuar nos palcos teatrais, mas faz da vida a sua melhor atuação, pois nela se dispõe a ajudar pessoas e, mais do que isso, consegue enxergar reis, a despeito de títulos, como pessoas e ousa tratá-los assim.

Um duque que precisa descer do trono, rolar no chão, falar palavras não ditas pela realeza, para tornar-se um rei que consiga falar ao seu povo e para o seu povo. Uma mulher sagaz que desconfia da ortodoxia caduca da nobreza e ousa ao encontrar entre os plebeus alguma novidade, um fonoaudiólogo que além de cuidar da forma preocupa-se com a reforma do discurso e o conteúdo de quem o profere, são essas, para mim, as principais orações do filme.

O que o filme me diz e o que posso dizer do filme?
Deparar-me com esse filme foi encontrar-me com a possibilidade de refletir sobre as mazelas que em nós estão e que merecem atenção e cuidado no sentido de serem superadas, e muitas vezes para isso, é preciso sair das clausuras do formalismo e da vaidade em que nós mesmos nos colocamos e enxergar as nossas dificuldades, não para contemplá-las ou nos comiserarmos.  É preciso sair ao encontro. Isso é perigoso, admito, pois dependendo de quem encontramos, é possível que queiramos nos enclausurar ainda mais.

O Verbo se fez carne e habitou entre nós. É a palavra que se fez gente, que habita entre nós com graça, bondade, verdade e com o desejo imenso de nos encontrar e nos ajudar a “saber dizer”. É ao encontro dEste que podemos ir sem medo e até mesmo, sem palavras. Pois ele sabe do que precisamos antes mesmo que o peçamos.

Jesus Cristo, o verbo encarnado, o encontro da teoria e da prática nos possibilita recomeçar, superar, se arrepender, tornar a dizer, nos possibilita não só falar, mas fazer, não só amar, mas mais amar. E dizê-lo. Coisa rara hoje em dia.

Bom filme!


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