Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Padilha

Celebração da amizade 

Os 70 anos de Anivaldo Padilha

O que vale é a amizade

Foi sempre o que a gente fez

E por essa amizade

Eu faço tudo outra vez

             A estrofe da canção de Lennon e McCartney, entoada com idioma e entusiasmo brasileiros, ecoou na Igreja Metodista de Vila Mariana como um testemunho. Na comemoração dos 70 anos de vida de Anivaldo Padilha, dia 19 de junho, o templo paulistano estava lotado de amigos e amigas da longa caminhada de fé do jovem mineiro que se tornou cosmopolita e uma referência no movimento ecumênico internacional. 

            Grande parte da história metodista no Brasil estava ali representada em carne, osso, abraços e sorrisos: Paulo Ayres, o amigo de cinqüenta anos que faz dispensar o título de bispo; Zeni de Lima Soares, primeira presbítera metodista, ao lado do marido, pastor Sérgio Marcus Pinto Lopes; pastores Társis Prado e Tércio Siqueira; o radialista Moisés da Rocha, à frente do Coral Resistência de Negros Evangélicos; Bispo Stanley Moraes; Liséte Espíndola, ao piano...  O Rev.Edson César da Silva, pastor da Igreja anfitriã, notou que ali havia, também, um encontro de gerações. Afinal, jovens "velhos amigos" também se reuniram para celebrar o dom da vida, o compromisso com a história e a esperança de justiça que Anivaldo Padilha representa e inspira.

            As primeiras palavras de Anivaldo foram de agradecimento. Agradeceu inicialmente pelo dom da vida, privilégio nos anos 40, tempos duros que ceifaram oito de seus nove irmãos antes que completassem três anos de idade; milagre nos anos 70 para as vítimas da tortura nas prisões militares. Agradeceu à Igreja e aos amigos, que lhe deram valores e bases sólidas e, também, a possibilidade de constante renovação. Agradeceu aos irmãos e irmãs do movimento ecumênico e da luta por direitos humanos, dos quais, sempre com o risco de ocultar vários nomes, se poderia destacar Eliana Rolemberg, diretora executiva da CESE, Coordenadora Ecumênica de Serviço, vinda diretamente de Salvador; Elza Lobo, presidente da Ação Solidária Madre Cristina; Mara Luz, responsável pela Região Brasil da Christian Aid, organização diaconal das igrejas protestantes e Anglicana do Reino Unido; Darli Alves, secretário regional  do Conselho Latino Americano de Igrejas; Dermi Azevedo, coordenador do Projeto Memória, da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo e os companheiros da organização KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço, onde Anivaldo atua: Ester Lisboa, Ideraldo Beltrame e Marilia Schüller.  E finalmente, deu graças pela família: a esposa Vera, os filhos Alexandre, Celso e Paulo, a filha Mariana e a netinha Flora.

            Então, ao som da belíssima "Gracias a la vida" todos começaram a assistir a uma coleção de memórias que era, também, um resgate da história recente do país. Nas fotos projetadas, imagens que remontavam ao nascimento de Anivaldo, em 11 de junho de 1940, em São Pedro da União, Minas Gerais; ao marcante aprendizado na Escola Dominical e à participação na Juventude Metodista, que lhe despertaram a sede de justiça e a fé necessária para buscá-la. Anivaldo agradeceu por ter pertencido a uma geração "que não se conformou com este século" e "não se calou perante à tirania".

            As lembranças das décadas de 60 e 70 foram relacionadas a imagens tristes, de censuras, prisões e mortes, sobre as palavras pungentes entoadas por Chico Buarque: "Pai, afasta de mim este cálice, de vinho tinto de sangue".  Mas o testemunho de Anivaldo também nesse momento foi de gratidão: "Agradeço Deus por ter me acompanhado no vale da sombra da morte e ter me trazido de novo à plenitude da vida".

            Preso em 1970, ele seria exilado em 1971. Esteve no Chile, Argentina, México, Estados Unidos e Suíça, sede do Conselho Mundial de Igrejas. Agradeceu à comunidade ecumênica internacional que o ajudou a reconstruir a vida. Deu graças, também, pelo reencontro com seu país, proporcionado pela Anistia. "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes", diz o Salmo 126.5-6. Anivaldo Padilha vivenciou essa passagem da Bíblia. Ao voltar ao Brasil, seu primeiro filho, Alexandre - que ele não vira nascer - já estava com oito anos de idade.  Ele pôde, então, conviver com o primogênito e com os filhos Celso e Paulo, que nasceram no exílio.

Texto e foto Suzel Tunes

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